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Chávez e Uribe "viram página" da crise
Presidentes da Venezuela e da Colômbia, que romperam laços pessoais em 2007, anunciam retomada de projetos bilaterais
Em encontro perto de
Caracas, rivais trocam
amabilidades; Uribe acena
para "irmãos" do Equador,
que rompeu com Bogotá
Fernando Llano/Associated Press
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Chávez e Uribe conversam durante seu primeiro encontro bilateral em nove meses, na refinaria de Punto Fijo, perto de Caracas
DA REDAÇÃO
Os presidentes da Venezuela,
Hugo Chávez, e da Colômbia,
Álvaro Uribe, selaram ontem a
reconciliação, após meses de
troca de insultos e acusações.
Em encontro de mais de cinco
horas, eles discutiram a integração bilateral e buscaram
normalizar as relações, estremecidas desde o afastamento
de Chávez das negociações com
as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) para
a libertação de reféns do grupo,
em novembro.
"Agradeço muito ao presidente Uribe por sua visita, seu
gesto, por com esta conversa
franca e cálida virar completamente a página deste choque
que aconteceu. Nos devíamos
esta conversa", disse Chávez.
Ele citou o combate ao narcotráfico como uma das áreas estratégicas de cooperação com a
Colômbia e, pondo fim à celeuma, disse entender as razões de
Uribe para afastá-lo da mediação com os guerrilheiros.
"A partir de hoje começa uma
nova etapa [nas relações bilaterais]", afirmou o venezuelano.
Horas antes, ao receber Uribe,
Chávez dissera sentir pela Colômbia "afeto, amor, compromisso de irmandade e pátria".
Uribe, por sua vez, considerou a reunião "muito construtiva" e também expressou seu
amor pelos "irmãos" equatorianos -o Equador rompeu relações com a Colômbia após o
ataque, em março, a um acampamento das Farc em território
equatoriano, a dois quilômetros da fronteira.
Depois do ataque, Uribe acusou Chávez e o presidente do
Equador, Rafael Correa, de financiarem as Farc, tomando
por base mensagens trocadas
entre integrantes da guerrilha
supostamente encontradas no
computador de Raúl Reys, dirigente morto na operação.
Acordos em aberto
Os termos de futuros convênios serão discutidos em encontros ministeriais, disse
Chávez. A agenda é extensa: o
comércio bilateral, impulsionado pelas exportações da Colômbia, ultrapassa US$ 6 bilhões anuais e os países têm
uma fronteira porosa.
Sem embaixador na Colômbia desde o ano passado, Chávez precisa costurar acordos
com seu antípoda ideológico. A
Colômbia é o principal fornecedor de alimentos à Venezuela.
Os planos para ligar o país ao
Pacífico, por meio de dutos ou
ferrovias, passam pelo território colombiano.
Uribe busca assinar convênios para evitar a dupla taxação
e proteger os capitais colombianos de respingos das tensões diplomáticas e de tempestades tributárias de Chávez. O
colombiano tenta também reverter os limites impostos por
Caracas à importação de veículos colombianos, como retaliação à política externa de Uribe.
Ao meio-dia (13h30, em Brasília), no complexo petroquímico da estatal PDVSA, em Paranaguá (oeste de Caracas), os
líderes se cumprimentaram
com um aperto de mão pragmático. Na véspera, Chávez
cancelara seu programa de rádio e TV para melhor preparar-se para o encontro -que, afirmou, impulsionaria a paz na
América Latina.
Novos Amigos
Apesar da aliança política
com Chávez, países como
Equador e Bolívia não têm fôlego econômico para uma parceria significativa com a Venezuela. Mesmo o Brasil tem importância menor do que a da
Colômbia na economia venezuelana. Apenas os EUA, principal mercado do seu petróleo,
superam o vizinho andino em
comércio.
Chávez dá sinais inequívocos
de que busca ampliar o seu círculo de amigos. O presidente
tem buscado se afastar das Farc
e moderou a retórica antiamericana. Chamado de "assassino" no auge da crise, Uribe recebeu felicitações de Chávez
pela resgate de 15 reféns. "Felizmente, não fui necessário",
disse Chávez.
O novo pragmatismo também tem motivações políticas,
segundo analistas. O governo
precisa conquistar os moderados para evitar a derrota nas
eleições municipais deste ano.
Com agências internacionais
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