|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
García, do Peru, se cacifa como anti-Chávez
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
O presidente peruano, Alan
García, estaria convencido de
que Hugo Chávez e Evo Morales dão curso a uma estratégia
de levante indígena nos Andes.
Já manifestou-o em conversa
com um colunista do "Miami
Herald". Não sob a forma de
guerrilha, mas a partir de movimentos "afirmativos" e ações
de inserção social.
Há algum tempo, calculou-se
que existem no Peru cerca de
200 Casas de Alba, um dos instrumentos do bolivarianismo
de Chávez. Elas se declaram entidades humanitárias, mas García fala de "intervenção estrangeira", jornais conservadores
peruanos denunciaram a presença de "instrumentos de penetração ideológica" e os partidos de esquerda contra-atacam
alegando "paranóia fascista".
O "La Primera", de Lima, de
centro-esquerda, afirma que o
governo do Peru criou um "grupo informal" cuja tarefa é "neutralizar protestos populares",
espécie de esquadrão da morte.
Ele já teria atuado em uma greve de agricultores de Ayacucho,
na qual morreram três camponeses, e em protestos em Cusco
contra o governo. O Congresso
investiga as Casas de Alba.
É questão que incorpora elementos presentes num debate
de dimensão latino-americana.
A Alba (Alternativa Bolivariana
para os Povos de Nossa América), liderada pela Venezuela, de
onde vem a inspiração para as
"Casas", procura tornar-se
contraponto à Alca (Área de Livre Comércio das Américas),
que saiu de pauta mas foi substituída por uma série de acordos bilaterais entre os Estados
Unidos e países da região.
O Peru começa a ser destacado como espécie de modelo de
superioridade desses acordos,
motivo de ataques de Chávez. O
tratado com o Peru já foi ratificado no Congresso americano,
e o país é hoje descrito como
"estrela ascendente" da região.
Nos últimos anos, o PIB peruano cresceu 6% em média. No
ano passado, foi a 8,2%, muito
acima da média regional.
Nas palavras do vice-presidente Luis Gianpieri, o Peru
"veste calças compridas e ingressa nas ligas majoritárias do
comércio internacional". O Peru tornou-se o pais do futuro,
segundo Andrés Oppenheimer,
do "Miami Herald". Os investimentos estrangeiros aumentaram de US$ 810 milhões em
2000 para US$ 3,5 bilhões em
2006. Aí estariam respostas de
peso a "modelos revolucionários". Há, no entanto, um dado
pouco contabilizado. A pobreza
ainda martiriza 48% da população, segundo dados oficiais.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de
questões internacionais
Texto Anterior: Americanas Próximo Texto: Gaza sob pressão: Israel suspende preparativos de megaoperação Índice
|