São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2008

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ARTIGO

García, do Peru, se cacifa como anti-Chávez

NEWTON CARLOS ESPECIAL PARA A FOLHA

O presidente peruano, Alan García, estaria convencido de que Hugo Chávez e Evo Morales dão curso a uma estratégia de levante indígena nos Andes.
Já manifestou-o em conversa com um colunista do "Miami Herald". Não sob a forma de guerrilha, mas a partir de movimentos "afirmativos" e ações de inserção social.
Há algum tempo, calculou-se que existem no Peru cerca de 200 Casas de Alba, um dos instrumentos do bolivarianismo de Chávez. Elas se declaram entidades humanitárias, mas García fala de "intervenção estrangeira", jornais conservadores peruanos denunciaram a presença de "instrumentos de penetração ideológica" e os partidos de esquerda contra-atacam alegando "paranóia fascista".
O "La Primera", de Lima, de centro-esquerda, afirma que o governo do Peru criou um "grupo informal" cuja tarefa é "neutralizar protestos populares", espécie de esquadrão da morte.
Ele já teria atuado em uma greve de agricultores de Ayacucho, na qual morreram três camponeses, e em protestos em Cusco contra o governo. O Congresso investiga as Casas de Alba.
É questão que incorpora elementos presentes num debate de dimensão latino-americana.
A Alba (Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América), liderada pela Venezuela, de onde vem a inspiração para as "Casas", procura tornar-se contraponto à Alca (Área de Livre Comércio das Américas), que saiu de pauta mas foi substituída por uma série de acordos bilaterais entre os Estados Unidos e países da região.
O Peru começa a ser destacado como espécie de modelo de superioridade desses acordos, motivo de ataques de Chávez. O tratado com o Peru já foi ratificado no Congresso americano, e o país é hoje descrito como "estrela ascendente" da região.
Nos últimos anos, o PIB peruano cresceu 6% em média. No ano passado, foi a 8,2%, muito acima da média regional.
Nas palavras do vice-presidente Luis Gianpieri, o Peru "veste calças compridas e ingressa nas ligas majoritárias do comércio internacional". O Peru tornou-se o pais do futuro, segundo Andrés Oppenheimer, do "Miami Herald". Os investimentos estrangeiros aumentaram de US$ 810 milhões em 2000 para US$ 3,5 bilhões em 2006. Aí estariam respostas de peso a "modelos revolucionários". Há, no entanto, um dado pouco contabilizado. A pobreza ainda martiriza 48% da população, segundo dados oficiais.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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