São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 2002

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EUROPA

Dez países serão convidados a aderir ao bloco, mas financiamento é problema

Cúpula histórica expande UE ao leste

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

A União Européia (UE) definirá, em sua cúpula que começa hoje, em Copenhague, na Dinamarca, sua expansão para o leste do continente. Dez países deverão ser convidados a aderir ao bloco em 2004, porém desavenças relacionadas à ajuda financeira que será concedida a esses Estados e à eventual entrada da Turquia na UE ameaçam tirar o brilho desse encontro histórico.
Os dez novos membros -oito do Leste Europeu, além de Chipre e Malta- deverão juntar-se aos atuais 15 Estados da UE em 2004, após mais de quatro anos de difíceis negociações sobre inúmeros temas, que vão dos direitos humanos à proteção do ambiente. Com a ampliação, a UE ganhará mais 70 milhões de habitantes, chegando a 450 milhões, e selará a reunificação do continente mais de meio século após a Segunda Guerra Mundial (1939-45).
Mas, embora a expansão seja necessária politicamente, o processo não será simples em termos práticos, de acordo com especialistas consultados pela Folha.
"A ampliação é um imperativo político, pois a reunificação do continente é simbólica. Contudo ela não será bem-sucedida se não houver uma reforma institucional real, já que o peso de cada Estado do bloco não poderá ser o mesmo com a entrada de dez novos membros", avaliou Michael Kreile, especialista em UE da Universidade Humboldt, de Berlim.
"Ademais, um ponto crucial no que concerne à expansão é a ajuda financeira que será dada aos novos membros, que, sem dúvida, vêem na UE uma possibilidade de aproximar-se do padrão de vida dos Estados mais ricos da Europa. Por enquanto, a soma que deverá ser concedida é bem baixa, o que poderá dificultar a aprovação popular nos referendos que serão realizados nos países candidatos."
A Polônia lidera os esforços dos candidatos no que se refere a pleitear um acordo mais vantajoso financeiramente para eles. Todavia um bloco de países que já fazem parte da UE -e que deverão perder parte da ajuda financeira que recebem do bloco-, liderado pela Itália, pela Áustria e por Portugal, busca obter concessões dos novos membros, visando a proteger seus interesses econômicos pelo menos em parte.
Nas negociações ocorridas ontem entre os chanceleres dos 25 Estados envolvidos no processo de ampliação da UE, a Eslováquia, a Estônia e Chipre pareciam inclinados a aceitar os termos do acordo proposto por Bruxelas, que incluem um pacote de ajuda financeira de 40 bilhões a serem divididos entre os novos países-membros de 2004 a 2006.
As negociações sobre esse valor irritaram a chanceler da Polônia, Danuta Hubner, que as classificou de "discussões de mercadores de tapetes". De acordo com os analistas, ela tem motivos para exasperar-se, pois, na média, esse montante é bastante baixo.
"Na verdade, nos primeiros três anos, cada europeu ocidental do bloco deverá pagar cerca de 25 por ano para financiar a expansão da UE, ou seja, 0,1% do PIB (total de riquezas) dos 15 atuais membros. Por outro lado, descontada a soma que os novos Estados terão de pagar à UE, seus habitantes receberão 120 por ano, ou seja, 2,5% do PIB desses países", disse Françoise de La Serre, do Instituto de Estudos Políticos de Paris.
Esses números mostram que a ampliação será feita a custo baixo, abrandando as preocupações de alemães e franceses, que temiam que os gastos fossem elevados demais. Contudo isso também indica que, ao menos em seus primeiros anos no bloco, os novos membros terão um status inferior ao dos atuais países da UE.

Turquia
Os participantes da cúpula na Dinamarca, que preside a UE atualmente, também terão de lidar com a espinhosa questão da eventual adesão da Turquia ao bloco. Washington pressiona os países europeus a aceitar os turcos, pois a Turquia será vital se os EUA decidirem atacar o Iraque.
"Minha administração trabalha duro pela Turquia", declarou George W. Bush anteontem. Os europeus deverão aceitar dar início às negociações com os turcos em meados de 2005, mas Ancara gostaria que isso ocorresse antes.


Com agências internacionais


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