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"Decisão da Justiça mobiliza sociedade"
DE BUENOS AIRES
Titular do Conselho Nacional
da Mulher, um órgão do Estado
argentino, a advogada Carmen
Storani sustentou, em entrevista à
Folha, que a decisão da Corte Suprema não deve representar o primeiro passo para a legalização do
aborto na Argentina, mas ""mobiliza a sociedade para que discuta o
tema".
Católica praticante, Storani afirmou ser contra o aborto como
""forma de planificação familiar".
""Sou favorável à manutenção dos
direitos sexuais e reprodutivos",
disse ela.
Folha - A senhora acredita que a
decisão da Corte Suprema abrirá a
discussão para a legalização do
aborto na Argentina?
Carmen Storani - A Corte tomou
o cuidado de ser extremamente
clara em sua decisão ao informar
que não autorizou um aborto e
que se opõe a esse tipo de procedimento, proibido por lei. Creio que
a sentença serve de alerta para um
debate do qual nos esquivamos.
Por ano, de acordo com dados
fornecidos pela Organização Pan-americana de Saúde, são praticados mais de 500 mil abortos na
Argentina.
Há 500 mulheres morrendo todos os anos em maternidade e
mais de um terço delas em decorrência de abortos feitos em clínicas clandestinas. Seria hipocrisia
fazer de conta de que nada disso
ocorre.
Folha - Então por que o tema permanece sendo tratado como tabu
pelos argentinos?
Storani - Por conservadorismo.
Alguns setores, mesmo os mais
representativos da sociedade, como a classe política, não podem
tomar determinadas posições
porque temem ser tratados como
pró-aborto.
Folha - A senhora é a favor do
aborto?
Storani - Sou a favor dos direitos
sexuais e reprodutivos dos seres
humanos. Mas eu também sou a
favor de evitar a prática do aborto
como uma medida de planificação social. A minha posição é a
mesma posição defendida pelo
presidente argentino, Fernando
de la Rúa.
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