São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2005

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IMIGRAÇÃO

Procura pelo Reino Unido aumentou desde 2001, mas governo vai combater a ilegalidade com novas regras

Brasileiros enfrentam duras leis britânicas

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

Uma libra esterlina equivale a quase R$ 5; 100 representam quase R$ 500 e daí em diante. Atraídos por essas simples contas de multiplicação feitas com base no valor da moeda britânica, um número crescente de brasileiros vem deixando o país para tentar a sorte no Reino Unido. Mas o recrudescimento, também crescente, da política de imigração do governo do premiê Tony Blair tem afetado duramente esse grupo. E regras recém-anunciadas tendem a tornar a situação ainda pior.
"Cada vez mais, os brasileiros encontram portas que se fecham no Reino Unido", diz Vitoria Nabas, advogada brasileira especializada em imigração que tem um escritório em Londres.
O interesse dos brasileiros pelo Reino Unido começou em conseqüência das barreiras impostas pelo governo dos EUA à entrada de imigrantes no país depois dos atentados de setembro de 2001.
Não há registros oficiais de quantos brasileiros vivem, atualmente, no Reino Unido. Estimativas apontam para números que variam entre 100 mil e 200 mil. Mas não restam dúvidas de que o número-qualquer que seja ele- vem crescendo.
A disparada na demanda por serviços e informações são um bom termômetro disso. Os dados do consulado-geral do Brasil impressionam. Em janeiro de 2001, o órgão atendeu a uma média diária de 73 brasileiros. Já em dezembro passado, essa média havia saltado para 347 por dia. Um crescimento de 375% em quatro anos.
"A procura por informações e pelos serviços do consulado aumentou muito nos últimos anos. É um indicativo do crescimento do número de brasileiros no país", afirma Fernando Mello Barreto, cônsul-geral do Brasil no Reino Unido.
Já há cinco revistas e um jornal em português circulando em Londres. A multiplicação de bares e restaurantes brasileiros na capital britânica também chama a atenção.
Até as saudades de casa produzem estatísticas que indicam a explosão da comunidade brasileira. Dados da TeleGeography Research mostram que, em 1999, chamadas telefônicas para o Brasil representavam 0,4% do total das ligações internacionais originadas no Reino Unido, o que, naquele ano, foi equivalente a 40,4 milhões de minutos. Em 2003, esse percentual se multiplicou por três, chegando a 1,3% do total, ou 204,6 milhões de minutos.
Como quase toda explosão imigratória descontrolada, o grande crescimento do número de brasileiros no país tem sido acompanhado por inúmeros problemas. O principal deles-que gera outros em cascata- é a ilegalidade, que vem sendo combatida fortemente pelo governo britânico.
Para poder trabalhar no Reino Unido, há brasileiros que, sem visto válido, decidem comprar carteiras falsas de identificação de cidadãos da União Européia, principalmente de Portugal. Custam, em média, 50 libras.
Mas, para a maioria, essa está longe de ser a situação ideal. Segundo Vitoria Nabas, os imigrantes brasileiros, geralmente, buscam saídas que lhes garantam estabilidade legal. A advogada conta que muitos dos que a procuram estão na seguinte situação: "ilegais e desesperados para conseguir um casamento com alguém que tenha cidadania européia".
Um casamento "negociado" já era difícil, porque custa de 4 mil libras a 5 mil libras. A situação, no entanto, acaba de piorar. Desde o início deste mês, estrangeiros de fora da União Européia interessados em se casar no Reino Unido precisam de pelo menos seis meses de visto válido pela frente e uma autorização especial do ministério do Interior britânico.
Em um pacote de novas medidas anunciado na semana passada, está a previsão de multas pesadas a quem estiver dando emprego a trabalhadores ilegais. Outras mudanças tendem a dificultar a vida dos estrangeiros que pretendem conseguir um visto de trabalho. Eles terão de obter pontos de acordo com suas qualificações profissionais e provar domínio da língua inglesa.
Um porta-voz do ministério disse à Folha que as novas regras são gerais e não visam a nenhuma nacionalidade específica. Mas, segundo especialistas, os brasileiros tendem a ser muito afetados.


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