São Paulo, terça-feira, 13 de abril de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Total inclui cerca de 70 militares da coalizão e 700 iraquianos, diz americano; EUA relatam "pacificação"

Conflitos mataram cerca de 800 em dez dias

DA REDAÇÃO

Cerca de 70 soldados dos EUA e de países aliados e um número dez vezes maior de "insurgentes iraquianos" morreram desde o início do mês, disse ontem o vice-chefe de operações do Exército americano, general Mark Kimmitt. Não há, no entanto, dados de fontes independentes sobre quantos civis iraquianos teriam morrido desde o dia 4, quando as forças de ocupação foram surpreendidas por um levante xiita em bairros de Bagdá e no sul do país e iniciaram grande operação na cidade sunita de Fallujah.
Anteontem, o chefe de um hospital em Fallujah disse que cerca de 600 iraquianos teriam morrido na cidade de 200 mil habitantes. Segundo a Associated Press, pelo menos 62 soldados dos EUA, dois de outros países e 882 iraquianos (civis e combatentes) morreram nos últimos dias no país.
Há cerca de uma semana, os EUA cercaram Fallujah para caçar os responsáveis pela morte, seguida de mutilação e queima dos cadáveres, de quatro civis americanos, em 31 de março. As forças americanas realizaram intensos bombardeios.
No sábado, os EUA anunciaram um cessar-fogo para permitir que membros do Conselho de Governo Iraquiano, submetido aos americanos, negociassem com os insurgentes. Os EUA exigem que eles deponham suas armas e entreguem os responsáveis pela morte dos quatro americanos.
No front xiita, um representante do líder radical Moqtada al Sadr, principal fomentador do levante xiita, anunciou que o Exército Mehdi, milícia de Al Sadr, abandonara prédios públicos e delegacias de Najaf (sul). Na semana passada, militantes armados seguidores de Al Sadr tomaram pelo menos três cidades xiitas no sul do Iraque: Kut, Kufa e o centro de Najaf. No fim de semana, os EUA retomaram Kut. Ontem, anunciaram que Nassiriah e Hillah, duas outras cidades em que ocorreram confrontos, estavam pacificadas.
Em Najaf, onde Al Sadr se refugiou, os americanos tentam uma negociação, conduzida por xiitas moderados. Exigem o retorno da polícia e das autoridades reconhecidas pelos EUA e a dissolução do Exército Mehdi.
Ontem, o general Ricardo Sanchez, comandante das forças terrestres dos EUA, voltou a ameaçar o líder xiita rebelde: "A missão das forças americanas é matar ou capturar Moqtada al Sadr". Desde o início do levante, Al Sadr está foragido em mesquitas xiitas no sul do país. Ontem, Sanchez disse não saber seu paradeiro.
Moqtada al Sadr, com cerca de 30 anos, não tem grande influência religiosa, mas, nos últimos meses, formou uma milícia que pode ter milhares de membros e tornou-se um símbolo para os xiitas descontentes com a ocupação.
Os xiitas são cerca de 60% dos iraquianos, mas foram duramente reprimidos durante o regime de Saddam, que era sunita. Cerca de 20% dos iraquianos são sunitas. Tanto os xiitas quanto os sunitas são muçulmanos, mas de linhas diferentes e, em geral, rivais.
Com a queda de Saddam, os principais líderes xiitas do país mantiveram distância dos americanos, mas desestimularam ataques diretos às forças de ocupação, pois esperam controlar o país no futuro, após eventuais eleições.
Al Sadr, no entanto, rompeu esse "pacto". Como resultado, a coalizão liderada pelos EUA está enfrentando, ao mesmo tempo, a resistência sunita, existente desde a invasão do país, em 20 de março de 2003, e o novo levante xiita.
Ontem, as forças americanas tentavam recuperar o controle sobre as estradas do país. Pelo menos dez motoristas de caminhões foram seqüestrados nos últimos dias. Nove deles já foram liberados, mas o americano Thomas Hamill segue desaparecido.
Ontem, um comboio de caminhões que carregava blindados foi incendiado 32 km ao sul de Bagdá. Três pessoas morreram. Um outro caminhão, que levava suprimentos, foi emboscado perto do aeroporto. "Nas últimas 24 horas, investimos significativa força militar para tornar as estradas mais seguras", disse Kimmitt.
Em Fallujah, marines acharam cinco cintos que poderiam ser usados em ataques suicidas. No mesmo local, encontraram uniformes americanos, indício de que os insurgentes queriam se infiltrar entre as forças dos EUA.


Com agências internacionais


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