São Paulo, sábado, 12 de setembro de 2009

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Vice articula oposição contra projeto de lei de mídia de Cristina

Governo cobra renúncia de Julio Cobos, que tenta evitar que a aprovação ocorra antes da posse de Congresso opositor

Vice-presidente qualifica a blitz de anteontem da Receita no jornal "Clarín" de "megaoperação de traço fascista e antidemocrático"


DE BUENOS AIRES

O vice-presidente argentino, Julio Cobos, tornou pública sua oposição ao projeto do governo de Lei de Serviços Audiovisuais, foco da disputa com o Grupo Clarín, e a Casa Rosada pediu sua renúncia.
Na noite de quinta, o vice, que acumula a presidência do Senado, de acordo com as regras institucionais argentinas, recebeu um grupo com as principais lideranças da oposição ao governo de Cristina Kirchner, incluindo o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, e o deputado Francisco De Narváez.
Após o encontro, o grupo se deixou fotografar e anunciou que, caso a lei seja aprovada pelo Congresso antes de 10 de dezembro -quando assumem os parlamentares eleitos em junho passado, e o Legislativo passa a ter maioria opositora ao governo- usarão um expediente para que a lei seja revista pela nova legislatura.
Cobos tem ainda outra estratégia para dificultar o trâmite veloz que o governo tenta imprimir ao projeto. Como presidente do Senado, ele tem a prerrogativa de encaminhar projetos de lei para a análise de subcomissões. Segundo informações extraoficiais, ele deverá enviar a Lei de Serviços de Radiodifusão para mais comissões do que as três pretendidas pelo governo, como forma de atrasar sua apreciação.
"É um espanto que o companheiro de chapa da presidente esteja jogando contra", afirmou ontem Aníbal Fernández, chefe de gabinete de Cristina.
Fernández disse que os gestos opositores de Cobos "o obrigariam a se afastar ou a se colocar num âmbito em que, no mínimo, não colidisse com o governo".
Além de fechar acordo com a oposição na noite de quinta, Cobos também se manifestou com veemência contra a blitz realizada pela Receita Federal na sede do jornal "Clarín".
Ele afirmou que o diretor da Receita, Ricardo Echegaray, "deve dar explicações sobre essa megaoperação de traço fascista, violento e antidemocrático, casualmente [ocorrida] no meio de um não debate sobre uma nova lei de meios [de comunicação]".
A Lei de Serviços Audiovisuais vem sendo discutida no Congresso em audiências públicas, mas a oposição afirma que os parlamentares governistas manipulam a pauta, impedindo que a maioria dos inscritos fale e que os principais questionamentos sejam feitos.

Estratégia governista
Em reportagem publicada ontem, o "Clarín" afirmou que há um "plano secreto" do governo para contornar a oposição de Cobos, na primeira votação decisiva sobre a Lei de Serviços de Radiodifusão.
A votação na Câmara -que fará avançar ou não o projeto em direção ao Senado- seria marcada para o próximo dia 23, quando Cristina Kirchner viaja para reunião do G20 nos Estados Unidos, e Cobos assume como presidente em exercício, não podendo, portanto, estar no Congresso.
Cobos é virtual pré-candidato à sucessão de Cristina Kirchner nas eleições de 2011. Ex-governador de Mendoza, onde nasceu, o vice-presidente construiu sua carreira política na União Cívica Radical (UCR), partido opositor ao peronista PJ, do casal Kirchner.
Em 2007, quando se aliou ao kirchnerismo para integrar a chapa de Cristina nas eleições presidenciais, Cobos foi expulso da UCR.
Ele se reaproximou do partido quando passou a ser um opositor de Cristina na Casa Rosada. Com o voto decisivo de Cobos, Cristina amargou sua maior derrota, no conflito com o setor agropecuário, em 2008.


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