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Comunidade intelectual reage com perplexidade
DA REDAÇÃO
A comunidade intelectual está
perplexa com os acontecimentos
de Nova York, e, de modo geral, a
declaração mais comum entre os
ensaístas, filósofos e sociólogos
ouvidos pela Folha é a de ser impossível fazer qualquer análise no
momento. "Nós todos não sabemos ainda quase nada. É um ataque ao conjunto da civilização
ocidental", disse o filósofo alemão
Jürgen Habermas.
O filósofo italiano Toni Negri foi
ainda mais sucinto: "Não tenho
nada a declarar. Que tenho eu a
ver com isso?".
Outro italiano, o historiador
Carlo Ginzburg, apenas reitera a
incredulidade: "É uma situação
terrível, ninguém sabe o que pode
acontecer a partir de agora".
Para o alemão Robert Kurz, entretanto, era previsível que a série
de atentados acontecesse a qualquer instante: "Não há proteção
absoluta contra a barbárie, não há
nenhum escudo espacial que nos
proteja da barbárie que se alastra
por este planeta".
De acordo com ele, essa é a face
real da globalização: "Milhares de
cadáveres nos escombros do coração do capitalismo em Wall
Street. É o momento de compaixão pelas milhares de vidas que a
barbárie exige em seu altar".
Armas químicas
O maior temor do sociólogo é o
uso de armas químicas. "Os próximos dias serão imprevisíveis. A
esta altura já podemos contar
com tudo diante do horror dessas
imagens. Aviões comerciais com
passageiros inocentes pondo
abaixo o símbolo do orgulho do
império. A loucura não tem limites. Ninguém mais está seguro
neste mundo militarizado."
Já o ensaísta português Eduardo
Lourenço vê a destruição como
uma espécie de rito de passagem
entre os séculos: "Estamos numa
época em que já não se distinguia
o real do virtual. Infelizmente foi
preciso acontecer algo assim, que
atingisse o centro, e não a periferia, para nos darmos conta de que
o real existe. Agora entramos efetivamente no terceiro milênio".
O crítico literário acredita que a
tragédia seja uma consequência
da Guerra do Golfo: "Os EUA se
proclamaram os grandes vitoriosos e criaram uma cisão muito
mais forte entre o mundo islâmico e o ocidental. Os EUA não previram que a humilhação infligida
ao Iraque poderia gerar isso".
Ele também concorda com Habermas, ao afirmar que se tratou
de um ataque ao conjunto da civilização ocidental: "As torres que
foram destruídas eram um símbolo de força econômica e da potência política dos EUA, mas também um patrimônio da cultura
ocidental do século 20, um marco
da arquitetura moderna. É um
momento atroz para toda a civilização -que afinal é a nossa. Mas
neste instante de confusão é preciso não perder de vista que os homens são mais importantes que
as torres".
Colaborou José Galisi, da Alemanha
Leia mais sobre os atentados nos EUA na Folha Online
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