Sem quartel-general, Bin Laden é só "inspirador"

STEPHEN FIDLER
DO "FINANCIAL TIMES"

O que foi feito da Al Qaeda desde o 11 de setembro de 2001?
"Tudo mudou", diz Scott Atran, da Universidade do Michigan. A ação militar liderada pelos EUA no Afeganistão privou a organização de seu quartel-general de operações e de boa parte de sua liderança. Com isso, a organização comandada por Osama bin Laden e pelo ideólogo Ayman al Zawahiri perdeu grande parte de sua capacidade de planejar e comandar ataques sofisticados.
Agora, a melhor maneira de compreendê-la, diz o especialista, é como "movimento transnacional propelido pela mídia, e como fonte de entusiasmo entre os jovens de todo o mundo muçulmano".

Perfil dos recrutas
Atran está montando um banco de dados de terroristas identificados no Sudeste Asiático e na Europa. A maior parte deles, define Marc Sageman, da Universidade da Pensilvânia, colega de Atran no projeto, é formada por "grupos de amigos homens", entre 15 e 30 anos.
Os resultados preliminares do trabalho sugerem que mais de 80% deles tenham se radicalizado no Ocidente. Cerca de 70% se integram a esse tipo de grupo por influência de amigos, 20% por influência de parentes e apenas 10% fazem contato por meio das escolas islâmicas, ou madrassas. Oito por cento são cristãos convertidos ao islamismo.
Os integrantes também são mais jovens, agora. A idade média das pessoas detidas nos últimos dois anos por supostas conexões com a Al Qaeda é de 22 anos, contra 26 anteriormente. Atran diz que isso se deve ao fato de que a internet é que vem atraindo os novos membros, por meio de salas de chat. A internet também vem atraindo mulheres para a causa.
Desmantelar redes descentralizadas como essas é uma tarefa difícil para instituições organizadas hierarquicamente, como os governos e as forças armadas e de segurança ocidentais. Segundo analistas, parte da estratégia de comunicação cada vez mais sofisticada que a Al Qaeda vem adotando, que inclui vídeos distribuídos pela internet com um novo logotipo ao estilo do da rede Al Jazira, tem por objetivo permitir que Bin Laden e Al Zawahiri pareçam estar no comando de eventos sobre os quais não têm nenhum controle.
No entanto, pessoas que acompanham de perto as atividades da Al Qaeda dizem que os dois líderes talvez estejam satisfeitos com os desdobramentos posteriores ao 11 de Setembro. Sad al Fagih, dissidente saudita, diz que eles mapearam uma estratégia de três estágios, em 1997.

Três estágios
O primeiro passo era obter mais recrutas para a causa: os atentados a bomba contra as embaixadas norte-americanas no Quênia e na Tanzânia, em 1998, levaram milhares de muçulmanos ao Afeganistão e geraram um "excedente de terroristas suicidas", ele diz. O segundo passo era criar polarização entre o mundo muçulmano e o mundo não-islâmico, e a resposta dos EUA ao 11 de Setembro ajudou a encorajar essa tendência, especialmente depois da invasão do Iraque, "um presente com o qual a Al Qaeda nem mesmo sonhava".
O terceiro passo é o que ele define como "pacificação da única superpotência": a idéia de que os EUA, devido às suas cisões internas, se retirariam do Oriente Médio, permitindo que os combatentes da jihad (guerra santa) tomassem o poder em outros países da região. De acordo com a análise dele, o plano está, no momento, entre os estágios dois e três.
Al-Fagih foi classificado pelas Nações Unidas, a pedido dos Estados Unidos, como simpatizante da Al Qaeda. Ele nega apoiar o terrorismo.
Christopher Heffelfinger, um analista da ideologia da jihad no Centro de Combate ao Terrorismo, em West Point, diz que Bin Laden e Al Zawahiri repetidamente sugeriram uma estratégia descrita como "sangramento até a bancarrota", que terminaria por forçar os EUA a abandonar sua presença em países muçulmanos. Sageman observa que os custos totais para os EUA até agora, incluindo Iraque, Afeganistão e segurança interna, estão perto do US$ 1 trilhão. "Já o custo para a Al Qaeda foi da ordem de alguns milhões de dólares."


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