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Para analista, já há novas lideranças
DA REDAÇÃO
O virtual desaparecimento dos
partidos tradicionais AD (Ação
Democrática) e Copei (Democrata Cristão), que dominaram a cena política da Venezuela por décadas, não impedirá o surgimento
de novas lideranças alternativas a
Hugo Chávez na transição até as
eleições presidenciais.
A avaliação é do analista Alfredo Keller, diretor da empresa de
consultoria e pesquisas Alfredo
Keller e Associados, de Caracas.
Ele descarta, porém, a possibilidade de que membros da Fedecámaras, principal associação empresarial do país, e da CTV, a
principal central sindical, que se
uniram nos protestos anti-Chávez, se caracterizem como uma
nova força política emergente e
dominante. A seguir trechos da
entrevista concedida ontem à Folha, por telefone, de Caracas.
Folha - Quais são as perspectivas
para o quadro político a partir de
agora, considerando que o aparecimento de Chávez coincidiu com o
esfacelamento dos partidos tradicionais, Ação Democrática e Copei?
Keller - O presidente Chávez tentava vender a idéia, constantemente, de que a Venezuela só tinha um líder, ele, e que não existia
liderança alternativa. As pesquisas mostram exatamente o oposto. Que há uma forte liderança
emergente que não tem relação
com o passado da AD e do Copei e
que representam uma nova alternativa política. É verdade que toda a origem de toda a política venezuelana recente estava nesses
dois partidos, mas acho que as velhas práticas políticas não têm futuro na Venezuela. Hoje, estão
emergindo novas organizações
políticas, com figuras jovens, de
relevância, baseadas principalmente no efeito das reformas de
descentralização política. As novas lideranças vêm principalmente da experiência em governos,
prefeituras e da sociedade civil.
Há muitos líderes novos e que
têm nas pesquisas indicadores
muito elevados de confiança popular. Se este governo de transição convocar eleições presidenciais para dentro de um ano, veremos nesse período um interessante processo de reconstrução
da vida política e das instituições.
Folha - A aliança entre a Fedecámaras e a CTV, que constituiu a
principal base de apoio dos protestos anti-Chávez, poderia ser o futuro o grupo político?
Keller - Não desde o ponto de
vista institucional. Não está previsto nem seria aceitável que a Fedecámaras, por exemplo, se tornasse um partido político. O que
deve acontecer é o reforço dos
partidos políticos. O que está
acontecendo é que, com a experiência dos últimos três anos, a sociedade civil quer participar mais
em política. E vamos ver muita
gente que, no passado, havia se
desligado da política convertendo-se em responsáveis cidadãos
participativos.
O que vemos é interrupção institucional para regressar a uma
normalidade política. Em consequência, o que os venezuelanos
escolheram é reforçar as instituições tradicionais não políticas,
como a Fedecámaras e a CTV,
apoiadas por sua vez pelos meios
de comunicação, pela igreja, pelas
universidades e pelas organizações não-governamentais, como
expressão da sociedade civil.
Folha - O novo governo enfrentará resistência nas instituições controladas até agora por Chávez, como a Assembléia Nacional?
Keller - Neste momento, alguns
deputados já renunciaram à Assembléia, para abrir espaço para
um processo de legitimação do
Poder Legislativo. É muito provável também que a nova junta de
governo assuma funções não só
executivas, mas também legislativas, e uma de suas primeiras medidas seria convocar eleições parlamentares o mais rápido possível
para substituir ou ordenar o marco jurídico para que os poderes
públicos fiquem legitimados o
mais rápido possível.
No último ano, Chávez perdeu o
apoio de 25% do parlamento. Ele
ainda tinha uma maioria, mas era
precária. A oposição vinha trabalhando nas últimas semanas para
retirar-lhe a maioria, o que possibilitaria uma saída pela via de um
julgamento político. Há 15 dias, o
governo pela primeira vez perdeu
uma votação na Assembléia.
Após as eleições parlamentares
de julho de 2000, Chávez tinha o
apoio de 75% do Parlamento.
Mas, ao longo do ano passado, ele
brigou com todo mundo. Com a
Igreja Católica, com os empresários, com os meios de comunicação e também brigou com seus
próprios aliados. Isso forçou a divisão da frente de partidos que suportava o governo. Quando o
MAS (Movimento ao Socialismo)
se retirou do governo, foi-se o
apoio de 15% da Assembléia. Posteriormente, ele teve novas brigas
com o setor mais institucional do
governo, liderado pelo ministro
das Relações Interiores, Luiz Miquilena. Quando o ministro deixou o governo, por suas brigas
com o presidente, ele perdeu ainda mais e passou a controlar somente 50% da Assembléia. Uma
maioria precária. É sabido agora
que muitos deputados eram
ameaçados e chantageados politicamente, para evitar que o governo perdesse essa maioria.
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