São Paulo, sábado, 12 de julho de 2008

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Chávez e Uribe "viram página" da crise

Presidentes da Venezuela e da Colômbia, que romperam laços pessoais em 2007, anunciam retomada de projetos bilaterais

Em encontro perto de Caracas, rivais trocam amabilidades; Uribe acena para "irmãos" do Equador, que rompeu com Bogotá


Fernando Llano/Associated Press
Chávez e Uribe conversam durante seu primeiro encontro bilateral em nove meses, na refinaria de Punto Fijo, perto de Caracas

DA REDAÇÃO

Os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Colômbia, Álvaro Uribe, selaram ontem a reconciliação, após meses de troca de insultos e acusações. Em encontro de mais de cinco horas, eles discutiram a integração bilateral e buscaram normalizar as relações, estremecidas desde o afastamento de Chávez das negociações com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) para a libertação de reféns do grupo, em novembro.
"Agradeço muito ao presidente Uribe por sua visita, seu gesto, por com esta conversa franca e cálida virar completamente a página deste choque que aconteceu. Nos devíamos esta conversa", disse Chávez. Ele citou o combate ao narcotráfico como uma das áreas estratégicas de cooperação com a Colômbia e, pondo fim à celeuma, disse entender as razões de Uribe para afastá-lo da mediação com os guerrilheiros.
"A partir de hoje começa uma nova etapa [nas relações bilaterais]", afirmou o venezuelano. Horas antes, ao receber Uribe, Chávez dissera sentir pela Colômbia "afeto, amor, compromisso de irmandade e pátria".
Uribe, por sua vez, considerou a reunião "muito construtiva" e também expressou seu amor pelos "irmãos" equatorianos -o Equador rompeu relações com a Colômbia após o ataque, em março, a um acampamento das Farc em território equatoriano, a dois quilômetros da fronteira.
Depois do ataque, Uribe acusou Chávez e o presidente do Equador, Rafael Correa, de financiarem as Farc, tomando por base mensagens trocadas entre integrantes da guerrilha supostamente encontradas no computador de Raúl Reys, dirigente morto na operação.

Acordos em aberto
Os termos de futuros convênios serão discutidos em encontros ministeriais, disse Chávez. A agenda é extensa: o comércio bilateral, impulsionado pelas exportações da Colômbia, ultrapassa US$ 6 bilhões anuais e os países têm uma fronteira porosa.
Sem embaixador na Colômbia desde o ano passado, Chávez precisa costurar acordos com seu antípoda ideológico. A Colômbia é o principal fornecedor de alimentos à Venezuela. Os planos para ligar o país ao Pacífico, por meio de dutos ou ferrovias, passam pelo território colombiano.
Uribe busca assinar convênios para evitar a dupla taxação e proteger os capitais colombianos de respingos das tensões diplomáticas e de tempestades tributárias de Chávez. O colombiano tenta também reverter os limites impostos por Caracas à importação de veículos colombianos, como retaliação à política externa de Uribe.
Ao meio-dia (13h30, em Brasília), no complexo petroquímico da estatal PDVSA, em Paranaguá (oeste de Caracas), os líderes se cumprimentaram com um aperto de mão pragmático. Na véspera, Chávez cancelara seu programa de rádio e TV para melhor preparar-se para o encontro -que, afirmou, impulsionaria a paz na América Latina.

Novos Amigos
Apesar da aliança política com Chávez, países como Equador e Bolívia não têm fôlego econômico para uma parceria significativa com a Venezuela. Mesmo o Brasil tem importância menor do que a da Colômbia na economia venezuelana. Apenas os EUA, principal mercado do seu petróleo, superam o vizinho andino em comércio.
Chávez dá sinais inequívocos de que busca ampliar o seu círculo de amigos. O presidente tem buscado se afastar das Farc e moderou a retórica antiamericana. Chamado de "assassino" no auge da crise, Uribe recebeu felicitações de Chávez pela resgate de 15 reféns. "Felizmente, não fui necessário", disse Chávez.
O novo pragmatismo também tem motivações políticas, segundo analistas. O governo precisa conquistar os moderados para evitar a derrota nas eleições municipais deste ano.


Com agências internacionais


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