São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Seguidores de Al Sadr aderem ao plano de paz do governo interino; mais dois reféns são decapitados

Insurgentes trocam armas por dinheiro

DA REDAÇÃO

Integrantes do Exército Mehdi, milícia ligada ao clérigo xiita radical Moqtada al Sadr, começaram ontem a trocar suas armas por dinheiro no bairro de Sadr City, em Bagdá. O plano de desarmamento tem a duração prevista de cinco dias, depois dos quais a polícia e a Guarda Nacional iraquianas assumirão o controle da área.
"Entreguei minhas armas. Estou com o governo interino agora", disse Ahmed Hashem, que ganhou US$ 1.100 por 22 granadas-foguetes. Os valores pagos vão de US$ 5 (granada de mão) a mais de US$ 1.000 (armas de alto calibre), passando pelos US$ 50 que vale um fuzil AK-47.
Karim Bakhati, um líder tribal xiita que participou das negociações para o desarmamento, disse esperar que a paz volte ao bairro pobre de 2 milhões de habitantes, principal bastião da resistência em Bagdá à presença de tropas estrangeiras no país. "Todos os guerreiros que seguem Al Sadr entregarão suas armas. Aqueles que não o fizerem serão considerados rebeldes", disse Bakhati.
Abdul Karim al Saffar, uma autoridade iraquiana de segurança, estima que serão gastos até US$ 500 mil no programa de entrega de armas. Para conseguir o acordo, o governo interino também anunciou a disposição de investir até US$ 500 milhões em melhorias para o bairro.
"Antes que o processo esteja completo e antes que o governo iraquiano esteja satisfeito, é muito cedo para dizer que [o programa] é um sucesso", disse James Hutton, porta-voz militar dos EUA.
As autoridades esperam reproduzir a iniciativa em outros locais. Os dois lados, no entanto, têm muitas desconfianças. Já foram feitas diversas tréguas com os seguidores de Al Sadr -e nenhuma delas durou mais do que 40 dias. A principal aconteceu em agosto, no fim do cerco a Najaf (sul). Os insurgentes saíram com suas armas, e, pouco depois, os combates se intensificaram em Sadr City.
Também acontecem negociações de paz em Fallujah (oeste). Representantes da cidade, onde é forte a resistência sunita, reuniram-se com o ministro da Defesa iraquiano, Hazim Shaalan.
Um site islâmico exibiu ontem o vídeo da decapitação de dois reféns. Um deles é Maher Kemal, empresário turco, e o outro, Luqman Hussein, um tradutor curdo.
Comunicados divulgados na internet afirmam que eles foram mortos pelo grupo terrorista Ansar al Sunna, o mesmo que havia reivindicado o assassinato de 12 nepaleses em agosto.
A rede de TV Al Arabiya reproduziu gravação em que três homens encapuzados ameaçam matar outro refém turco no prazo de três dias, a menos que todos os cidadãos da Turquia deixem o país e os prisioneiros iraquianos sejam libertados das prisões.
Na zona sul de Bagdá, dois soldados americanos morreram durante um ataque com foguetes. Em Mossul (noroeste), outro soldado morreu quando insurgentes atacaram um comboio militar dos EUA. Em Hit (oeste), os americanos bombardearam uma mesquita depois que insurgentes buscaram abrigo no local após choque com marines.

Ameaça nuclear
A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) manifestou ontem preocupação com o extravio de equipamentos de alta precisão das instalações nucleares do Iraque, que poderiam ser usados na fabricação de bombas.
Em carta ao Conselho de Segurança da ONU, Mohamed El Baradei, chefe da AIEA, disse que "o desaparecimento desses equipamentos e materiais pode ter impacto na proliferação [de armas]. Qualquer nação que tiver informações sobre a localização desses itens deve repassá-las à AIEA".


Com agências internacionais


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