São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2001

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Comunidade intelectual reage com perplexidade

DA REDAÇÃO

A comunidade intelectual está perplexa com os acontecimentos de Nova York, e, de modo geral, a declaração mais comum entre os ensaístas, filósofos e sociólogos ouvidos pela Folha é a de ser impossível fazer qualquer análise no momento. "Nós todos não sabemos ainda quase nada. É um ataque ao conjunto da civilização ocidental", disse o filósofo alemão Jürgen Habermas.
O filósofo italiano Toni Negri foi ainda mais sucinto: "Não tenho nada a declarar. Que tenho eu a ver com isso?".
Outro italiano, o historiador Carlo Ginzburg, apenas reitera a incredulidade: "É uma situação terrível, ninguém sabe o que pode acontecer a partir de agora".
Para o alemão Robert Kurz, entretanto, era previsível que a série de atentados acontecesse a qualquer instante: "Não há proteção absoluta contra a barbárie, não há nenhum escudo espacial que nos proteja da barbárie que se alastra por este planeta".
De acordo com ele, essa é a face real da globalização: "Milhares de cadáveres nos escombros do coração do capitalismo em Wall Street. É o momento de compaixão pelas milhares de vidas que a barbárie exige em seu altar".

Armas químicas
O maior temor do sociólogo é o uso de armas químicas. "Os próximos dias serão imprevisíveis. A esta altura já podemos contar com tudo diante do horror dessas imagens. Aviões comerciais com passageiros inocentes pondo abaixo o símbolo do orgulho do império. A loucura não tem limites. Ninguém mais está seguro neste mundo militarizado."
Já o ensaísta português Eduardo Lourenço vê a destruição como uma espécie de rito de passagem entre os séculos: "Estamos numa época em que já não se distinguia o real do virtual. Infelizmente foi preciso acontecer algo assim, que atingisse o centro, e não a periferia, para nos darmos conta de que o real existe. Agora entramos efetivamente no terceiro milênio".
O crítico literário acredita que a tragédia seja uma consequência da Guerra do Golfo: "Os EUA se proclamaram os grandes vitoriosos e criaram uma cisão muito mais forte entre o mundo islâmico e o ocidental. Os EUA não previram que a humilhação infligida ao Iraque poderia gerar isso".
Ele também concorda com Habermas, ao afirmar que se tratou de um ataque ao conjunto da civilização ocidental: "As torres que foram destruídas eram um símbolo de força econômica e da potência política dos EUA, mas também um patrimônio da cultura ocidental do século 20, um marco da arquitetura moderna. É um momento atroz para toda a civilização -que afinal é a nossa. Mas neste instante de confusão é preciso não perder de vista que os homens são mais importantes que as torres".


Colaborou José Galisi, da Alemanha

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