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entrevista
"Poder dos EUA deve ser reduzido"
DE WASHINGTON
Princípio do "canivete suíço"? Criação de um "Conselho de Democracias"? Na
sexta à tarde, John Ikenberry, professor de Princeton e um dos autores do Projeto Princeton de Segurança
Nacional, falou à Folha do
programa, que ganhou fôlego com a vitória democrata.
(SD)
FOLHA - O projeto prevê uma estratégia para a política externa
norte-americana que integre o
"poder da coerção" com o "poder
da atração". Como isso funcionaria, por exemplo, nos casos do Irã
e da Coréia do Norte?
JOHN IKENBERRY - Nesses casos, temos de usar as duas táticas simultaneamente. Deixar claro que haverá um custo aos regimes que não operarem dentro do Tratado de
Não-Proliferação Nuclear.
Ao mesmo tempo, oferecer
alguma forma de inserção
desses países na comunidade
internacional.
FOLHA - Como conciliar essa
abordagem com a política de um
presidente que defende a guerra
preventiva e coloca países no "eixo do mal"?
IKENBERRY - Argumentamos
que é mais importante sermos criativos e tentarmos
criar um sistema internacional em que a democracia
possa operar. Tentamos usar
de uma forma mais inteligente a influência norte-americana para apoiar e implantar a democracia no
mundo inteiro. As alianças
que os EUA construíram ao
longo dos anos são muito importantes.
FOLHA - Explique o conceito de
"canivete suíço".
IKENBERRY - Ao olharmos para o futuro, 2020, 2025, acreditamos que ameaças múltiplas e vários desafios demandarão a atenção da política
externa norte-americana.
Não haverá um só tema, como terrorismo. Por exemplo,
a ascensão da China e da Índia, pandemias globais, instabilidade econômica mundial. Quando falamos de "canivete suíço", queremos dizer que precisamos de uma
estratégia internacional
mais inteligente, que permita múltiplas opções de ação.
FOLHA - E o "Conselho de Democracias"?
IKENBERRY - É uma tentativa
de atualizar a ordem mundial. Queremos muito ver a
ONU reformada, e o Conselho de Democracias seria
quase como um lobby reformista, uma coalizão global de
democracias, assim não seria
apenas o velho grupo da
Otan (a aliança militar de
norte-americanos e europeus), mas também Coréia,
Japão, Índia, Brasil, México.
Se a ONU não for reformada em dez ou 15 anos, achamos que será preciso uma
nova organização que possa
ajudar a facilitar as decisões
sobre o uso da força. Queremos que seja a salvação da
ONU, não a substituição da
ONU, mas, se essa organização não for reformulada, certamente terá de ser suplementada. Idealizamos uma
organização abaixo da Otan e
acima da ONU.
FOLHA - Como o projeto lida
com o fato de os EUA serem uma
potência hegemônica?
IKENBERRY - É uma pergunta
importante: um mundo com
apenas uma superpotência é
estável? Somente se essa potência se comprometer a
aceitar restrições estratégicas e se dobrar à comunidade
global por meio de regras e
instituições. Isso reduz a insegurança que outros países
sentem por haver apenas
uma grande potência.
Para construir uma nova
ordem liberal, como fizemos
nos anos 40, precisamos reduzir o papel da força e enfatizar o papel da legitimidade.
A ordem liberal precisa que a
superpotência tenha seus
poderes reduzidos, e que seja
reduzida também a ameaça
de que essa superpotência se
transforme em um império.
Dessa forma o poder dos
EUA fica menos controvertido e isso reduz o antiamericanismo. É da maior importância para os EUA que o país
restrinja seu poder.
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