São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 2006

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ITÁLIA

Premiê e líder da centro-direita diz que recontagem lhe dará a vitória; Prodi afirma que ele "deve voltar para casa"

Berlusconi denuncia "fraude generalizada"

DA REDAÇÃO

O premiê italiano e líder do bloco de centro-direita, Silvio Berlusconi, declarou ontem ter sido vítima de "uma fraude generalizada" nas eleições legislativas de domingo e segunda-feira. Exigiu uma recontagem de votos e afirmou que "os resultados devem mudar".
Ao sair de um encontro de 75 minutos com o presidente da República, Carlo Ciampi, ele também se voltou contra os jornalistas que o cercavam: "Vocês não se verão livres de mim."
Romano Prodi, que festejava em Bolonha a apertada vitória do bloco de centro-esquerda, afirmou que seu adversário "deve voltar para casa". Criticou-o por levantar novas dúvidas sobre a eleição e disse que "é inútil tentar retardar" o reconhecimento de que foi derrotado.
O fato é que o atual premiê aumentou ainda mais a confusão em que a Itália está imersa desde a madrugada de terça-feira.
Ele se referiu a "fraudes unilaterais", que teriam prejudicado apenas seus partidários. Disse que as irregularidades estão em todas as 60 mil urnas utilizadas.
Horas antes, Romano Prodi, anunciou que seu governo seria formado até meados de maio. O convite formal para que ele chefie o novo gabinete italiano, disse, será feito pelo próximo presidente da República, a ser escolhido pelo Parlamento recém-eleito e que se reunirá apenas em 28 de abril.
O presidente Ciampi, cujo poder é menos político e mais simbólico, está no final de seu mandato e deixará ao sucessor a tarefa de indicar o novo premiê.
Antes de suas novas declarações, Berlusconi exigia a recontagem de 43.028 votos para a Câmara dos Deputados, considerados nulos durante a apuração. A diferença favorável aos partidários de Prodi na votação para deputados foi de 25.224 votos, em meio a 38 milhões de sufrágios válidos.
As agências de notícia afirmavam ser altamente improvável que a recontagem desses pouco mais de 25 mil votos modificasse a estreita maioria que deu a vitória à oposição.
Por mais que a contestação legal dos resultados eleitorais seja um processo demorado, em que o Parlamento recém-eleito atuaria por meio de uma comissão pluripartidária, uma primeira recontagem já começou a ser feita e pode estar concluída entre hoje à noite e amanhã de manhã.
Ela vem sendo acompanhada por magistrados, que enviam os resultados à Corte de Cassação, um tribunal superior italiano, que dirá se ao final da checagem alguma cadeira mudará de lado.
Berlusconi e seus partidários criaram ontem um site na internet, www.ricontiamo.com (recontemos), que em poucos minutos recebeu a adesão de 30 mil pessoas.
A reação ruidosa do premiê retarda a chegada de cumprimentos a Prodi de outros governos europeus. A Alemanha e o Reino Unido não haviam até ontem à noite felicitado o líder do bloco de centro-esquerda. Só a França e a Espanha o fizeram até agora.
Os Estados Unidos, segundo o porta-voz da Casa Branca, consideram que "o processo eleitoral italiano ainda não terminou". George W. Bush é um estreito aliado de Berlusconi. Prodi, ao contrário, anunciou que retirará os soldados italianos do Iraque.
Naquilo que a Reuters qualificou de "limbo institucional", só uma agência de notícias, a France Presse, qualifica Prodi de "primeiro-ministro eleito".
Apesar da vantagem de apenas 0,1 ponto percentual para a Câmara dos Deputados, Prodi foi beneficiado pelo bônus de no mínimo 340 cadeiras, introduzido na legislação eleitoral por uma reforma que Berlusconi patrocinou no final do ano passado.
O bloco de centro-esquerda está então com 348 deputados, contra 281 para o bloco de centro-direita.
No Senado, os votos de italianos residentes no exterior (quatro das seis cadeiras foram para aliados de Prodi) também deram uma maioria minúscula à atual oposição, que ficou com 158 cadeiras, contra 156 para Berlusconi.
Prodi anunciou ontem que, entre as primeiras medidas de seu governo, reduzirá os encargos trabalhistas para estimular a queda do desemprego e proporá uma lei que proíbe os políticos de legislar em favor de seus interesses empresariais.


Com agências internacionais

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