São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Acordo que retirou as forças americanas da cidade em abril faz dela um refúgio para terroristas e combatentes

EUA vêem em Fallujah porto-seguro da insurgência

DA REDAÇÃO

Autoridades americanas e iraquianas dizem que a decisão tomada em abril de retirar as forças americanas de Fallujah, cidade 50 km a oeste de Bagdá, criou ali um reduto seguro para os terroristas e insurgentes. Segundo funcionários iraquianos graduados, o governo em Fallujah foi substituído, na prática, por um grupo de líderes insurgentes, muitos deles extremistas islâmicos, que dominam as decisões sobre a cidade.
Sem ter certeza sobre como proceder, as autoridades relutam em enviar as tropas americanas de volta. Mas concordam que apenas adiaram o problema ao suspender a campanha americana após um acordo para manter as forças dos EUA fora da cidade, entregando o policiamento a iraquianos locais.
Representantes iraquianos e americanos dizem que prefeririam voltar à cidade com um contingente grande de soldados iraquianos apoiados por forças dos EUA. Mas reconhecem que ainda faltam meses ou anos para que exista uma força iraquiana capaz de montar um ataque eficaz.
Conseqüentemente, os americanos e o governo interino iraquiano estão diante de um perigo crescente. "Não há dúvida de que Fallujah é um porto-seguro", disse o general Ricardo Sanchez, até a semana passada comandante de todas as forças militares no país. "Em algum momento, será preciso enfrentar essa situação."
Relatórios de segurança sugerem que Abu Musab Zarqawi, o jordaniano visto como responsável por dezenas de ataques no país, use Fallujah como base de operação e mantenha ali uma espécie de linha de montagem de carros-bomba e armas do tipo.
Autoridades iraquianas disseram ter se oposto ao acordo que entregava Fallujah aos insurgentes e reclamam que lhes falta recursos para reassumir o controle da cidade, onde a força de segurança local, formada em grande parte por ex-insurgentes, não consegue conter os terroristas.
Os americanos dizem que poderiam reconquistar o controle por meios militares, mas temem que isso custe centenas de vidas iraquianas e provoque o mesmo tipo de reação negativa visto em abril, quando a notícia de que até 600 pessoas teriam sido mortas na cidade exaltou os ânimos no país.
Hoje, sob os termos do acordo, os americanos não podem nem sequer responder com fogo quando insurgentes disparam foguetes e morteiros contra suas tropas. Em lugar disso, limitam-se a ataques aéreos com efeitos incertos.
Nas últimas semanas as forças americanas lançaram ao menos cinco ataques aéreos contra Fallujah, nos quais, dizem, mataram dezenas de terroristas. Os moradores locais afirmam, no entanto, que as vítimas eram civis.

Quatro mortos
Ontem, ataques distintos da insurgência no norte do país mataram ao menos quatro pessoas. Dois soldados dos EUA morreram quando uma bomba atingiu sua patrulha em Samarra, e, em Beiji, um ataque a tiros matou outro soldado e um civil iraquiano.
O caminhoneiro filipino Angelo de la Cruz seguia desaparecido depois de vencer o prazo imposto por seus seqüestradores para o governo de seu país aceitar retirar os 51 soldados que mantém no Iraque no próximo dia 20, um mês antes do previsto. Manila, que após o seqüestro anunciara que não ampliaria a estada da tropa, rejeitou a nova demanda.
Ainda estão desaparecidos dois búlgaros. Sófia disse ter recebido prova de que os reféns estão vivos.
O comando militar dos EUA e o governo interino iraquiano atribuem parte da violência no país a combatentes estrangeiros que entram pelas fronteiras com a Síria e com o Irã. A fim de conter o problema, Bagdá e Damasco anunciaram ontem um acordo para reforçar o policiamento fronteiriço.


Com "The New York Times" e agências internacionais

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