|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Vice articula oposição contra projeto de lei de mídia de Cristina
Governo cobra renúncia de Julio Cobos, que tenta evitar que a aprovação ocorra antes da posse de Congresso opositor
Vice-presidente qualifica
a blitz de anteontem da Receita no jornal "Clarín" de "megaoperação de traço fascista e antidemocrático"
DE BUENOS AIRES
O vice-presidente argentino,
Julio Cobos, tornou pública sua
oposição ao projeto do governo
de Lei de Serviços Audiovisuais, foco da disputa com o
Grupo Clarín, e a Casa Rosada
pediu sua renúncia.
Na noite de quinta, o vice,
que acumula a presidência do
Senado, de acordo com as regras institucionais argentinas,
recebeu um grupo com as principais lideranças da oposição ao
governo de Cristina Kirchner,
incluindo o prefeito de Buenos
Aires, Mauricio Macri, e o deputado Francisco De Narváez.
Após o encontro, o grupo se
deixou fotografar e anunciou
que, caso a lei seja aprovada pelo Congresso antes de 10 de dezembro -quando assumem os
parlamentares eleitos em junho passado, e o Legislativo
passa a ter maioria opositora ao
governo- usarão um expediente para que a lei seja revista
pela nova legislatura.
Cobos tem ainda outra estratégia para dificultar o trâmite
veloz que o governo tenta imprimir ao projeto. Como presidente do Senado, ele tem a
prerrogativa de encaminhar
projetos de lei para a análise de
subcomissões. Segundo informações extraoficiais, ele deverá
enviar a Lei de Serviços de Radiodifusão para mais comissões do que as três pretendidas
pelo governo, como forma de
atrasar sua apreciação.
"É um espanto que o companheiro de chapa da presidente
esteja jogando contra", afirmou
ontem Aníbal Fernández, chefe
de gabinete de Cristina.
Fernández disse que os gestos opositores de Cobos "o
obrigariam a se afastar ou a se
colocar num âmbito em que, no
mínimo, não colidisse com o
governo".
Além de fechar acordo com a
oposição na noite de quinta,
Cobos também se manifestou
com veemência contra a blitz
realizada pela Receita Federal
na sede do jornal "Clarín".
Ele afirmou que o diretor da
Receita, Ricardo Echegaray,
"deve dar explicações sobre essa megaoperação de traço fascista, violento e antidemocrático, casualmente [ocorrida] no
meio de um não debate sobre
uma nova lei de meios [de comunicação]".
A Lei de Serviços Audiovisuais vem sendo discutida no
Congresso em audiências públicas, mas a oposição afirma
que os parlamentares governistas manipulam a pauta, impedindo que a maioria dos inscritos fale e que os principais
questionamentos sejam feitos.
Estratégia governista
Em reportagem publicada
ontem, o "Clarín" afirmou que
há um "plano secreto" do governo para contornar a oposição de Cobos, na primeira votação decisiva sobre a Lei de Serviços de Radiodifusão.
A votação na Câmara -que
fará avançar ou não o projeto
em direção ao Senado- seria
marcada para o próximo dia 23,
quando Cristina Kirchner viaja
para reunião do G20 nos Estados Unidos, e Cobos assume como presidente em exercício,
não podendo, portanto, estar
no Congresso.
Cobos é virtual pré-candidato à sucessão de Cristina Kirchner nas eleições de 2011. Ex-governador de Mendoza, onde
nasceu, o vice-presidente construiu sua carreira política na
União Cívica Radical (UCR),
partido opositor ao peronista
PJ, do casal Kirchner.
Em 2007, quando se aliou ao
kirchnerismo para integrar a
chapa de Cristina nas eleições
presidenciais, Cobos foi expulso da UCR.
Ele se reaproximou do partido quando passou a ser um
opositor de Cristina na Casa
Rosada. Com o voto decisivo de
Cobos, Cristina amargou sua
maior derrota, no conflito com
o setor agropecuário, em 2008.
Texto Anterior: Receita também foi a casas de empresários Próximo Texto: Chile debate lei para tirar verba do cobre de militares Índice
|