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XENOFOBIA
É o que diz professor sobre conflito em El Ejido
"Racismo está em toda a Espanha"
PHILIPPE LANÇON
do "Libération"
Enrique Gil-Calvo, professor de
sociologia na Universidade Complutense, em Madri, atribui a violência ocorrida em El Ejido ao
ambiente de "corrida ao ouro"
criado nessa região do sul da Espanha e à história de conflitos entre os andaluzes espanhóis e os
"mouros".
A região é palco de conflitos, desencadeados pelo assassinato de
uma espanhola de 26 anos, atribuído a um desequilibrado mental marroquino. Como reação,
grupos de espanhóis depredaram
lojas e casas de imigrantes.
Pergunta - Como explicar uma
manifestação de xenofobia tão
violenta?
Enrique Gil-Calvo - Em primeiro lugar, El Ejido, onde se pratica
uma agricultura intensiva, é o lugar da Espanha que tem de longe
a maior proporção de imigrantes:
cerca de 25% de sua população.
Os imigrantes são, na maioria,
magrebinos (do norte da África
- Mauritânia, Marrocos, Tunísia, Líbia ou Argélia). Esse racismo está presente por toda a Espanha, mas raramente se traduz em
atos físicos, porque a presença
imigrante, no resto do país, é pequena.
Pergunta - O racismo está presente há muito em El Ejido?
Gil-Calvo - Sim, mas a mesma
coisa pode ser dita da violência de
modo geral. El Ejido lembra uma
cidadezinha americana na época
da corrida ao ouro. Há 15 anos,
era um município muito pobre,
mas viveu uma explosão econômica e, desde então, está acometida de uma febre. A agricultura é
competitiva e é feita para exportação. Um grande número de pequenos proprietários explora
uma mão-de-obra imigrante barata. Há desemprego na Andaluzia, mas em El Ejido, não. A rua
principal da cidade tem a maior
concentração de bancos por metro quadrado de toda a Espanha.
Mas também é um lugar onde há
muitos homicídios e suicídios.
Pergunta - Como explicar essa
explosão se há tão poucos desempregados?
Gil-Calvo - Não sei quem são os
autores dessas brutalidades contra norte-africanos. Mas imagino
que possam ser os filhos dos comerciantes. As pessoas em El Ejido votam no Partido Popular, de
direita, o representante tradicional dos pequenos comerciantes e
proprietários. Mas os jovens da
classe média baixa frequentemente têm afinidade com a ideologia neonazista. E a Andaluzia é
um lugar muito machista, onde o
culto à violência juvenil e masculina é muito forte. Atacar imigrantes é bem visto.
A região foi o último reduto dos
"mouros", que ocuparam essa
área por mais de cinco séculos.
El Ejido faz parte de uma região
que ainda tinha muçulmanos até
o século 15. A sangrenta guerra
travada contra os mouros por Felipe 2º teve lugar aqui mesmo, nos
montes Aljuparras, onde se refugiaram os muçulmanos que se recusaram a ser cristianizados.
E alguns povoados muçulmanos subsistiram nos cantos mais
escondidos desse maciço até o século 17. Desde então a região conservou a memória da revolta e de
vez em quando um racismo latente volta à tona.
Tradução de Clara Allain
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