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São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2003

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Líderes tribais dizem não poder ajudar os EUA

SUSAN SACHS
DO "NEW YORK TIMES" EM FALLUJAH

Como líder tribal na cidade mais tensa do Iraque, o xeque Khamis el Essawi conheceu tantos comandantes americanos nos últimos sete meses que nem consegue enumerá-los.
Todos lhe pediram a mesma coisa: que usasse sua autoridade para pôr fim aos ataques de guerrilha contra os soldados.
Khamis -cuja tribo, os Buessa, controla uma região fértil ao longo do rio Eufrates- diz que continua dando a mesma resposta: que sua influência não é mais a mesma.
"Toda vez que chega um novo grupo [militar], os comandantes nos chamam e nos dizem a mesma coisa", disse o xeque no último sábado, após se reunir com o general John Abizaid, chefe do Comando Central Americano e seu visitante mais graduado até agora. "Mas eles não entendem que os xeques não podem controlar essa gente que está promovendo os ataques. Pode acreditar, eles não vão me ouvir."
No sul do país, onde predominam os xiitas, um grupo coeso de clérigos se estabeleceu como autoridade regional logo que os combates terminaram oficialmente, em maio, pedindo a seus seguidores que tolerassem a ocupação. No norte, dominado há anos pelos curdos, a violência também tem sido bem menor.
Mas em Fallujah e em cidades semelhantes na região do Triângulo Sunita, no noroeste do Iraque, Saddam Hussein dizimou de tal forma a hierarquia social natural que nenhum grupo pôde ainda preencher o vácuo aberto com o fim de seu regime.
"Sentimos falta do apoio que o governo costumava nos dar", disse Khamis. "Agora é o Estado que vem nos pedir ajuda."
Potências imperiais que ocuparam a região no passado, como os turcos otomanos e depois os britânicos, mantinham a ordem na região mantendo as tribos ocupadas com problemas internos ou comprando sua lealdade com terras. A nova potência ocupante recorreu à mesma fórmula, mas mudou os ingredientes e não obteve resultados.
Sob o governo de Saddam, os líderes tribais eram uma extensão do partido Baath, o que os fazia parecer irrelevantes para muitos de seus seguidores. Em 1990, o ex-ditador dissolveu ainda mais a autoridade tribal com sua "campanha de fé", que impôs uma classe de clérigos sunitas militantes acima dos líderes tribais.
Desde a tomada de Bagdá, em abril, cinco comandantes americanos diferentes tentaram conter a violência em Fallujah, uma cidade de 450 mil habitantes que vivia praticamente à custa de favores da ditadura de Saddam.
Quase todos os dias, bombas explodem na cidade ao lado de comboios americanos, granadas-foguetes são disparadas contra patrulhas ou soldados invadem a casa de suspeitos. Nas ruas principais da cidade, há faixas novas exortando as pessoas a matarem "traidores" iraquianos e soldados americanos. A prefeitura, onde trabalha um prefeito nomeado pelos EUA, é alvo constante de granadas-foguetes.
Ainda assim, o novo comandante americano na região está confiante e acredita ter achado a melhor combinação entre a força militar, a persuasão e a expectativa de um futuro melhor.
"É isso que oferecemos", disse o coronel Brian M. Drinkwine, da 82ª Divisão Aerotransportada, que assumiu o cargo há dois meses. "Se Fallujah e suas proximidades estiverem seguras, a coalizão e a comunidade internacional vão investir aqui."
O coronel Drinkwine realocou milhares de dólares para restaurar escolas e hospitais e, como seu conselheiro para questões tribais e religiosas, escolheu um jovem médico de origem árabe em sua tropa, o recruta Khaled Dudin.
Mas nada é simples em Fallujah, com sua mistura de líderes tribais, aspirantes ao poder, clérigos de diferentes correntes e uma população marcada pela hostilidade contra os EUA.


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