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PODER DA FÉ
Personalidades norte-americanas e autoridades alemãs debatem por causa de grupo perseguido e suspeito
Cientologia abre guerra de informação
RUSS BAKER
da ``George''
Helmut Kohl pode ser o chanceler da Alemanha, mas não está
acostumado a receber correspondência de pessoas como Dustin
Hoffman. Apesar disso, na edição
de 9 de janeiro do ``International
Herald Tribune'', foi alvo de carta
aberta assinada por Hoffman e 33
outras figuras, tais quais a atriz
Goldie Hawn, o diretor Oliver Stone, o apresentador de televisão
Larry King, o produtor Aaron Spelling, o executivo da Warner Terry
Semel e o escritor Gore Vidal.
Eles expressaram sua preocupação com recentes acontecimentos
da Alemanha. Evocando Adolf Hitler e os ``indizíveis horrores'' do
Holocausto, indagaram se os herdeiros do amargo legado do Terceiro Reich não estariam, mais
uma vez, seguindo um caminho
potencialmente trágico.
Desta vez, porém, segundo a carta, as vítimas não são judias. São
integrantes de um grupo controverso e pouco compreendido, a
Igreja da Cientologia. Protestando
contra ``a ofensiva discriminação
praticada contra os cientologistas'', a carta concluiu: ``Essa
opressão organizada está começando a soar familiar, como a Alemanha de 1936, em lugar de 1996''.
Bertram Fields, o poderoso advogado de Hollywood que redigiu
a carta, pediu as assinaturas e pagou US$ 56,7 mil com seu próprio
dinheiro pelo espaço publicitário
no jornal. Fields, que já representou Dustin Hoffman, Michael
Jackson e Warren Beatty, diz que
teve a idéia de publicar a carta
quando ficou sabendo que um
grupo de jovens alemães estava
promovendo um boicote ao filme
``Missão Impossível'', no verão de
1996, porque seu protagonista,
Tom Cruise, é cientologista.
Não está claro até que ponto os
signatários da carta, 12 dos quais
são clientes atuais de Bertram
Fields, conheciam a Cientologia, a
posição da Alemanha em relação
ao grupo ou até mesmo o conteúdo da carta. Em Hollywood, é prática corriqueira pedir a amigos que
subscrevam uma causa sem mesmo saberem do que se trata (o cineasta Constantin Costa-Gavras
retirou publicamente seu nome de
uma carta depois de fazer uma
``leitura mais cuidadosa'').
Não há dúvida de que a Cientologia não está prestes a ganhar nenhum concurso de popularidade
na Alemanha. Um alerta contra a
organização foi tocado na Europa
e pode soar estranho à maioria dos
americanos, que sabem pouco sobre a igreja fundada nos EUA pelo
escritor de ficção científica L. Ron
Hubbard, morto em 1986.
O consenso generalizado na Alemanha é que a Igreja da Cientologia utiliza a religião para mascarar
um movimento perigoso, semelhante a uma seita e que, ao que
tudo indica, envolve dinheiro.
As autoridades alemãs reagiram
às acusações da carta aberta com
ataque recíproco, afirmando que a
Cientologia encerra semelhanças
com movimentos políticos radicais do passado alemão, tais como
o nazismo e o comunismo.
Empresa, médico, igreja
A preocupação com a Cientologia começou a ser expressada na
Alemanha no início dos anos 80
pelas igrejas Luterana e Católica,
que haviam recebido algumas
queixas de fiéis preocupados com
o envolvimento de seus familiares
com a Cientologia.
Alguns ex-cientologistas também disseram que o grupo os havia coagido a entregar grandes somas de dinheiro. No final dos anos
80, a intranquilidade virou alarme
total quando o autodescrito movimento espiritual começou a aparecer cada vez mais frequentemente
em contextos comerciais, fato que
os críticos vêem como sinal do expansionismo típico de seitas.
``Na parte da manhã, é uma empresa'', diz o deputado alemão
Freimut Duve. ``Ao meio-dia, é
um médico que trata dos problemas psicológicos das pessoas e, à
noite, é uma igreja.''
Vários Estados alemães, entre
eles Hamburgo, Berlim e Baviera,
começaram a investigar queixas
sobre imobiliárias agressivas que
supostamente intimidavam locatários e abusavam de seus funcionários. Eram firmas cujos proprietários estariam supostamente promovendo a Igreja da Cientologia e
fazendo doações substanciais a ela.
Embora as investigações tenham
revelado atividades impróprias e,
em alguns casos, ilegais -como
sonegação de impostos-, não resultaram em provas suficientes para comprovar que a organização
praticava fraudes ou extorsões de
maneira sistemática.
As autoridades começaram então a adotar medidas para bloquear sua influência. Algumas
dessas medidas, uma das quais foi
a distribuição de folhetos aconselhando os escolares a manter distância do grupo, suscitaram amplas controvérsias.
O Estado da Baviera chamou a
atenção mundial em novembro,
quando lançou um decreto exigindo que todo candidato a um cargo
no funcionalismo público preencha um questionário detalhando
quaisquer ligações que pudesse ter
com a Cientologia.
Independentemente de seu compromisso com a Cientologia, alguns membros alemães já foram
alvos de discriminação -perderam seus empregos, viram suas
contas bancárias ser fechadas e
seus filhos, expulsos de escolas.
Cartas como a que Monika Wieneke recebeu em 1987 podem fazer
a pessoa querer deixar a Alemanha: a escola católica de suas filhas
dizia não ter sido informada de
que Wieneke pertencia à Cientologia, para, em seguida, dizer que lamentava informá-la de que as meninas não mais seriam autorizadas
a assistir às aulas. Hoje, Wieneke é
pastora cientologista na Flórida.
Problemas para Gore Vidal
``A carta aberta me causou problemas sem fim na Alemanha'', diz
o escritor Gore Vidal, suspirando.
``Meu advogado me levou a crer
que se tratava de um gesto a favor
das liberdades civis, não de aprovação da Cientologia enquanto religião ou esquema para ganhar dinheiro por meios duvidosos. Eu,
pessoalmente, a vejo como a segunda alternativa, mas não sou
autoridade no assunto.''
Vidal diz que concordou em assinar a carta quando lhe disseram
que os filhos de cientologistas estavam sendo impedidos de frequentar escolas. Ele conheceu Hubbard
nos anos 50, quando a Cientologia
dava os primeiros passos. ``Ele
exalava maldade e estupidez'', diz
o romancista histórico, ``mas era
muito simpático para conversar.''
Embora não esteja claro se a
campanha publicitária teve efeito,
a Cientologia conseguiu uma vitória importante em janeiro, quando
o Departamento de Estado dos
EUA, em seu relatório anual sobre
direitos humanos, citou em termos neutros as medidas tomadas
contra a Cientologia na Alemanha.
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