Tom Clancy já atirou um Boeing-747 contra o Capitólio em livro; Don DeLillo e Philip Roth também foram seduzidos pelo terrorismo

DA REPORTAGEM LOCAL

DA REDAÇÃO

Embora a imaginação tenha perdido para a realidade com os ataques terroristas de ontem a grandes cidades americanas, a imagem de uma construção emblemática do poder dos Estados Unidos sendo atacada por forças estrangeiras marca presença num dos principais filões comerciais da ficção produzida no país: o "technothriller".
O subgênero mescla elementos como espionagem, alta tecnologia, sistemas de inteligência e conflitos internacionais para fazer livros em que a ameaça à integridade física dos americanos alimenta a tensão da trama.
O escritor Tom Clancy é o principal nome nesse segmento do mercado editorial. Impulsionado pelo sucesso da adaptação para o cinema de "Caçada ao Outubro Vermelho", Clancy dedicou uma série de nada menos que nove romances ao assunto, nos quais o protagonista Jack Ryan, um agente de inteligência, defende os EUA de ataques terroristas externos.
Em "Ordens do Executivo", um dos títulos da série, um terrorista suicida japonês atira um Boeing-747 contra o Capitólio, sede do Congresso americano, matando o presidente e os principais líderes legislativos e judiciais do país. O livro nesse sentido é um dos mais improváveis do autor, já que relata uma guerra entre Japão e EUA.
Como se não bastasse, terroristas iranianos ameaçam o país com um ataque de vírus Ebola. Ryan assume a Presidência e tem que desfazer a crise, que envolve ainda inimigos chineses.
O livro termina com uma tirada patriótica do novo presidente americano. "Eu estou certo disso: a América é bem mais difícil de destruir do que as pessoas são. Meu pai era um tira, como vocês ouviram. Ele e minha mãe foram mortos em um acidente de avião, mas ainda existem tiras. Muitas boas pessoas foram mortas apenas alguns minutos atrás, mas a América ainda está aqui."
Clancy também escreveu sobre terrorismo no Oriente Médio. Em "A Soma de Todos os Medos", a história gira em torno de terroristas islâmicos que conseguem um artefato nuclear, tema mais comum nesse tipo de romance.
No livro anterior a "Ordens do Executivo", "Dívida de Honra" (ambos lançados no Brasil pela editora Record), um empresário japonês arma uma intriga contra a economia americana, e mais uma vez vai caber a Ryan a missão de salvar os americanos.
Um dos escritores mais populares em seu país, Clancy já teve obras adaptadas para o cinema ("Perigo Real e Imediato" e "Jogos Patrióticos", entre outras) e atualmente transforma os enredos de seus livros em videogames.
O autor tem outra série, "Op Center", que também centra o foco em crises internacionais resolvidas pela inteligência americana.
Outro exemplo de "tecno-terrorismo" na literatura é a cena do romance "Clube da Luta", de Chuck Palahniuk, adaptado para o cinema com o mesmo nome, em que edifícios de operadoras de cartão de crédito são destruídos por uma organização terrorista.
As corporações financeiras também são o alvo favorito dos terroristas individuais das ficções ciberpunks, que tornou populares nomes como William Gibson, Bruce Sterling e Neal Stephenson.
O terrorismo de forma mais ampla é um tema que vem fascinando a literatura americana, desde que ameaças por nações estrangeiras ocuparam a ordem do dia, com a Guerra Fria. Pelo menos dois dos principais nomes da prosa contemporânea americana, Don DeLillo e Philip Roth, já se debruçaram sobre o tema.
No romance "Libra", DeLillo compõe um painel da sociedade americana durante a Guerra Fria ao partir da biografia imaginária de Lee Harvey Oswald, o suposto assassino do presidente John Kennedy, e das ligações do crime com uma conspiração de direita contra o comunismo.
Já Roth, em "Pastoral Americana", narra a história de uma família que tem uma filha envolvida em atentados contra prédios oficiais do governo americano.
(RICARDO BONALUME NETO e RODRIGO MOURA)

Leia mais sobre os atentados nos EUA na Folha Online


Texto Anterior: Mundo deve esperar revide, diz especialista
Próximo Texto: "Fim" traz versão do colapso americano
Índice