São Paulo, domingo, 12 de junho de 2011

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Esquerda perde mais na crise que assola partidos europeus

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Lamenta-se o socialista catalão Josep Borrell, ex-presidente do Parlamento Europeu: "A crise econômica e os erros do capitalismo provaram que nós tínhamos razão. No entanto, estamos [os socialistas] fracassando em toda parte".
De fato, há 12 anos, 11 dos então 15 países da União Europeia eram governados pela social-democracia.
Hoje, depois da crise provocada pelos excessos do capitalismo financeiro, apenas 5 dos agora 27 países da UE estão com a social-democracia: Espanha, Grécia, Áustria, Eslovênia e Chipre.
A brutal derrota dos socialistas no pleito espanhol do dia 22 passado sugere que restarão só quatro quando a Espanha fizer eleições gerais, até março.
Os fracassos em série da social-democracia são fáceis de explicar: os partidos socialistas europeus, depois da queda do Muro de Berlim, empreenderam uma acelerada marcha ao centro, o que os torna indistinguíveis da direita propriamente dita.
Ora, se é para aplicar programas conservadores, o eleitor usa a lógica elementar de preferir os conservadores de sempre aos neoconservadores. Aqueles serão, em tese, mais autênticos.
Mas há um elemento mais forte a determinar o declínio da social-democracia, exposto em artigo publicado terça-feira em "El País" por Juan Carlos Rodríguez Ibarra, socialista que foi presidente de Extremadura, na Espanha:
"O esquema tradicional (você vota em mim a cada quatro anos e ninguém pede a sua opinião até a eleição seguinte) já não serve para fazer uma nova política, porque, na era da internet, na qual tudo é imediatismo e velocidade, quatro anos são uma eternidade".
Bingo. É claro que essa lógica se aplica igualmente aos partidos conservadores que também fazem política velha. Mas a nova política propiciada pela internet é, escreve Rodríguez Ibarra, um território povoado por "gente que quer mudar o mundo".
Como os conservadores, por definição, querem conservar e não mudar o mundo, perdem menos eleitores do que a esquerda, teoricamente destinada a transformar.
O que complica a análise é que todos estão perdendo clientela. Basta ficar com os resultados das duas eleições europeias mais recentes: tanto nas municipais espanholas como no pleito geral em Portugal, a direita não levou mais que 25% dos votos quando se põe na conta também a abstenção.
Há, pois, uma crise da política ou, ao menos, dos partidos, do que dão provas eloquentes as manifestações espontâneas promovidas em Portugal, Espanha, Grécia, França, para não mencionar os países árabes.
O grito básico por "democracia real já", ouvido na Espanha, ecoou até nos púlpitos: "Há uma exigência cada vez mais audível de uma reflexão básica sobre a própria democracia", afirmou a voz mais autorizada da Igreja Anglicana, o arcebispo de Canterbury, Rowan Williams.
Detalhe: Williams criticava tanto a política dos conservadores como a inação da oposição trabalhista.


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