São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2007

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Cor rosa em usina desafia alemães

Alto-forno com nova decoração mexe com preconceitos de operários e engenheiros em siderúrgica

Experiência de arquiteto para driblar perfil cinzento de zona industrial em Duisburg será reproduzida em fábrica no Rio de Janeiro

Sérgio Costa/Folha Imagem
O alto-forno de siderúrgia da ThyssenKrupp na Alemanha; detalhes em rosa causaram polêmica


SERGIO COSTA
ENVIADO ESPECIAL A DUSSELDORF, ALEMANHA

Um alto-forno pintado de rosa vem dando o que falar numa usina siderúrgica alemã. No ambiente de absoluta maioria masculina, a tentativa de transformar o conjunto industrial -que costuma ser sombrio em qualquer lugar do mundo- em algo mais leve provocou rejeição de operários e engenheiros.
Mas é de propósito. Associada ao universo feminino, a cor rosa tem na Alemanha a mesma conotação gay que lhe é atribuída em ambientes mais conservadores no Brasil. Isso foi levado em conta pelo arquiteto que infiltrou uma paleta de cores em meio ao metal pesado de uma fábrica de aço.
Friedrich Ernst von Garnier, 72, responsável pelo projeto que está mudando a paisagem industrial de Duisburg (a cerca de 30 km de Dusseldorf, noroeste da Alemanha), aposta no verde, no amarelo, no azul e, de quebra, no rosa para colorir um lugar onde antes só se via marrom, cinza e fumaça -esta segue parte da paisagem.
"Quando as pessoas se vêem num ambiente pintado com uma cor que elas rejeitam, tendem a se afastar. E o alto-forno é um lugar de alto risco, por funcionar anos a fio sem interrupção e sempre a altíssimas temperaturas. Assim, é melhor que quem não estiveja ligado à operação se afaste dali", diz.
A polêmica cor-de-rosa promete chegar ao Brasil em 2009, quando a multinacional alemã ThyssenKrupp Steel deverá inaugurar uma usina siderúrgica no bairro de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, para produzir placas de aço voltadas para a exportação. A siderúrgica CSA é um investimento de 3 bilhões (cerca de R$ 8,1 bi) para abastecer os mercados europeu e americano. O Brasil é auto-suficiente no setor.
No Rio, Garnier pretende fazer, ao menos na parte estética, uma usina bem diferente da imagem "heavy metal" de, entre outras, a CSN de Volta Redonda, a primeira siderúrgica do país. As cores básicas, segundo ele, deverão ser o amarelo, azul e verde. Mas o rosa também estará presente.
"É uma cor considerada "quente" na Alemanha, mas no Brasil as áreas de segurança deverão ser amarelas, conforme obriga a legislação", diz.
Entre o grupo de mais de 20 engenheiros que a sede da empresa está treinando em Duisburg para atuar na operação no Brasil, o rosa do alto-forno é sempre motivo de piada. Sem querer se identificar, um deles brinca dizendo que quem trabalhar no setor "rosa" da indústria no Brasil terá que usar macacão da mesma cor.
Alguns engenheiros aproveitam para tornar explícita a eterna rivalidade que têm com os arquitetos. Dizem que o excesso de cores pode não ser tão funcional quanto o anunciado por Garnier. E alegam que é uma fábrica que sempre gera resíduos pelo tipo de atividade (que tem como ingredientes minério de ferro e carvão, por exemplo), e que algo muito colorido pode atrapalhar.
Garnier rebate a tese. Para ele, um ambiente mais claro acaba forçando um cuidado maior dos funcionários com a limpeza e a manutenção. Ele chega a dizer que, com as cores mais alegres, criou um novo fluxo de movimento na indústria, novos pontos de convergência para os trabalhadores.
Muito mais colorida, a siderúrgica de Duisburg é bem diferente do que normalmente se espera ver em um conjunto industrial montado para produzir aço. "Parece que nós temos o primeiro alto-forno gay do mundo", brincou um dos dirigentes da companhia, durante jantar com jornalistas convidados para conhecer as instalações da empresa na Alemanha nesta semana.

O jornalista Sergio Costa viajou a convite da ThyssenKrupp Steel


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