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ELEIÇÕES NOS EUA
Candidato democrata diz que política externa do adversário "provavelmente" elevou chance de ataques no país
Bush deixou EUA mais vulnerável, diz Kerry
ADAM NAGOURNEY
JODI WILGOREN
DO "NEW YORK TIMES"
Não apenas a inteligência precária usada pelo presidente George
W. Bush para justificar a Guerra
do Iraque causou aos EUA um
enorme prejuízo em vidas, dólares e prestígio internacional como
também a política externa do
atual governo "provavelmente
aumentou", ao invés de diminuir,
as chances de um ataque terrorista em solo americano, acusaram
os adversários democratas de
Bush nas eleições de novembro,
John Kerry e John Edwards.
Em uma entrevista de 30 minutos concedida na última sexta-feira, após a divulgação do primeiro
relatório do Comitê de Inteligência do Senado sobre os erros de
informação que antecederam a
guerra, em março de 2003, Kerry e
seu candidato a vice deixaram claro que o tema será um dos pontos
centrais de sua campanha, dizendo que a falta de credibilidade de
boa parte dos argumentos de
Bush para ir à guerra alimentou o
cinismo dos jovens em relação ao
governo de forma semelhante ao
que ocorreu com a Guerra do
Vietnã (1965-1975).
"Eles estavam errados, e soldados perderam a vida por isso",
disse Kerry, enquanto Edwards,
sentado ao seu lado no Boeing 757
fretado pela chapa democrata,
concordava movendo a cabeça.
"Os EUA estão pagando bilhões
de dólares porque eles estavam
errados. E, porque eles estavam
errados, os aliados não estão conosco." Já Edwards disse que
"aquilo que Bush fez no Iraque,
tanto o fato de tomar a dianteira
na guerra quanto, mais ainda, o
seu plano para obter a paz, custou
caro aos EUA, e custou a possibilidade de sucesso".
Mas, embora os dois tenham dito que discutiram a crise no Iraque diversas vezes nas conversas
que culminaram na escolha de
Edwards como companheiro de
chapa de Kerry na semana passada, eles não deram nenhuma idéia
nova sobre o que os EUA deveriam ter feito para acabar com a
guerra, além do que já haviam dito: recorrer à ajuda da ONU e de
seus aliados internacionais.
Como senadores, tanto Edwards como Kerry votaram a favor da resolução que autorizou
Bush a ir à guerra. Na entrevista,
uma das várias concedidas na
sexta, eles se recusaram a dizer se
concordavam com outros senadores democratas que votaram a
favor da guerra e depois disseram
que votariam contra se conhecessem a fragilidade das acusações.
"Não vou voltar atrás para responder questões hipotéticas sobre o que teria feito caso soubesse
disso", disse Edwards. "A votação
não é hoje, fim de papo. Eu concordo totalmente com John Edwards", afirmou Kerry.
Reação republicana
O porta-voz de campanha de
Bush, Steve Schmidt, minimizou
as críticas, destacando que tanto
Kerry como Edwards defenderam
a guerra desde o princípio. "A posição do senador Kerry sobre a
guerra muda quase toda semana", disse. "Ele votou pela guerra
citando ligações entre Saddam
Hussein e os terroristas. Menos de
um ano depois, ele era o candidato antiguerra", acrescentou.
"Kerry mostrou uma impressionante falta de convicção e uma
impressionante falta de decisão a
cada desdobramento da guerra
contra o terror", seguiu Schmidt.
"Diz muito sobre quais são as
prioridades de John Kerry o fato
de ele não ter tempo para receber
o informativo de inteligência sobre as ameaças enfrentadas pelos
EUA, mas ir a um evento para arrecadar fundos em Hollywood."
Os assessores de Kerry afirmaram que ele retornaria de Boston
ontem, um dia antes do previsto,
para receber o informativo sobre
segurança nacional.
Após uma campanha para as
primárias do partido em que todas as evidências sugeriam que
Kerry e Edwards mantinham
uma relação no máximo cordial,
os dois se esforçaram para passar
uma impressão de camaradagem.
Um terminava as frases do outro,
um tocava o braço do outro, um
ria das piadas do outro, determinados a acabar com qualquer impressão de que discordam em
muita coisa. Em dado momento,
Edwards disse que o discurso sobre política doméstica que se tornou sua marca registrada durante
as primárias do partido não era,
na verdade, tão diferente do que
Kerry dizia no mesmo momento.
"As pessoas falaram muito do
meu discurso, mas ele estava dizendo exatamente a mesma coisa
com palavras diferentes. Ele falou
do achatamento da classe média,
do efeito dos custos com assistência médica e da perda da cobertura de saúde sobre os trabalhadores, do que deveríamos fazer sobre o valor das anuidades universitárias e de fazermos de nosso
sistema educacional um sistema
público que sirva a todos... Em
boa parte, é a mesma coisa."
Ainda sobre a Guerra do Iraque,
Kerry disse que um dos legados
do conflito é a perda de confiança
no governo por parte dos jovens.
"Acho que há um novo nível de
cinismo e falta de credibilidade
em relação ao governo no nosso
país", disse. "Isso pode ser visto
nos campi universitários."
A essa altura, Edwards, num
momento revelador do jogo de
equipe entre os dois ex-rivais, delicadamente pegou a mesma idéia
de Kerry e a reconfigurou com
um ar mais otimista. "Acho que
igualmente importante é o fato de
podermos mudar isso", disse.
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