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Obama não pode ceder ao protecionismo
MARTIN WOLF
DO "FINANCIAL TIMES"
Ao eleger Barack Hussein
Obama à Presidência, o povo
dos EUA rejeitou a política
do medo e da divisão que tantos danos causou ao país.
Mas a eleição é apenas o
começo. Poucos presidentes
tiveram de enfrentar maiores desafios, e entre eles devemos incluir dois dos maiores líderes americanos,
Abraham Lincoln e Franklin
Roosevelt. Obama se vê como herdeiro de ambos. A
questão é determinar se ele
será capaz de se aproximar
de suas realizações.
A agenda do novo presidente é assustadora. O poderio de seu país também se reduziu. Mas os EUA continuam a ser a maior potência,
e o único líder, do planeta.
Os acontecimentos ditarão as prioridades de Obama.
Mas um desses eventos já está em curso: o mundo está
entrando em uma recessão,
provavelmente a pior desde a
Segunda Guerra. Ele precisa
enfrentar esse desafio de maneira a preservar aquela que
foi uma das maiores realizações de seus predecessores: a
economia mundial aberta.
Foi sob Roosevelt e Harry
Truman, ambos democratas,
que os EUA começaram a liderar o mundo no abandono
das políticas autárquicas dos
anos 30. E os americanos não
deveriam dar as costas a esse
mundo que criaram.
Com um novo pacote de
estímulo fiscal, os EUA podem chegar a um déficit fiscal tão grande quanto 10%
PIB. Déficits como esses são
uma solução temporária. De
que maneira eles poderiam
terminar? Um bom resultado seria poupança mais alta e
uma redução no déficit em
conta corrente. O aumento
nas exportações que recentemente se provou tão vital
para o crescimento dos EUA
precisa continuar.
Se queremos que a correção externa dos EUA seja
compatível com o crescimento mundial, a demanda
precisa se expandir em outros mercados, especialmente nos países que acumulam
superávits crônicos -e que
agora precisam gastar mais
em casa. O programa de expansão anunciado pelo governo chinês no começo desta semana é só o começo.
Legado
Obama está certo ao acreditar que uma rede de segurança melhor nos EUA -um
sistema universal de saúde,
seguro-desemprego mais generoso- seja uma condição
necessária para a aceitação
das mudanças causadas pela
competição mundial. Essa
seria a maneira correta de
proceder -não subsídios a
mastodontes fracassados como a General Motors.
Isso significa a disposição
de aceitar que os EUA terão
de elevar seu patamar tributário. Obama deveria começar tributando a energia: um
preço mais alto para os combustíveis fósseis é condição
necessária para os planos de
promover maior eficiência
energética, reduzir a dependência dos combustíveis importados e reduzir as emissões de carbono.
Pessoalmente, acredito
que tenha chegado o momento de os EUA adotarem
um imposto nacional sobre
valor agregado, em lugar de
dependerem tão pesadamente do imposto de renda.
Nas discussões mundiais,
o desafio mais imediato é o
que fazer quanto à regulamentação financeira. Em lugar de voltar a regulamentar
de maneira tão leviana quanto foi feita a desregulamentação, a solução correta seria
estabelecer uma comissão
encarregada de propor reformas na estrutura financeira
e na regulamentação, em nível nacional e mundial.
Obama precisa, acima de
tudo, ampliar as realizações
de seus predecessores, e não
fechar seu país ao mundo.
Deve pressionar por reformas que ajudem a maioria
dos americanos a ganhar
com o avanço da concorrência mundial. Deve promover
reformas externas que façam
com que a economia mundial funcione melhor. Qualquer coisa menos seria um
fracasso.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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