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General não convence Congresso dos EUA
Comandante no Iraque enfrenta ceticismo até de republicanos, mas Bush deve anunciar que adotará sua recomendação
"Fracasso" define a guerra, segundo 60% dos eleitores americanos considerados independentes; entre os democratas, cifra vai a 80%
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Em seu segundo dia de depoimentos ao Congresso, o general David Petraeus, comandante militar dos EUA no Iraque, foi vítima de "fogo amigo".
Pela tibieza e falta de novidades, o relato que fez dos supostos progressos no conflito e a
estratégia que ofereceu para os
próximos meses mereceu críticas até mesmo de senadores republicanos, do partido do presidente George W. Bush.
"Para onde isso está indo?",
perguntou Chuck Hagel, um
dos mais incisivos. "Nós vamos
continuar a investir sangue e
recursos americanos com a
mesma velocidade que estamos
fazendo agora? Para quê?" Linha semelhante seguiu seu colega Richard Lugar, também da
situação: "Não é suficiente pedir paciência até a próxima meta". Já Norm Coleman usou
uma frase comum durante a
Guerra do Vietnã nos anos 70:
"Os americanos querem ver
uma luz no fim do túnel".
Fora do Congresso, houve
mesmo quem comparasse o desempenho do militar ao de Colin Powell na pré-invasão do
Iraque, na ONU, em que o então secretário de Estado mostrou mapas que depois se revelariam imprecisos. "Powell
usou informação ruim para nos
levar à guerra, e Petraeus está
usando informação ruim para
nos manter lá", disse o especialista em contrainsurgência
John Arquilla, da Naval Postgraduate School, ao site da revista semanal "Newsweek".
A reação negativa levou altos
funcionários da Casa Branca a
anteciparem à agência de notícias Associated Press o anúncio
de que o presidente aceitaria as
recomendações de Petraeus no
tocante à volta do número de
tropas no Iraque para os níveis
de janeiro deste ano nos próximos doze meses. Bush, que nos
últimos oito meses mandou
mais 36 mil militares para o
Iraque, deve anunciar a medida
num discurso amanhã à noite.
Condicionará a redução dos
soldados a metas que deverão
ser cumpridas pelo governo
iraquiano. Sua decisão não chega a surpreender, pois o presidente e o general vêm trabalhando lado a lado nessa nova
investida para vender a causa
da guerra à opinião pública.
Além disso, o Exército norte-americano já trabalha no limite, e especialistas militares
apontam que o número de soldados não poderia ser mantido
nos níveis atuais após agosto do
ano que vem, com ou sem sugestão de Petraeus e anúncio de
Bush. Há hoje 168 mil soldados
no Iraque.
O general foi criticado também pela falta de novidades
num depoimento que até ser
feito era encarado como potencialmente "decisivo". Ao apontar, por exemplo, que há seis
meses ninguém poderia prever
o sucesso na Província de Anbar, usada como cartão-postal
do sucesso do aumento de tropas pelo presidente, Petraeus
evitou dizer que ele próprio
previu isso -há seis meses, em
depoimento ao Congresso.
A saraivada verbal de que foi
vítima o militar reanimou os
democratas a tentar passar legislação antiguerra. Hoje, a
oposição conta com 51 dos cem
votos do Senado, mas os republicanos precisam de apenas 41
de seus 49 senadores para barrar atos que envolvam o conflito. Agora, calcula-se, os críticos
republicanos já somariam os
oito votos necessários.
Depois dos depoimentos, o
general e o embaixador dos
EUA no Iraque, Ryan Crocker,
foram recebidos por Bush e
Laura na Casa Branca, onde se
encontrariam também com lideranças dos dois partidos. O
porta-voz de Bush, Tony Snow,
defendeu o desempenho da dupla: a tendência, disse, "aponta
para o sucesso, e, se você tem
algo que está sendo bem-sucedido, quer mais."
Não é o que mostra pesquisa
de opinião divulgada ontem pela Associated Press: consideram fracassada a Guerra do Iraque oito em cada dez eleitores
democratas, 30% dos republicanos e -número mais temido
pelos pré-candidatos às eleições de 2008- 60% dos entrevistados que se consideram independentes.
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