São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2008

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Obama não pode ceder ao protecionismo

MARTIN WOLF
DO "FINANCIAL TIMES"

Ao eleger Barack Hussein Obama à Presidência, o povo dos EUA rejeitou a política do medo e da divisão que tantos danos causou ao país.
Mas a eleição é apenas o começo. Poucos presidentes tiveram de enfrentar maiores desafios, e entre eles devemos incluir dois dos maiores líderes americanos, Abraham Lincoln e Franklin Roosevelt. Obama se vê como herdeiro de ambos. A questão é determinar se ele será capaz de se aproximar de suas realizações.
A agenda do novo presidente é assustadora. O poderio de seu país também se reduziu. Mas os EUA continuam a ser a maior potência, e o único líder, do planeta.
Os acontecimentos ditarão as prioridades de Obama. Mas um desses eventos já está em curso: o mundo está entrando em uma recessão, provavelmente a pior desde a Segunda Guerra. Ele precisa enfrentar esse desafio de maneira a preservar aquela que foi uma das maiores realizações de seus predecessores: a economia mundial aberta.
Foi sob Roosevelt e Harry Truman, ambos democratas, que os EUA começaram a liderar o mundo no abandono das políticas autárquicas dos anos 30. E os americanos não deveriam dar as costas a esse mundo que criaram.
Com um novo pacote de estímulo fiscal, os EUA podem chegar a um déficit fiscal tão grande quanto 10% PIB. Déficits como esses são uma solução temporária. De que maneira eles poderiam terminar? Um bom resultado seria poupança mais alta e uma redução no déficit em conta corrente. O aumento nas exportações que recentemente se provou tão vital para o crescimento dos EUA precisa continuar.
Se queremos que a correção externa dos EUA seja compatível com o crescimento mundial, a demanda precisa se expandir em outros mercados, especialmente nos países que acumulam superávits crônicos -e que agora precisam gastar mais em casa. O programa de expansão anunciado pelo governo chinês no começo desta semana é só o começo.

Legado
Obama está certo ao acreditar que uma rede de segurança melhor nos EUA -um sistema universal de saúde, seguro-desemprego mais generoso- seja uma condição necessária para a aceitação das mudanças causadas pela competição mundial. Essa seria a maneira correta de proceder -não subsídios a mastodontes fracassados como a General Motors.
Isso significa a disposição de aceitar que os EUA terão de elevar seu patamar tributário. Obama deveria começar tributando a energia: um preço mais alto para os combustíveis fósseis é condição necessária para os planos de promover maior eficiência energética, reduzir a dependência dos combustíveis importados e reduzir as emissões de carbono.
Pessoalmente, acredito que tenha chegado o momento de os EUA adotarem um imposto nacional sobre valor agregado, em lugar de dependerem tão pesadamente do imposto de renda.
Nas discussões mundiais, o desafio mais imediato é o que fazer quanto à regulamentação financeira. Em lugar de voltar a regulamentar de maneira tão leviana quanto foi feita a desregulamentação, a solução correta seria estabelecer uma comissão encarregada de propor reformas na estrutura financeira e na regulamentação, em nível nacional e mundial.
Obama precisa, acima de tudo, ampliar as realizações de seus predecessores, e não fechar seu país ao mundo.
Deve pressionar por reformas que ajudem a maioria dos americanos a ganhar com o avanço da concorrência mundial. Deve promover reformas externas que façam com que a economia mundial funcione melhor. Qualquer coisa menos seria um fracasso.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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