|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Por ora, terror não abala premiê
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Diferentemente do que ocorreu,
em março de 2004, com o então
premiê da Espanha, José María
Aznar, o premiê do Reino Unido,
Tony Blair, não deverá ter sua reputação chamuscada em razão
dos atentados da última quinta-feira se não houver outros ataques
terroristas em solo britânico nos
próximos meses, segundo especialistas consultados pela Folha.
"A situação britânica atual é
muito distinta da espanhola em
2004. Primeiro, porque aqui não
há nenhuma eleição importante
no futuro próximo, enquanto Aznar teve de enfrentar as urnas
poucos dias depois dos ataques
em Madri", avaliou Torun Dewan, da London School of Economics and Political Science (LSE).
"Segundo, porque a oposição
britânica não está em condições
de desafiar o governo em relação
à Guerra do Iraque, pois também
a apoiou, enquanto a oposição espanhola era contrária ao envolvimento do país no conflito. E, terceiro, porque Blair não tentou
convencer a população de que se
tratava de terrorismo irlandês,
não de extremismo islâmico. Esse
talvez tenha sido o maior erro de
Aznar", afirmou, aludindo à tentativa -frustrada- do ex-premiê de culpar separatistas bascos.
Para Dewan, Blair poderá até
sair fortalecido da crise. "Se se revelar um verdadeiro estadista,
que reconhece suas dificuldades,
mas faz tudo para transpô-las, o
premiê poderá ganhar capital político e manter-se no poder por
mais tempo do que planejava."
De fato, na campanha para a
eleição legislativa de maio, a mídia especulou que Blair tivesse feito um acordo com seu popular
ministro das Finanças, Gordon
Brown, segundo o qual este herdaria o posto de premiê em um ou
dois anos em troca de seu apoio
incondicional à lista de candidatos trabalhista.
O Partido Conservador britânico encontra-se, sem dúvida, em
situação complexa por três razões. Primeiro, perdeu claramente a votação de maio, o que deu
um forte mandato popular a Blair.
Segundo, seus líderes travam um
dura disputa interna pelo poder, o
que mina uma tomada de posição
em uníssono. Terceiro, os conservadores jamais atacaram o envolvimento britânico nos esforços
militares americanos recentes.
Com isso, Blair goza de relativa
liberdade para continuar a governar apoiado em sua base trabalhista. De acordo com Patrick
Dunleavy, também professor da
LSE, as duas únicas ameaças à
permanência do premiê no poder
são a ocorrência de novos atentados ou a própria vontade de Blair.
"Se houver novos ataques terroristas sangrentos e um número
significativo de mortes, a população poderá começar a culpar o
premiê pela situação, pois foi ele
que pôs os britânicos na Guerra
do Iraque. Ademais, na campanha eleitoral, foi dito que Blair estava um pouco desgastado e que,
por conta disso, pensava em deixar o poder nas mãos de Brown.
Talvez a pressão provocada pelo 7
de Julho faça que sua fadiga política aumente", explicou Dunleavy.
Liberdades civis
Diferentemente da reação americana ao 11 de Setembro, Dewan
salientou ainda que não deverá
ocorrer um forte aumento das
restrições às liberdades civis no
Reino Unido em decorrência dos
atentados da última quinta-feira.
"Após o 11 de Setembro, o governo Blair tomou diversas medidas para proteger o território britânico e para reduzir a margem de
manobra de extremistas islâmicos no Reino Unido. As leis de asilo e de imigração foram alteradas,
por exemplo", apontou Dewan.
Segundo ele, haverá "várias medidas midiáticas, a curto e médio
prazos, para acalmar os temores
da população", mas a principal e
mais controversa, a criação de
uma carteira de identidade oficial,
já está em debate no Parlamento.
"É curioso para muitos estrangeiros, porém, para os britânicos,
exigir que alguém porte uma carteira de identidade é uma séria
restrição às liberdades civis."
Texto Anterior: Itália propõe endurecer leis de segurança Próximo Texto: Polícia fez lista de 30 suspeitos, afirma jornal Índice
|