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Bento 16 "implora perdão" por casos de pedofilia na igreja
Diante de 15 mil padres, Bento 16 afirma que fará "todo
o possível" para que episódios nunca voltem a ocorrer
Declarações sinalizam
crescente preocupação
do Vaticano quanto
à extensão da crise
no seio da instituição
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Diante de 15 mil padres do
mundo todo, o papa Bento 16
implorou perdão pelos escândalos de pedofilia da
Igreja Católica e afirmou que
fará todo o possível para que
os abusos nunca mais ocorram. "Nós insistentemente
imploramos perdão a Deus e
às pessoas envolvidas", disse o papa.
As declarações foram feitas em uma missa na praça
São Pedro que encerrou o
ano sacerdotal -um ano
marcado pela revelação de
dezenas de casos de pedofilia
envolvendo padres de vários
continentes.
Bento 16 disse que o diabo
influíra no "timing" do escândalo, por querer ver
"Deus expulso do mundo".
"Neste mesmo ano de alegria
pelo sacramento do sacerdócio, os pecados de padres vieram à luz -particularmente
o abuso de pequenos."
Foi a primeira vez que o
papa pediu perdão pelos escândalos na praça São Pedro,
o coração do Vaticano, e perante uma plateia formada
por padres.
O pontífice afirmou que,
ao admitir e treinar homens
para o sacerdócio, a igreja faria "todo o possível para medir a autenticidade da sua vocação e fazer todo esforço para acompanhá-los ao longo
do seu caminho".
DECEPÇÃO
Para grupos ligados às vítimas dos escândalos, porém,
as frases não bastaram.
Em comunicado, o Bishop
Accountability, grupo católico baseado nos EUA, classificou as declarações de "grande decepção e uma oportunidade desperdiçada".
O grupo exortou o papa a
"endossar e facilitar certas
medidas externas que aumentariam a transparência",
incluindo a divulgação de todos os casos de abuso tratados pelo Vaticano no site da
instituição.
Para o órgão americano, o
papa deveria ordenar que os
bispos colaborem com investigações seculares.
Em abril, o Vaticano aconselhou bispos a cooperar
com as autoridades quando
intimados. Mas, nos últimos
anos, muitos bispos têm dito
que não sabem como proceder nessas ocasiões.
Apesar das críticas, as declarações do papa sinalizam
uma crescente preocupação
da igreja quanto à extensão
da crise.
Elas ocorrem semanas depois de Bento 16 afirmar, em
Portugal, que a maior ameaça ao catolicismo vinha "do
pecado dentro da igreja". "O
perdão não é um substituto
para a justiça", disse o papa.
Em março, o "L"Osservatore Romano", o jornal do Vaticano, qualificou como um
"ataque" reportagens que
questionavam o papel do papa ao lidar com abusos sexuais enquanto foi o arcebispo de Munique, em 1980, e
quando prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Mas, na quinta, o jornal divulgou editorial em que dizia
que "a infidelidade de alguns
padres em algumas partes do
mundo mancham a credibilidade da igreja aos olhos de
muitas pessoas". "A ferida levará tempo para cicatrizar, e
nada será como se nada tivesse acontecido."
Presente na praça São Pedro, o padre nigeriano Innocent Jooji elogiou o discurso
de Bento 16. "Este não é só
um problema do Ocidente, é
um problema global."
"Ele deveria ir a alguns
continentes para falar dos
abusos sexuais. Assim o impacto seria maior", sugeriu
Jooji. "Precisamos de mais
diálogo", completou.
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