São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 2001

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"Decisão da Justiça mobiliza sociedade"



DE BUENOS AIRES

Titular do Conselho Nacional da Mulher, um órgão do Estado argentino, a advogada Carmen Storani sustentou, em entrevista à Folha, que a decisão da Corte Suprema não deve representar o primeiro passo para a legalização do aborto na Argentina, mas ""mobiliza a sociedade para que discuta o tema".
Católica praticante, Storani afirmou ser contra o aborto como ""forma de planificação familiar". ""Sou favorável à manutenção dos direitos sexuais e reprodutivos", disse ela.

Folha - A senhora acredita que a decisão da Corte Suprema abrirá a discussão para a legalização do aborto na Argentina?
Carmen Storani -
A Corte tomou o cuidado de ser extremamente clara em sua decisão ao informar que não autorizou um aborto e que se opõe a esse tipo de procedimento, proibido por lei. Creio que a sentença serve de alerta para um debate do qual nos esquivamos. Por ano, de acordo com dados fornecidos pela Organização Pan-americana de Saúde, são praticados mais de 500 mil abortos na Argentina.
Há 500 mulheres morrendo todos os anos em maternidade e mais de um terço delas em decorrência de abortos feitos em clínicas clandestinas. Seria hipocrisia fazer de conta de que nada disso ocorre.

Folha - Então por que o tema permanece sendo tratado como tabu pelos argentinos?
Storani -
Por conservadorismo. Alguns setores, mesmo os mais representativos da sociedade, como a classe política, não podem tomar determinadas posições porque temem ser tratados como pró-aborto.

Folha - A senhora é a favor do aborto?
Storani -
Sou a favor dos direitos sexuais e reprodutivos dos seres humanos. Mas eu também sou a favor de evitar a prática do aborto como uma medida de planificação social. A minha posição é a mesma posição defendida pelo presidente argentino, Fernando de la Rúa.


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