São Paulo, sábado, 12 de setembro de 1998

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ESCÂNDALO NA CASA BRANCA
Documento colocado na Internet defende que acusações justificam impeachment e traz detalhes explícitos
Relatório acusa Clinton de 11 crimes

France Presse
Funcionário da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos manipula documentos do relatório de Starr


CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

O relatório do promotor independente Kenneth Starr acusa o presidente dos EUA, Bill Clinton, de ter cometido 11 crimes que podem justificar seu impeachment.
Todas as acusações se enquadram em uma das seguintes quatro categorias: falso testemunho, obstrução da Justiça, abuso de poder e constrangimento de testemunhas. O documento foi colocado ontem na Internet.
Os advogados do presidente rechaçaram o relatório mesmo antes de o terem visto. Em texto distribuído a jornalistas, dizem que o presidente cometeu "um erro particular", e não delitos capazes de justificar seu impeachment.
O texto das 445 páginas do relatório de Starr traz detalhes minuciosos, alguns surpreendentes, sobre o tipo de contatos físicos que Lewinsky diz ter tido com Clinton.
Ela diz ter feito sexo oral com o presidente enquanto ele conversava ao telefone com políticos e que, em uma ocasião, ele colocou um charuto apagado na vagina dela.
O promotor independente justificou a inclusão desse tipo de descrição para caracterizar que o presidente mentiu em juízo, primeiro ao negar categoricamente que tivesse tido relações sexuais com ela e, depois, ao afirmar que essa negativa era "legalmente acurada".
Segundo advogados de Clinton, o presidente interpretou o termo "relação sexual" como relação sexual completa, o que nunca ocorreu, segundo a própria Lewinsky. Para eles, Starr divulgou os detalhes só para humilhar o presidente.
Lewinsky afirma em seu depoimento que Clinton lhe dizia se sentir "jovem" quando estava com ela e que eles costumavam se chamar de "bonitão" e "docinho".
O relatório também afirma que o exame do DNA do presidente revelou que ele é igual ao do sêmen encontrado em vestido de Lewinsky e que as chances de Clinton não ter sido a pessoa que o manchou são de uma em 7,87 trilhões.
A defesa de Clinton argumenta que essa informação deixou de ter qualquer importância desde que o presidente admitiu ter mantido uma relação "não apropriada" com Lewinsky. O relatório do promotor ressalta que Clinton só se dispôs a reconhecer esse fato depois de ter sabido que os laboratórios da polícia federal (FBI) haviam achado sêmen no vestido.
Starr diz que o presidente orientou sua secretária, Betty Currie, e Lewinsky sobre como deveriam testemunhar em juízo a respeito da relações com a então estagiária.
Os advogados de Clinton negam que isso tenha ocorrido e que o presidente teve apenas conversas legais e abertas com essas pessoas.
O relatório acusa Clinton de obstrução da Justiça por ter sugerido a Lewinsky que se desfizesse de presentes que ele lhe dera e que a Justiça a havia intimado a entregar. A Casa Branca nega a acusação.
O promotor independente afirma que o presidente abusou do poder da Presidência ao usar funcionários públicos para divulgar ao público e à Justiça o que ele sabia serem mentiras e para defendê-lo.
Os advogados de Clinton dizem que a utilização da equipe da Casa Branca pelo presidente foi legal.
Apenas o caso Lewinsky consta do relatório enviado ao Congresso anteontem. Os outros episódios investigados por Starr são referidos por ele no texto apenas de passagem. Os advogados de Clinton ressaltam essa ausência ao perguntarem ao promotor, no final da resposta escrita que divulgaram ontem: "Onde está Whitewater?"
Starr ainda pode enviar ao Congresso outros relatórios sobre Whitewater (denúncias sobre ilegalidades financeiras do casal Clinton nos anos 80), Filegate (uso com fins políticos de pastas do FBI de adversários) e Travelgate (acusações de corrupção no escritório de viagens da Casa Branca).



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