São Paulo, quarta-feira, 12 de junho de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Pesquisas indicam que americanos concordam em perder algumas liberdades civis na "guerra contra o terror"

79% nos EUA trocam direitos por segurança

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Duas pesquisas divulgadas ontem e anteontem dão conta de que a maioria dos americanos ouvidos está disposta a sacrificar algumas liberdades e direitos civis em troca de mais segurança no combate ao terrorismo.
Você acha que é mais importante neste momento o FBI (polícia federal) investigar possíveis ameaças terroristas, mesmo invadindo a sua privacidade? Segundo a mais recente pesquisa, encomendada pelo jornal "The Washington Post" e pela rede de TV CBS, 79% dos ouvidos responderam sim à pergunta.
No mesmo levantamento, feito por telefone de 7 a 9 de junho com 1.004 adultos do país todo, 64% apóiam as recentes medidas anunciadas pelo secretário da Justiça ampliando os poderes do FBI no tocante a monitorar espaços públicos e reuniões religiosas.
Paradoxalmente, a maioria (61%) também acredita que as mesmas medidas ferem bastante ou um pouco o direito de privacidade, mas não parece se importar com isso. Como as questões eram inéditas, não há uma média histórica com a qual os resultados de ontem possam ser comparados.
Outra pesquisa, desta vez realizada pelo instituto Gallup em parceria com a Universidade de Oklahoma, cidade-palco de ataque terrorista realizado pelo americano Timothy McVeigh em 1995, chega a conclusões parecidas, se não mais eloquentes. De acordo com o estudo, 78% dos ouvidos estão dispostos a abrir mão de certas liberdades para ganhar mais segurança.
Entre estes, 30% são a favor de facilitar o acesso das autoridades a e-mails e conversas telefônicas e 71% apóiam a exigência de carteira nacional de identificação contendo impressão digital para todos os cidadãos dos EUA (medida anticonstitucional que vem sendo aventada pelo governo).
O estudo ouviu 2.519 adultos em abril e maio últimos nas cidades de Nova York, Washington e Oklahoma, todas vitimadas por ataques terroristas nos últimos anos. "Há uma sensação generalizada de "não-segurança" entre a população, que parece ter atingido um ponto crítico segundo o qual vale a pena abrir mão de certas liberdades conquistadas em nome de mais conforto", disse à Folha Elaine H. Christiansen, diretora de pesquisa do Gallup.
Segundo a pesquisadora, os resultados de ontem dão um salto em relação ao único registro anterior feito pelo instituto: em 1979, apenas 59% dos norte-americanos concordavam que "algumas vezes é justificável limitar as liberdades civis para deter o terror".
Indagada se achava que os dois resultados poderiam dar uma espécie de carta-branca para que a administração de George W. Bush endureça ainda mais o combate ao terrorismo, a pesquisadora foi taxativa: "De jeito nenhum. O resultado mostra que a população está disposta a algumas concessões apenas".
Não é o que pensam ONGs defensoras de direitos individuais, lideradas pela União Americana de Liberdades Civis. A entidade se manifestou contra maneira como o governo agiu na prisão de Abdullah al Mujahir/Jose Padilla, acusado anteontem de planejar atentado com "bomba suja".
"São os terroristas que ameaçam a liberdade, a igualdade, a dignidade humana e mesmo a existência da humanidade", respondeu o secretário da Justiça, John Ashcroft, durante visita a Budapeste (Hungria).
Ontem ainda, o governo Bush acusou mais um golpe, desta vez desferido pelos parentes das vítimas dos ataques de setembro, que anunciaram, num protesto em Washington, que exigirão a criação de uma comissão independente para investigar por que os órgãos de segurança falharam ao prevenir o sequestro de aviões.



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