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ITÁLIA
Premiê e líder da centro-direita diz que recontagem lhe dará a vitória; Prodi afirma que ele "deve voltar para casa"
Berlusconi denuncia "fraude generalizada"
DA REDAÇÃO
O premiê italiano e líder do bloco de centro-direita, Silvio Berlusconi, declarou ontem ter sido vítima de "uma fraude generalizada"
nas eleições legislativas de domingo e segunda-feira. Exigiu uma recontagem de votos e afirmou que
"os resultados devem mudar".
Ao sair de um encontro de 75
minutos com o presidente da República, Carlo Ciampi, ele também se voltou contra os jornalistas que o cercavam: "Vocês não se
verão livres de mim."
Romano Prodi, que festejava
em Bolonha a apertada vitória do
bloco de centro-esquerda, afirmou que seu adversário "deve
voltar para casa". Criticou-o por
levantar novas dúvidas sobre a
eleição e disse que "é inútil tentar
retardar" o reconhecimento de
que foi derrotado.
O fato é que o atual premiê aumentou ainda mais a confusão
em que a Itália está imersa desde a
madrugada de terça-feira.
Ele se referiu a "fraudes unilaterais", que teriam prejudicado
apenas seus partidários. Disse que
as irregularidades estão em todas
as 60 mil urnas utilizadas.
Horas antes, Romano Prodi,
anunciou que seu governo seria
formado até meados de maio. O
convite formal para que ele chefie
o novo gabinete italiano, disse, será feito pelo próximo presidente
da República, a ser escolhido pelo
Parlamento recém-eleito e que se
reunirá apenas em 28 de abril.
O presidente Ciampi, cujo poder é menos político e mais simbólico, está no final de seu mandato e deixará ao sucessor a tarefa
de indicar o novo premiê.
Antes de suas novas declarações, Berlusconi exigia a recontagem de 43.028 votos para a Câmara dos Deputados, considerados
nulos durante a apuração. A diferença favorável aos partidários de
Prodi na votação para deputados
foi de 25.224 votos, em meio a 38
milhões de sufrágios válidos.
As agências de notícia afirmavam ser altamente improvável
que a recontagem desses pouco
mais de 25 mil votos modificasse
a estreita maioria que deu a vitória à oposição.
Por mais que a contestação legal
dos resultados eleitorais seja um
processo demorado, em que o
Parlamento recém-eleito atuaria
por meio de uma comissão pluripartidária, uma primeira recontagem já começou a ser feita e pode
estar concluída entre hoje à noite
e amanhã de manhã.
Ela vem sendo acompanhada
por magistrados, que enviam os
resultados à Corte de Cassação,
um tribunal superior italiano, que
dirá se ao final da checagem alguma cadeira mudará de lado.
Berlusconi e seus partidários
criaram ontem um site na internet, www.ricontiamo.com (recontemos), que em poucos minutos recebeu a adesão de 30 mil
pessoas.
A reação ruidosa do premiê retarda a chegada de cumprimentos
a Prodi de outros governos europeus. A Alemanha e o Reino Unido não haviam até ontem à noite
felicitado o líder do bloco de centro-esquerda. Só a França e a Espanha o fizeram até agora.
Os Estados Unidos, segundo o
porta-voz da Casa Branca, consideram que "o processo eleitoral
italiano ainda não terminou".
George W. Bush é um estreito
aliado de Berlusconi. Prodi, ao
contrário, anunciou que retirará
os soldados italianos do Iraque.
Naquilo que a Reuters qualificou de "limbo institucional", só
uma agência de notícias, a France
Presse, qualifica Prodi de "primeiro-ministro eleito".
Apesar da vantagem de apenas
0,1 ponto percentual para a Câmara dos Deputados, Prodi foi
beneficiado pelo bônus de no mínimo 340 cadeiras, introduzido
na legislação eleitoral por uma reforma que Berlusconi patrocinou
no final do ano passado.
O bloco de centro-esquerda está
então com 348 deputados, contra
281 para o bloco de centro-direita.
No Senado, os votos de italianos
residentes no exterior (quatro das
seis cadeiras foram para aliados
de Prodi) também deram uma
maioria minúscula à atual oposição, que ficou com 158 cadeiras,
contra 156 para Berlusconi.
Prodi anunciou ontem que, entre as primeiras medidas de seu
governo, reduzirá os encargos
trabalhistas para estimular a queda do desemprego e proporá uma
lei que proíbe os políticos de legislar em favor de seus interesses
empresariais.
Com agências internacionais
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