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ÁSIA
Desde 1965 não nascem homens na família imperial; população apóia idéia
Japão repensa tradição e pode vir a ter imperatriz
CONSTANÇA TATSCH
DA REDAÇÃO
Um dos mais importantes símbolos do Japão, a família imperial,
pode romper uma tradição de
dois séculos. Um painel de especialistas foi escolhido recentemente para debater a possibilidade de a linhagem de sucessão do
imperador aceitar mulheres.
O atual imperador, Akihito, 71,
já indicou seu sucessor: o filho
mais velho, príncipe Naruhito, 45.
Eventualmente, ele poderia ser
sucedido por outros homens.
Mas, depois deles, só existem sucessoras. Desde 1965, não nasce
nenhum homem na família, e as
mulheres já não podem ter filhos.
O alvo da discussão é a pequena
princesa Aiko, de apenas 3 anos,
filha de Naruhito. A Lei da Casa
Imperial dita que "o trono imperial deve ser herdado por um homem na linha masculina da descendência imperial". Caso essa lei
seja alterada, o país pode ter sua
primeira imperatriz em 200 anos.
Ao longo de 2.600 anos, oito
mulheres se sentaram no trono de
Crisântemo, mas nenhuma fez
seu sucessor. A existência de concubinas garantia a possibilidade
de um filho homem até a Segunda
Guerra, quando o costume foi
abolido e o número de integrantes
da família imperial foi restrito.
Mudanças
O governo ressalta que o trabalho dos especialistas "está apenas
começando", mas analistas dizem
que a pequena Aiko deve, sim, se
tornar imperatriz no futuro. Segundo pesquisas, mais de 80% da
população apóia a mudança.
"Acho que a população de japoneses hoje não vê nenhum impedimento em que haja uma mulher
imperando, até porque o imperador não faz muita coisa, em termos de condução do país", disse
Eduardo Nakashima, secretário
do Bunkyo, Sociedade Brasileira
de Cultura Japonesa.
Críticos dizem que essa é a
oportunidade para marcar o fim
do império japonês. Mas, para
Keith Brown, antropólogo e professor no Programa de Estudos
Asiáticos da Universidade de
Pittsburgh (EUA), a família está
profundamente enraizada na cultura japonesa e conta com amplo
apoio. "A família imperial simboliza a história e a tradição do Japão. É a ancestralidade de cada japonês", afirma ele, que ganhou do
governo japonês a Ordem do Sagrado Tesouro por trabalhos de
intercâmbio entre Japão e EUA
"Entrevistei uma avó maravilhosa. Perguntei a ela se a família
imperial representava os descendentes de coreanos que se mudaram para o Japão há várias gerações. Ela me disse "não". Fiquei intrigado e perguntei se, por outro
lado, o império valia para descendentes de japoneses que vivem no
Brasil, por exemplo. Ela me disse:
"Está em seus corações'".
Como em outras monarquias, a
família imperial foi obrigada a se
aproximar dos súditos para garantir sua existência. Aos poucos,
antigas tradições foram rompidas. "O grande choque da geração
da minha mãe foi o casamento do
imperador com uma plebéia.
Cresci ouvindo isso", afirma Nakashima. As maiores barreiras foram rompidas por Akihito. Se antes da guerra, os imperadores
nunca eram vistos e não falavam,
ele jogava tênis com a mulher e
usava roupa ocidental. "Isso tudo
foi chocante, mas agora o cargo já
é mais humanizado", disse.
Keith Brown acredita que o império deve achar um meio termo e
cita como extremo oposto o Reino Unido. "Esses escândalos envolvendo o príncipe Charles não
fazem bem para a imagem do
país", disse. Por outro lado, o antropólogo se sensibiliza com o fardo imposto à família. "[Eles] não
podem ir ao parque, fazer compras ou andar de bicicleta. Nós é
que temos sorte."
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