São Paulo, sábado, 12 de setembro de 1998

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CRISE NA RÚSSIA
Gestão Primakov pode desacelerar reformas
Neocomunistas vão conduzir economia

JAIME SPITZCOVSKY
enviado especial a Moscou

O novo primeiro-ministro russo, Ievguêni Primakov, após ser aprovado ontem no cargo por votação no Parlamento, nomeou o neocomunista Iuri Masliukov vice-premiê responsável pela política econômica do governo.
É a primeira vez desde o fim da URSS, em 91, que os autodenominados herdeiros do sistema comunista controlam um posto tão importante no governo da Rússia.
A confirmação de Primakov, um ex-chanceler sem partido, suspende uma crise política que se arrastava desde 23 de agosto. A montagem de sua equipe mostra que a Rússia abandona as reformas aceleradas pró-capitalismo em troca de uma política favorável a maior intervenção estatal na economia.
Primakov teve 317 votos a favor, 63 contra e 15 abstenções. Recebeu apoio dos ieltsinistas, neocomunistas e da oposição liberal.
Ieltsin, 67, havia anunciado anteontem a indicação de Primakov, 68, depois de ver sua opção inicial, Viktor Tchernomirdin, rejeitada duas vezes por votação na Duma (câmara baixa do Parlamento).
A bancada neocomunista, a maior na Duma, comandava a resistência a Tchernomirdin, premiê entre 92 e março passado.
Os neocomunistas o acusam de responsável pela turbulência atual, alimentada por instabilidade cambial, ressurgimento da inflação, queda nas Bolsas e moratória parcial nas dívidas externa e interna.
O país atravessa sua pior crise desde o fim do império soviético em 1991. A URSS era um mosaico formado por 15 repúblicas, e a Rússia era a maior entre elas.
Primakov, que foi chefe do serviço de espionagem no início do governo Ieltsin, manteve alguns dos principais ministros para contrabalançar a presença de neocomunistas no comando da economia.
Reformistas como o ministro da Defesa, Igor Sergueiev, e o ministro do Interior, Serguei Stepashin, seguem no gabinete. Igor Ivanov, vice de Primakov na chancelaria, assumiu o Ministério do Exterior.
Primakov pediu aos deputados "trégua" de seis meses. Disse que os tradicionais "cem dias" seriam pouco para julgar seu governo.



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