São Paulo, quinta-feira, 12 de setembro de 2002

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11.09 UM ANO DEPOIS

Bush afirma que país irá confrontar seus inimigos; homenagens às vítimas dos ataques se espalham pelos EUA e pelo mundo

Em dia de luto, EUA falam de guerra

Timothy A. Clary/France Presse
Parentes de mortos no ataque terrorista contra o World Trade Center fazem círculo no Ponto Zero, como é chamado o local hoje


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Os EUA pararam ontem para homenagear os cerca de 3.000 mortos do pior ataque sofrido pelo país em seu território, que ontem completou seu primeiro aniversário. Falou-se em luto, perda e dor, mas quem deu o tom oficial foi o presidente George W. Bush, logo pela manhã.
"Enquanto terroristas e ditadores fizerem planos contra nossas vidas e nossa liberdade, eles serão confrontados pelo Exército, a Marinha, a Guarda Costeira, a Força Aérea e os Marines norte-americanos", discursou, com o punho direito fechado e em riste.
Ele participava de cerimônia no Pentágono, a sede do comando militar perto de Washington e um dos prédios-símbolo atingidos um ano atrás pelos aviões sequestrados por membros da Al Qaeda, rede terrorista liderada pelo saudita Osama bin Laden.
Em Nova York, em homenagem no Ponto Zero que começou às 8h46, no exato momento em que o primeiro avião atingia a primeira torre do World Trade Center, o prefeito da cidade, Michael Bloomberg, optou por um discurso mais ameno, focado nas vítimas mortas no local.
"Eles eram nossos vizinhos, nossos maridos, nossas crianças, nossas irmãs, nossos irmãos e nossas mulheres. Eles eram nossos compatriotas e nossos amigos. Eles eram nós", disse o prefeito, antes de chamar seu antecessor, Rudolph Giuliani, que começou a ler os nomes de todas as 2.801 vítimas daquele dia, incluindo três brasileiros, numa cerimônia simples e sóbria.
Mais belicoso, porém, era o senador Charles E. Schumer, que leu parte dos nomes e, com a senadora Hillary Clinton, representa o Estado no Congresso. "Não há clima para paz aqui. Há um clima de dedicação e admiração, mas também um sentimento de que temos de fazer muito mais para reforçar a segurança interna e tornar o mundo um lugar seguro", afirmou a jornalistas.
Segurança, aliás, foi o segundo assunto mais comentado pelas TVs do país, que dedicaram o dia às cerimônias e baniram, em sua maioria, anúncios e intervalos comerciais. Anteontem o país entrou em "alerta laranja", o mais alto até agora desde a criação do sistema de cores pelo recém-criado Departamento da Segurança Interna.
Nos céus das grandes cidades, Nova York, Washington e Los Angeles à frente, caças da Aeronáutica faziam patrulha desde a noite anterior. Os vôos de carreira foram reduzidos em 30% em relação à semana passada devido à baixa procura. O número de agentes federais à paisana a bordo foi mais do que dobrado.
Um aeroporto normalmente cheio como o de LaGuardia, em Nova York, estava sem filas e sem movimento de táxis. Até o final do dia, não houve registro de incidentes significativos.
Apesar de concentradas em Nova York, Washington e Shanksville (na Pensilvânia, local da queda de um dos quatro aviões sequestrados no ano passado), as cerimônias tomaram o país inteiro e diversas partes do mundo. Na Pensilvânia, um sino tocou quarenta vezes, uma para cada vítima do vôo 93. Na Nova Inglaterra, árvores foram plantadas nos correios. No Alabama, crianças fizeram biscoitos para bombeiros.
No Pólo Sul, cientistas de uma base militar norte-americana lembraram a passagem tocando o "Réquiem" de Mozart. No Japão, a Bolsa de Valores de Tóquio fez um minuto de silêncio antes de iniciar as atividades. E, no Afeganistão, um pedaço do World Trade Center foi enterrado sob uma bandeira norte-americana na embaixada em Cabul.
Os eventos oficiais estavam previstos para continuar acontecendo no começo da noite de ontem em Nova York. Às 19h (20h em Brasília), o prefeito Michael Bloomberg acenderia uma chama eterna no Battery Park, ao lado do Ponto Zero, acompanhado de líderes estrangeiros.
Já às 21h, o presidente George W. Bush faria um discurso em Ellis Island, no sul da cidade. Segundo seus assessores, falaria que o país tem "inimigos determinados" e que "não é invulnerável aos seus ataques", mas não tocaria no assunto Iraque. A intenção de depor o regime daquele país fica para sua fala de hoje na abertura da Assembléia Geral da ONU.


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