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GUERRA SEM LIMITES
Pesquisas indicam que americanos concordam em perder algumas liberdades civis na "guerra contra o terror"
79% nos EUA trocam direitos por segurança
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Duas pesquisas divulgadas ontem e anteontem dão conta de que a maioria dos americanos ouvidos está disposta a sacrificar algumas liberdades e direitos civis em troca de mais segurança no combate ao terrorismo.
Você acha que é mais importante neste momento o FBI (polícia
federal) investigar possíveis
ameaças terroristas, mesmo invadindo a sua privacidade? Segundo
a mais recente pesquisa, encomendada pelo jornal "The Washington Post" e pela rede de TV
CBS, 79% dos ouvidos responderam sim à pergunta.
No mesmo levantamento, feito
por telefone de 7 a 9 de junho com
1.004 adultos do país todo, 64%
apóiam as recentes medidas
anunciadas pelo secretário da Justiça ampliando os poderes do FBI
no tocante a monitorar espaços
públicos e reuniões religiosas.
Paradoxalmente, a maioria
(61%) também acredita que as
mesmas medidas ferem bastante
ou um pouco o direito de privacidade, mas não parece se importar
com isso. Como as questões eram
inéditas, não há uma média histórica com a qual os resultados de
ontem possam ser comparados.
Outra pesquisa, desta vez realizada pelo instituto Gallup em parceria com a Universidade de
Oklahoma, cidade-palco de ataque terrorista realizado pelo americano Timothy McVeigh em
1995, chega a conclusões parecidas, se não mais eloquentes. De
acordo com o estudo, 78% dos
ouvidos estão dispostos a abrir
mão de certas liberdades para ganhar mais segurança.
Entre estes, 30% são a favor de
facilitar o acesso das autoridades
a e-mails e conversas telefônicas e
71% apóiam a exigência de carteira nacional de identificação contendo impressão digital para todos os cidadãos dos EUA (medida
anticonstitucional que vem sendo
aventada pelo governo).
O estudo ouviu 2.519 adultos
em abril e maio últimos nas cidades de Nova York, Washington e
Oklahoma, todas vitimadas por
ataques terroristas nos últimos
anos. "Há uma sensação generalizada de "não-segurança" entre a
população, que parece ter atingido um ponto crítico segundo o
qual vale a pena abrir mão de certas liberdades conquistadas em
nome de mais conforto", disse à
Folha Elaine H. Christiansen, diretora de pesquisa do Gallup.
Segundo a pesquisadora, os resultados de ontem dão um salto
em relação ao único registro anterior feito pelo instituto: em 1979,
apenas 59% dos norte-americanos concordavam que "algumas
vezes é justificável limitar as liberdades civis para deter o terror".
Indagada se achava que os dois
resultados poderiam dar uma espécie de carta-branca para que a
administração de George W.
Bush endureça ainda mais o combate ao terrorismo, a pesquisadora foi taxativa: "De jeito nenhum.
O resultado mostra que a população está disposta a algumas concessões apenas".
Não é o que pensam ONGs defensoras de direitos individuais,
lideradas pela União Americana
de Liberdades Civis. A entidade se
manifestou contra maneira como
o governo agiu na prisão de Abdullah al Mujahir/Jose Padilla,
acusado anteontem de planejar
atentado com "bomba suja".
"São os terroristas que ameaçam a liberdade, a igualdade, a
dignidade humana e mesmo a
existência da humanidade", respondeu o secretário da Justiça,
John Ashcroft, durante visita a
Budapeste (Hungria).
Ontem ainda, o governo Bush
acusou mais um golpe, desta vez
desferido pelos parentes das vítimas dos ataques de setembro, que
anunciaram, num protesto em
Washington, que exigirão a criação de uma comissão independente para investigar por que os órgãos de segurança falharam ao prevenir o sequestro de aviões.
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