São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2001

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MERCADO FINANCEIRO

Bovespa fecha pregão; dólar bate novo recorde

Bolsa de SP caiu mais de 9% antes de parar negócios; moeda americana fecha a R$ 2,66

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os atentados nos EUA fizeram o dólar em poucos minutos disparar para R$ 2,677, enquanto a Bovespa desabava mais de 9%.
Assustados, os investidores saíram à compra de dólares e empurraram o valor da moeda para níveis inéditos. No pregão da Bolsa, a ordem era vender ações.
Suspender as operações foi a decisão da Bolsa de Valores de São Paulo quando seu principal índice ultrapassou os 9% de queda.
Mesmo assim, a Bovespa não conseguiu evitar a maior desvalorização desde janeiro de 99, período da crise cambial.
Não deu tempo nem de o "circuit breaker" -mecanismo que interrompe os pregões toda vez que a queda atinge 10%- ser acionado. A venda de ações foi maciça, o que fez a Bolsa paulista encerrar o pregão de ontem, depois de pouco mais de uma hora de negócios, com 9,17% de perdas.
No mercado de câmbio, os negócios prosseguiram e a escalada no preço do dólar só parou pela falta de investidores à tarde.
Passado o primeiro impacto da notícia dos ataques, as instituições financeiras preferiram manter suas posições, o que fez o preço da moeda parar de subir.
No fim da tarde, o dólar encerrou com valorização de 2,03%, vendido a R$ 2,66, nova cotação recorde no Real.
Os negócios com títulos da dívida externa dos países emergentes também foram rapidamente afetados pelo nervosismo que dominou o mercado financeiro internacional após o ataque terrorista aos Estados Unidos.
Como a maior parte dos negócios com esses papéis -como os brasileiros C-Bonds e os argentinos FRBs- é realizada em Nova York, operadores dizem que é difícil dizer como esse mercado se comportará nos próximos dias.





Liquidação
No curto tempo que durou o pregão da Bovespa ontem, investidores se desfizeram dos papéis que puderam.
As ações das companhias de telecomunicações, papéis de grande liquidez, estiveram entre as que mais apanharam. No topo das perdas ficou o papel preferencial da Tele Nordeste Celular, com desvalorização de 28,4%.
Um chefe de mesa de um grande banco disse que única ordem ontem era vender ações, o que distorceu muito os preços.
"Não podemos considerar o pregão de hoje [ontem" como parâmetro para analisar os preços das ações. A reação dos investidores foi bastante emocional", afirma o diretor da corretora Supra, Wagner Soares de Andrade.
Quando o pregão foi encerrado, apenas 1 das 56 ações que formam o Ibovespa -o principal índice da Bolsa- era negociada em alta.
A Bolsa de Valores de São Paulo apenas não caiu mais intensamente porque as ações preferenciais da Petrobras, que concentraram os negócios no dia com 57% dos R$ 171 milhões girados ontem, recuaram apenas 1,63%.
A turbulência no mercado fez o Tesouro Nacional cancelar o leilão de títulos públicos que seria realizado ontem.
Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), que também não parou suas operações, os negócios com ouro foram destaque. O volume de contratos de ouro saltou para R$ 793 mil, alta de quase 200% sobre o giro de segunda. O valor do metal subiu 8%.
"O mercado parou pela tarde. Alguns bancos interromperam suas operações. Amanhã [hoje", a tendência é o câmbio se acalmar, e o dólar recuar um pouco", afirma o diretor de câmbio do banco ING Barings, Diniz Pignatari.
O BC não deixou de atuar com a venda de dólares pela manhã, segundo operadores.
Os juros futuros não escaparam do nervosismo e voltaram a subir no pregão da BM&F.
A uma semana da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que decidirá o rumo dos juros no país, o contrato DI (juro interbancário) de prazo mais curto fechou em 19,78% anuais.
Na Bolsa do Rio, o dólar negociado pelo sistema eletrônico saltou para R$ 2,657, alta de 2%. No mercado paralelo, o "black" alcançou os R$ 2,70.
Hoje, a Bovespa volta a funcionar normalmente.

Leia mais sobre os atentados nos EUA na Folha Online


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