São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2004

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ELEIÇÕES NOS EUA

Candidato democrata diz que política externa do adversário "provavelmente" elevou chance de ataques no país

Bush deixou EUA mais vulnerável, diz Kerry

ADAM NAGOURNEY
JODI WILGOREN
DO "NEW YORK TIMES"

Não apenas a inteligência precária usada pelo presidente George W. Bush para justificar a Guerra do Iraque causou aos EUA um enorme prejuízo em vidas, dólares e prestígio internacional como também a política externa do atual governo "provavelmente aumentou", ao invés de diminuir, as chances de um ataque terrorista em solo americano, acusaram os adversários democratas de Bush nas eleições de novembro, John Kerry e John Edwards.
Em uma entrevista de 30 minutos concedida na última sexta-feira, após a divulgação do primeiro relatório do Comitê de Inteligência do Senado sobre os erros de informação que antecederam a guerra, em março de 2003, Kerry e seu candidato a vice deixaram claro que o tema será um dos pontos centrais de sua campanha, dizendo que a falta de credibilidade de boa parte dos argumentos de Bush para ir à guerra alimentou o cinismo dos jovens em relação ao governo de forma semelhante ao que ocorreu com a Guerra do Vietnã (1965-1975).
"Eles estavam errados, e soldados perderam a vida por isso", disse Kerry, enquanto Edwards, sentado ao seu lado no Boeing 757 fretado pela chapa democrata, concordava movendo a cabeça. "Os EUA estão pagando bilhões de dólares porque eles estavam errados. E, porque eles estavam errados, os aliados não estão conosco." Já Edwards disse que "aquilo que Bush fez no Iraque, tanto o fato de tomar a dianteira na guerra quanto, mais ainda, o seu plano para obter a paz, custou caro aos EUA, e custou a possibilidade de sucesso".
Mas, embora os dois tenham dito que discutiram a crise no Iraque diversas vezes nas conversas que culminaram na escolha de Edwards como companheiro de chapa de Kerry na semana passada, eles não deram nenhuma idéia nova sobre o que os EUA deveriam ter feito para acabar com a guerra, além do que já haviam dito: recorrer à ajuda da ONU e de seus aliados internacionais.
Como senadores, tanto Edwards como Kerry votaram a favor da resolução que autorizou Bush a ir à guerra. Na entrevista, uma das várias concedidas na sexta, eles se recusaram a dizer se concordavam com outros senadores democratas que votaram a favor da guerra e depois disseram que votariam contra se conhecessem a fragilidade das acusações.
"Não vou voltar atrás para responder questões hipotéticas sobre o que teria feito caso soubesse disso", disse Edwards. "A votação não é hoje, fim de papo. Eu concordo totalmente com John Edwards", afirmou Kerry.

Reação republicana
O porta-voz de campanha de Bush, Steve Schmidt, minimizou as críticas, destacando que tanto Kerry como Edwards defenderam a guerra desde o princípio. "A posição do senador Kerry sobre a guerra muda quase toda semana", disse. "Ele votou pela guerra citando ligações entre Saddam Hussein e os terroristas. Menos de um ano depois, ele era o candidato antiguerra", acrescentou.
"Kerry mostrou uma impressionante falta de convicção e uma impressionante falta de decisão a cada desdobramento da guerra contra o terror", seguiu Schmidt. "Diz muito sobre quais são as prioridades de John Kerry o fato de ele não ter tempo para receber o informativo de inteligência sobre as ameaças enfrentadas pelos EUA, mas ir a um evento para arrecadar fundos em Hollywood."
Os assessores de Kerry afirmaram que ele retornaria de Boston ontem, um dia antes do previsto, para receber o informativo sobre segurança nacional.
Após uma campanha para as primárias do partido em que todas as evidências sugeriam que Kerry e Edwards mantinham uma relação no máximo cordial, os dois se esforçaram para passar uma impressão de camaradagem. Um terminava as frases do outro, um tocava o braço do outro, um ria das piadas do outro, determinados a acabar com qualquer impressão de que discordam em muita coisa. Em dado momento, Edwards disse que o discurso sobre política doméstica que se tornou sua marca registrada durante as primárias do partido não era, na verdade, tão diferente do que Kerry dizia no mesmo momento.
"As pessoas falaram muito do meu discurso, mas ele estava dizendo exatamente a mesma coisa com palavras diferentes. Ele falou do achatamento da classe média, do efeito dos custos com assistência médica e da perda da cobertura de saúde sobre os trabalhadores, do que deveríamos fazer sobre o valor das anuidades universitárias e de fazermos de nosso sistema educacional um sistema público que sirva a todos... Em boa parte, é a mesma coisa."
Ainda sobre a Guerra do Iraque, Kerry disse que um dos legados do conflito é a perda de confiança no governo por parte dos jovens. "Acho que há um novo nível de cinismo e falta de credibilidade em relação ao governo no nosso país", disse. "Isso pode ser visto nos campi universitários."
A essa altura, Edwards, num momento revelador do jogo de equipe entre os dois ex-rivais, delicadamente pegou a mesma idéia de Kerry e a reconfigurou com um ar mais otimista. "Acho que igualmente importante é o fato de podermos mudar isso", disse.


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