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AMÉRICA DO SUL
Segundo o governo, a intervenção das Forças Armadas não viola as leis e se resumirá a "apoio técnico"
Argentina usa militares contra violência
CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES
As Forças Armadas argentinas
darão "apoio técnico" às forças de
segurança no combate à criminalidade na Província de Buenos Aires, anunciou ontem o ministro
da Defesa da Argentina, José
Pampurro.
"Vamos trabalhar em áreas técnicas comuns, como comunicações, logística e mobilidade", explicou o ministro.
A legislação argentina proíbe as
Forças Armadas de intervir em
questões de segurança interna,
como prevenção e combate ao
crime. Segundo Pampurro, o
apoio não violará as leis vigentes.
O ministro afirmou que serão
firmados convênios de cooperação entre as Forças Armadas e a
Secretaria de Segurança da Província "para dar [a esta] apoio técnico e colaboração permanente
em diferentes áreas".
O anúncio foi feito após reunião
entre o ministro e o novo secretário de Segurança provincial, León
Carlos Arslanian, que assume hoje a função com a promessa de
criar uma "nova polícia".
A decisão ocorre menos de 15
dias depois que 130 mil pessoas
protestaram por medidas mais
duras de combate à crescente criminalidade no país. A manifestação ocorreu em protesto ao seqüestro seguido de assassinato do
estudante Axel Blumberg, 23, que
vivia em Martínez, na Província
de Buenos Aires.
Convocada pelo pai do rapaz,
Juan Carlos Blumberg, a manifestação acabou detonando uma crise de legitimidade do sistema de
segurança da Província, que, segundo estatísticas oficiais, é a
mais afetada pela onda de violência no país - e, em especial, pelo
aumento de ocorrências de seqüestros.
Dados da Justiça Federal argentina mostram que, em 2003, foram denunciados 390 seqüestros
em todo o país - 105% a mais
que no ano anterior. Desse total,
207 foram registrados na Província de Buenos Aires apenas no
primeiro semestre, representando mais que o dobro de todo o
ano de 2002.
Levantamentos de ONGs apontam ainda que ocorrem na Província entre 10 e 12 assassinatos
por dia. Além disso, a polícia da
Província, chamada de "Bonaerense", tem péssima reputação.
Cerca de 15% de seus 45 mil agentes já foram processados por diversos crimes, como assassinatos,
corrupção, enriquecimento ilícito
e encobrimento de organizações
criminosas.
Congresso
Na semana passada, também
em resposta à manifestação, o
Congresso argentino começou a
votar um pacote de leis antiviolência. Uma lei determinando o
aumento nas penas, em um terço, para assalto a mão armada
chegou a ser aprovada.
Hoje, o Senado e a Câmara argentinos retomam as discussões
sobre os demais projetos, como
o que prevê o aumento de penas
para porte ilegal de armas e limites à liberdade condicional para
condenados por crimes "aberrantes", como seqüestro e estupro seguidos de morte.
Esses projetos fazem parte de
uma lista de reivindicações entregue por Blumberg aos parlamentares durante a manifestação em frente ao Congresso.
Também está sendo aguardado, desde a semana passada, o
lançamento de um plano nacional de combate à violência pelo
presidente Néstor Kirchner, que
poderá incluir a reestruturação
da Polícia Federal e a redefinição
das funções das forças policiais,
entre outras medidas.
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