São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2001

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HISTÓRIA COMPARADA

Atentado lembra ataque dos japoneses a Pearl Harbor

O terror bateu à porta dos americanos, o que nas muitas guerras anteriores só ocorria com os parentes das vítimas

Associated Press
Ataque japonês à base americana de Pearl Harbor, no Havaí, em 7 de dezembro de 1941


DA REDAÇÃO

Após 59 anos, nove meses e quatro dias, os Estados Unidos tiveram a sua segunda "data que viverá na infâmia", como foi qualificado pelo então presidente Franklin Delano Roosevelt o 7 de dezembro de 1941, dia do ataque japonês contra Pearl Harbor.
Um novo ataque, até mais inesperado do que o dirigido contra a base militar na ilha de Oahu (Havaí), mas com poucos paralelos além da surpresa e da infâmia -e de ter paralisado o país mais poderoso do mundo.
Em Pearl Harbor, o inimigo tinha uma face, uma bandeira, 360 aviões e 22 vasos de guerra para lançar contra o Quartel-General da Frota do Pacífico. Um alvo militar, a 8.000 quilômetros da Casa Branca, mas golpeado com força suficiente para abalar os Estados Unidos e forçar sua entrada na Segunda Guerra Mundial.
Para os atentados de ontem, bastaram três ou quatro aviões comerciais, sequestrados e atirados por volta das 9h contra alvos no coração financeiro e militar da maior potência mundial.
O terror bateu à porta de cada um dos norte-americanos, o que nas muitas guerras em que o país se engajara anteriormente só ocorria com os parentes dos militares vitimados.
Assistindo ao presidente Bush na televisão na tarde de ontem, o dono de uma oficina mecânica Mike Powder, ouviu as palavras "atos covardes".
"É isso aí, covardia", disse Powder. "Pelo menos quando nós lutamos contra os japoneses e os alemães eles mostraram suas bandeiras. Esses caras se escondem."
Para muitos norte-americanos, a lembrança de Pearl Harbor veio rapidamente, assim como a exigência de uma resposta dura da administração Bush.
"A primeira coisa em que pensei foi em Pearl Harbor. O atentado é um alerta para os Estados Unidos. É algo que vínhamos precisando há muito tempo", disse Hall Freeman, segurança de um prédio de escritórios em Los Angeles. "Pessoalmente, eu mataria todos eles. Mas deixe Deus resolver a questão", completou.
O almirante Robert J. Natter, comandante da Frota do Atlântico dos Estados Unidos também lembrou do ataque japonês. "Fomos atacados como não tínhamos sidos desde Pearl Harbor."
Ainda não se tem notícia do número de mortos no atentado de ontem, mas certamente são bem mais do que os 166 soldados norte-americanos mortos na Guerra do Golfo ou do que os 2.330 mortos em Pearl Harbor.
Supondo-se que apenas no World Trade Center trabalhavam cerca de 40 mil pessoas, o atentado deve figurar entre as grandes mortandades da história dos EUA, assim como as duas Guerras Mundiais, que, juntas, mataram quase 250 mil norte-americanos, e a Guerra do Vietnã, que deixou um saldo de 58 mil mortos.
As consequências, contudo, devem ser bastante diferentes. No dia seguinte ao do ataque a Pearl Harbor, o Congresso dos EUA declarou guerra ao Japão. Ontem, o presidente George W. Bush prometeu identificar os idealizadores dos atentados e revidar. Não conta, porém, com um país contra o qual declarar guerra, nem mapas para orientar o lançamento de bombas atômicas, como em Hiroshima, ou mísseis ditos inteligentes, como em Bagdá.
Os EUA eram, até ontem, um país muito mais poderoso do que há 60 anos. Desde ontem, também, muito mais vulnerável.

Leia mais sobre os atentados nos EUA na Folha Online


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