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Brasileiro ferido trocou EUA por Espanha
Mãe diz que Adeíldo preferia visitar os EUA, mas não foi por medo de terror; ele está sedado e passa bem, segundo o irmão
DO COLUNISTA DA FOLHA
Adeíldo Alves dos Santos num
momento estava jogando no seu
celular para, no momento seguinte, acordar no hospital 12 de Octubre, com fraturas no crânio, na
clavícula e na mandíbula.
A diferença entre um momento
e outro foram horas e horas, mas
esse serralheiro brasileiro de 28
anos só se lembra que, enquanto
jogava no celular, houve uma explosão. A lembrança seguinte já
foi no hospital, depois de uma
operação que só terminou às 4h
de ontem (meia-noite de anteontem em Brasília).
Adeíldo foi uma das duas vítimas brasileiras dos atentados de
anteontem em Madri. Seu irmão,
Josiel, 26, conta que a médica que
o examinou na tarde de ontem
disse que o paciente estava "razoavelmente bem", mas ainda
corre risco de uma infecção no cérebro que pode "prejudicar outras partes do corpo", relata Josiel.
O próprio Adeíldo não pode falar, porque é mantido sedado.
"Ele ainda sente muitas dores, e os
médicos acham melhor mantê-lo
sedado, para que se movimente
pouco", conta o irmão, um montador de carpetes de madeira que
vive há cinco anos em Madri.
O celular com que Adeíldo brincava mandou uma mensagem para o celular da namorada, em que
dizia algo como "caiu, caiu". O irmão acredita que o telefone tenha
sido acionado involuntariamente
por Adeíldo e o que se ouviu foram os gritos dos passageiros.
Josiel não via o irmão havia cinco anos. Por isso, convidou-o a visitá-lo em Madri. Adeíldo chegou
em dezembro, "de férias", segundo o irmão. Foi vítima do atentado exatamente quando ia fazer
um bico: colocar janelas, a convite
de um amigo.
A ironia é que Adeíldo preferia
ir para os EUA, mas, por medo de
terrorismo, decidiu viajar para
Madri. "Ele achou mais seguro ir
para a Espanha", contou a mãe,
Zenilda, à Agência Folha, em Colniza (MT).
"Eu pedia ao Josiel: "Meu filho,
vem embora, vem embora". Na
época, eu fiquei desesperada, mas
ele falava "não, mãe, não é aqui
[na Espanha], [os ataques] estão
acontecendo longe daqui"."
Cidadania concedida
Tanto Josiel como Adeíldo, em
tese, podem se beneficiar da decisão, anunciada ontem pelo premiê José María Aznar, de conceder nacionalidade espanhola a todas as vítimas e a seus familiares.
"Será que eu tenho direito?",
pergunta Josiel -ele e o irmão
são os dois únicos membros da
família que estão na Espanha.
Se Adeíldo foi a única vítima
brasileira até agora identificada,
os estrangeiros mortos foram 24,
de 12 diferentes países, segundo o
governo.
A Prefeitura de Madri e a Comunidade de Madri (instância
administrativa algo mais abrangente que um Estado no Brasil) se
encarregará dos gastos de repatriação dos cadáveres.
As autoridades suspeitam que,
dos 58 mortos que não haviam sido identificados até o fim da tarde
de ontem, boa parte possa ser formada por estrangeiros em situação irregular na Espanha.
Seus parentes, na mesma condição, teriam medo de procurar assistência, por falta de documentação. O anúncio de Aznar certamente eliminará o medo.
(CLÓVIS ROSSI)
Colaborou a Agência Folha, em Campo
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