São Paulo, segunda, 12 de outubro de 1998

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POLÊMICA
Transformação de Edith Stein em santa gera protesto da comunidade judaica; religiosa se converteu ao catolicismo
Papa canoniza judia morta por nazistas

das agências internacionais

O papa João Paulo canonizou ontem, na praça São Pedro, a religiosa alemã Edith Stein, que nasceu judia, mas se converteu ao catolicismo.
Stein, ou Santa Teresa Benedita da Cruz, é provavelmente a primeira pessoa de origem judaica a ser canonizada depois dos apóstolos. Durante a solenidade, o pontífice anunciou que o Shoah, genocídio judeu, será relembrado pela Igreja Católica todos os anos no dia 9 de agosto, dia da morte da nova santa.
A alemã morreu no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, durante a Segunda Guerra. O papa condenou o Holocausto e pediu que "jamais se repita uma iniciativa criminosa similar para nenhum grupo étnico, nenhum povo, nenhuma raça, em nenhum lugar da Terra".
Para o pontífice, o testemunho de Stein deve solidificar cada vez mais a ponte de recíproca compreensão entre judeus e cristãos. Ele afirmou que Stein era "filha de Israel e filha fiel da igreja".
Apesar do discurso de conciliação do papa, líderes judeus reagiram com indignação à canonização de Stein. Eles consideraram o ato como um ofensa à memória das vítimas do Holocausto.
"Isso é uma grande bofetada na face da comunidade judaica", disse Efraim Zuroff, chefe do Centro Simon Wiesenthal, em Jerusalém.
"O papa está mandando uma mensagem extremamente negativa para a comunidade judaica de que nos olhos da Igreja Católica os melhores judeus são aqueles que se converteram ao catolicismo."
A comunidade judaica diz que a morte de Stein se deveu ao fato de ela ser judia. A igreja diz que Stein foi morta não só por sua origem, mas por pertencer à Igreja Católica da Holanda, cuja oposição ao nazismo gerou perseguição de judeus convertidos ao catolicismo.



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