São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2007

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General não convence Congresso dos EUA

Comandante no Iraque enfrenta ceticismo até de republicanos, mas Bush deve anunciar que adotará sua recomendação

"Fracasso" define a guerra, segundo 60% dos eleitores americanos considerados independentes; entre os democratas, cifra vai a 80%

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Em seu segundo dia de depoimentos ao Congresso, o general David Petraeus, comandante militar dos EUA no Iraque, foi vítima de "fogo amigo". Pela tibieza e falta de novidades, o relato que fez dos supostos progressos no conflito e a estratégia que ofereceu para os próximos meses mereceu críticas até mesmo de senadores republicanos, do partido do presidente George W. Bush.
"Para onde isso está indo?", perguntou Chuck Hagel, um dos mais incisivos. "Nós vamos continuar a investir sangue e recursos americanos com a mesma velocidade que estamos fazendo agora? Para quê?" Linha semelhante seguiu seu colega Richard Lugar, também da situação: "Não é suficiente pedir paciência até a próxima meta". Já Norm Coleman usou uma frase comum durante a Guerra do Vietnã nos anos 70: "Os americanos querem ver uma luz no fim do túnel".
Fora do Congresso, houve mesmo quem comparasse o desempenho do militar ao de Colin Powell na pré-invasão do Iraque, na ONU, em que o então secretário de Estado mostrou mapas que depois se revelariam imprecisos. "Powell usou informação ruim para nos levar à guerra, e Petraeus está usando informação ruim para nos manter lá", disse o especialista em contrainsurgência John Arquilla, da Naval Postgraduate School, ao site da revista semanal "Newsweek".
A reação negativa levou altos funcionários da Casa Branca a anteciparem à agência de notícias Associated Press o anúncio de que o presidente aceitaria as recomendações de Petraeus no tocante à volta do número de tropas no Iraque para os níveis de janeiro deste ano nos próximos doze meses. Bush, que nos últimos oito meses mandou mais 36 mil militares para o Iraque, deve anunciar a medida num discurso amanhã à noite.
Condicionará a redução dos soldados a metas que deverão ser cumpridas pelo governo iraquiano. Sua decisão não chega a surpreender, pois o presidente e o general vêm trabalhando lado a lado nessa nova investida para vender a causa da guerra à opinião pública.
Além disso, o Exército norte-americano já trabalha no limite, e especialistas militares apontam que o número de soldados não poderia ser mantido nos níveis atuais após agosto do ano que vem, com ou sem sugestão de Petraeus e anúncio de Bush. Há hoje 168 mil soldados no Iraque.
O general foi criticado também pela falta de novidades num depoimento que até ser feito era encarado como potencialmente "decisivo". Ao apontar, por exemplo, que há seis meses ninguém poderia prever o sucesso na Província de Anbar, usada como cartão-postal do sucesso do aumento de tropas pelo presidente, Petraeus evitou dizer que ele próprio previu isso -há seis meses, em depoimento ao Congresso.
A saraivada verbal de que foi vítima o militar reanimou os democratas a tentar passar legislação antiguerra. Hoje, a oposição conta com 51 dos cem votos do Senado, mas os republicanos precisam de apenas 41 de seus 49 senadores para barrar atos que envolvam o conflito. Agora, calcula-se, os críticos republicanos já somariam os oito votos necessários.
Depois dos depoimentos, o general e o embaixador dos EUA no Iraque, Ryan Crocker, foram recebidos por Bush e Laura na Casa Branca, onde se encontrariam também com lideranças dos dois partidos. O porta-voz de Bush, Tony Snow, defendeu o desempenho da dupla: a tendência, disse, "aponta para o sucesso, e, se você tem algo que está sendo bem-sucedido, quer mais."
Não é o que mostra pesquisa de opinião divulgada ontem pela Associated Press: consideram fracassada a Guerra do Iraque oito em cada dez eleitores democratas, 30% dos republicanos e -número mais temido pelos pré-candidatos às eleições de 2008- 60% dos entrevistados que se consideram independentes.


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