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IMIGRAÇÃO
Procura pelo Reino Unido aumentou desde 2001, mas governo vai combater a ilegalidade com novas regras
Brasileiros enfrentam duras leis britânicas
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
Uma libra esterlina equivale a
quase R$ 5; 100 representam quase R$ 500 e daí em diante. Atraídos por essas simples contas de
multiplicação feitas com base no
valor da moeda britânica, um número crescente de brasileiros vem
deixando o país para tentar a sorte
no Reino Unido. Mas o recrudescimento, também crescente, da
política de imigração do governo
do premiê Tony Blair tem afetado
duramente esse grupo. E regras
recém-anunciadas tendem a tornar a situação ainda pior.
"Cada vez mais, os brasileiros
encontram portas que se fecham
no Reino Unido", diz Vitoria Nabas, advogada brasileira especializada em imigração que tem um
escritório em Londres.
O interesse dos brasileiros pelo
Reino Unido começou em conseqüência das barreiras impostas
pelo governo dos EUA à entrada
de imigrantes no país depois dos
atentados de setembro de 2001.
Não há registros oficiais de
quantos brasileiros vivem, atualmente, no Reino Unido. Estimativas apontam para números que
variam entre 100 mil e 200 mil.
Mas não restam dúvidas de que o
número-qualquer que seja
ele- vem crescendo.
A disparada na demanda por
serviços e informações são um
bom termômetro disso. Os dados
do consulado-geral do Brasil impressionam. Em janeiro de 2001, o
órgão atendeu a uma média diária
de 73 brasileiros. Já em dezembro
passado, essa média havia saltado
para 347 por dia. Um crescimento
de 375% em quatro anos.
"A procura por informações e
pelos serviços do consulado aumentou muito nos últimos anos.
É um indicativo do crescimento
do número de brasileiros no
país", afirma Fernando Mello
Barreto, cônsul-geral do Brasil no
Reino Unido.
Já há cinco revistas e um jornal
em português circulando em
Londres. A multiplicação de bares
e restaurantes brasileiros na capital britânica também chama a
atenção.
Até as saudades de casa produzem estatísticas que indicam a explosão da comunidade brasileira.
Dados da TeleGeography Research mostram que, em 1999,
chamadas telefônicas para o Brasil representavam 0,4% do total
das ligações internacionais originadas no Reino Unido, o que, naquele ano, foi equivalente a 40,4
milhões de minutos. Em 2003, esse percentual se multiplicou por
três, chegando a 1,3% do total, ou
204,6 milhões de minutos.
Como quase toda explosão imigratória descontrolada, o grande
crescimento do número de brasileiros no país tem sido acompanhado por inúmeros problemas.
O principal deles-que gera outros em cascata- é a ilegalidade,
que vem sendo combatida fortemente pelo governo britânico.
Para poder trabalhar no Reino
Unido, há brasileiros que, sem
visto válido, decidem comprar
carteiras falsas de identificação de
cidadãos da União Européia,
principalmente de Portugal. Custam, em média, 50 libras.
Mas, para a maioria, essa está
longe de ser a situação ideal. Segundo Vitoria Nabas, os imigrantes brasileiros, geralmente, buscam saídas que lhes garantam estabilidade legal. A advogada conta
que muitos dos que a procuram
estão na seguinte situação: "ilegais e desesperados para conseguir um casamento com alguém
que tenha cidadania européia".
Um casamento "negociado" já
era difícil, porque custa de 4 mil libras a 5 mil libras. A situação, no
entanto, acaba de piorar. Desde o
início deste mês, estrangeiros de
fora da União Européia interessados em se casar no Reino Unido
precisam de pelo menos seis meses de visto válido pela frente e
uma autorização especial do ministério do Interior britânico.
Em um pacote de novas medidas anunciado na semana passada, está a previsão de multas pesadas a quem estiver dando emprego a trabalhadores ilegais. Outras
mudanças tendem a dificultar a
vida dos estrangeiros que pretendem conseguir um visto de trabalho. Eles terão de obter pontos de
acordo com suas qualificações
profissionais e provar domínio da
língua inglesa.
Um porta-voz do ministério
disse à Folha que as novas regras
são gerais e não visam a nenhuma
nacionalidade específica. Mas, segundo especialistas, os brasileiros
tendem a ser muito afetados.
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