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AMÉRICA LATINA
Diante de uma eventual guerra contra o Iraque, Venezuela é crucial para garantir fornecimento do produto
EUA temem perder petróleo venezuelano
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
O governo Bush está muito
preocupado com o envolvimento
do setor petroleiro venezuelano
na greve geral porque, diante da
possibilidade de uma guerra contra o Iraque, os EUA precisam de
fornecimento estável de petróleo.
Cerca de 15% do petróleo importado pelos EUA vem da Venezuela, quinto exportador mundial
do produto. Com a entrada em
greve da PDVSA (estatal de petróleo), a exportação foi afetada.
Apesar de preocupados, os EUA
estão praticamente de mãos
amarradas devido à sua falta de
credibilidade para dialogar com o
presidente Hugo Chávez -em
abril, quando houve uma tentativa de golpe contra o presidente, os
EUA apressaram-se em apoiar os
golpistas- e à ausência de funcionários de alto nível em Washington para lidar com o país.
Eis um resumo do dilema vivido
pelos EUA diante do aprofundamento da crise, segundo Erick
Langer, diretor do programa sobre a Venezuela do Centro de
América Latina da Universidade
Georgetown, em Washington.
"Os EUA optaram por ignorar
Chávez enquanto o petróleo continuasse fluindo. Mas agora a Venezuela torna-se uma das questões mais cruciais para o governo
Bush", afirmou Langer, 38, em
entrevista por telefone à Folha.
Folha - Como a atual crise na Venezuela está sendo vista nos EUA?
Erick Langer - Parece que, com o
o envolvimento da PDVSA, a greve chegou a um ponto sem retorno. Há uma guerra total entre a
oposição e o governo, e o resultado, creio, dependerá de quem
conseguir resistir por mais tempo. Ou a paralisação fracassa ou
Chávez terá de partir. Se fracassar,
isso significará que Chávez assumirá o controle da PDVSA, que
até agora havia conseguido manter sua independência. Embora
estatal, a empresa tem sido administrada de forma profissional,
com base em critérios econômicos e comerciais, não políticos. Se
isso mudar, a produção de petróleo irá ladeira abaixo.
Folha - Como isso atinge os EUA?
Langer - O governo está preocupado porque gostaria de invadir o
Iraque, mas necessita de um suprimento estável de petróleo. A
relação entre os governos Bush e
Chávez sempre foram difíceis. Otto Reich -que foi indicado para
o cargo de subsecretário de Estado para Assuntos Latino-Americanos, mas acaba de abandoná-lo
porque não obteve aprovação do
Congresso - é um cubano-americano muito próximo ao movimento contra Fidel Castro [ditador cubano" nos EUA. Como
Chávez sempre se posicionou como aliado de Fidel, você imagina
a visão que o governo tem sobre
ele. Além disso, ele sempre teve
um discurso antiamericano. Entretanto, os EUA nunca fizeram
grande coisa porque o importante
era que o petróleo venezuelano
continuasse a chegar. Agora, isso
está ameaçado. E, até onde eu saiba, não há ninguém em posição
de liderança no governo para lidar com a questão.
Folha - Essa ausência de estratégia para a Venezuela pode ser estendida à América Latina em geral?
Langer -Após os atentados de 11
de setembro, a prioridade nos
EUA mudou das questões econômicas e diplomáticas para as
questões militares e de segurança.
E a América Latina é praticamente irrelevante para os EUA do
ponto de vista de segurança. Assim, a região saiu da agenda, e
houve um abandono das questões
econômicas que são tão importantes para a região. É o caso da
Argentina, que enfrenta grave crise sem receber qualquer ajuda
dos EUA. Nesse sentido, a visita
do presidente eleito do Brasil a
Bush foi importante. Lula pode
ser o porta-voz de outros líderes
da região e alertar o governo de
que ele precisa prestar atenção
aos problemas econômicos da
América Latina. Do contrário,
eles poderão se transformar em
sérios problemas políticos.
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