São Paulo, sexta-feira, 13 de abril de 2001

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BÁLCÃS
Para o montenegrino Milo Djukanovic, Sérvia e Montenegro são quase independentes, e a Iugoslávia já não existe de fato

Independência de Montenegro é inevitável, diz líder

DA REDAÇÃO

A federação iugoslava já não existe de fato, a independência de Montenegro é "inevitável" e a comunidade internacional deve deixar de se opor a tal perspectiva, afirmou o presidente montenegrino, Milo Djukanovic.
"A República Federal da Iugoslávia já não existe mais, e as duas Repúblicas que a formam, Montenegro e Sérvia, são praticamente independentes. Trata-se de formalizar a situação", disse à agência de notícias "France Presse".
Em dez dias, haverá eleições legislativas em Montenegro e, se a atual coalizão governista obtiver maioria, deverá convocar um referendo sobre a independência de Montenegro até o fim de junho.
"As relações estão em seu ponto mais baixo e é inútil mantê-las em tal estado. É necessário mudar de forma democrática e sem violência", afirmou o presidente.
A República Federal da Iugoslávia foi formada em 1992, após o colapso dos regimes comunistas da Europa, em substituição à Iugoslávia do general Josip Tito, que governou o país entre 1945 e 1980.
Além de Sérvia e Montenegro, a Iugoslávia incluía Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegóvina e Macedônia, que decidiram se tornar independentes, o que ocorreu quase sempre de forma violenta.
Em abril de 92, Sérvia (cerca de 10 milhões de habitantes) e Montenegro (cerca de 650 mil) formaram a República Federal da Iugoslávia, governada com mão-de-ferro por Slobodan Milosevic até outubro de 2000.
No poder desde 98, Djukanovic, 39, tentou se distanciar da Sérvia e ganhar apoio da União Européia e dos Estados Unidos para um referendo sobre sua independência.
A queda de Milosevic e a ascensão de Vojislav Kostunica, eleito num pleito boicotado pelo governo montenegrino, aumentou a chance de o referendo ocorrer.
Djukanovic disse que, após as eleições, iniciará novas negociações com o governo federal, em Belgrado, para redefinir as relações "no marco de uma união de dois países independentes".
"Será a última possibilidade de diálogo, e em função do resultado, os montenegrinos terão de se pronunciar por uma aliança entre dois países soberanos ou pela independência de Montenegro."
Djukanovic disse estar "sinceramente decepcionado" com a comunidade internacional, que, após a chegada ao poder de Kostunica, estaria preferindo a manutenção do "status quo federal".
Ele rejeitou a idéia de que uma eventual independência de Montenegro poderia impulsionar a independência de Kosovo: "Não é justo. Este problema não tem nada a ver com Montenegro".
De fato, Kosovo e Montenegro não têm o mesmo status na federação iugoslava.
Kosovo é uma Província da Sérvia de maioria albanesa que, durante o governo de Tito, teve ampla autonomia, anulada por Milosevic no final dos anos 80, o que levou ao acirramento dos conflitos entre a maioria albanesa (separatista) e a minoria sérvia.
A escalada dos conflitos levou a Otan (aliança militar ocidental liderada pelos EUA) a bombardear a Iugoslávia em 98 e, desde então, Kosovo está sob controle da Otan e da ONU.
Já Montenegro é uma República da Iugoslávia e, embora tenha um peso muito menor do ponto de vista econômico, político e populacional, tem o direito, pela Constituição, de convocar um referendo sobre sua independência.


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