São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 2006

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AMÉRICA DO SUL

Keiko é a mais votada para o Congresso; García mantém vantagem sobre Flores, e Humala descarta alianças

Eleitos no Peru vão jurar à filha de Fujimori

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

Enquanto Alan García e Lourdes Flores disputam palmo a palmo quem irá ao segundo turno presidencial, e Ollanta Humala anunciava ontem que não pretendia se aliar a ninguém para a disputa, uma candidata já está rindo à toa: Keiko Fujimori, 30, filha do ex-presidente Alberto Fujimori, é de longe a campeão de votos nas eleições para o Congresso -fechado por seu pai em 1992.
Com cerca de 20% das urnas de Lima apuradas, Keiko já acumulava 230 mil votos -o segundo mais bem colocado estava com 43 mil votos. Com isso, ela elegeu outros sete fujimoristas, entre os quais o seu tio Santiago Fujimori.
Além de comandar a quarta maior bancada -assegurando um grande poder de barganha para anistiar o seu pai-, Keiko terá um papel especial na cerimônia de posse. "Como a mais votada, os demais 119 congressistas jurarão a mim", disse à Folha.
Nos últimos dias, García, Flores e Humala não descartaram negociar com os fujimoristas. A apuração avançou pouco ao longo do dia de ontem, com o ex-presidente de centro-esquerda García mantendo sua ligeira vantagem sobre a direitista Flores -24,4% a 23,3%, respectivamente, apurados 87,8% dos votos até o fechamento desta edição. Em votos, a diferença é de 119.698. Humala seguia na frente, com 30,9%.
Keiko recebeu a reportagem na ampla casa de seu tio, num condomínio fechado de Lima.

 

Folha - Você já se disse farta da vida pública. Por que mudou de idéia?
Keiko Fujimori -
Não planejava participar da política, fazia um MBA em Columbia [Nova York]. Quando prenderam o meu pai no Chile, ele me sugeriu: "Por que não participa da campanha?". Pedi uma licença e decidi apostar no Peru. Estou aqui pelo meu pai e sobretudo pelo meu país.
Foi duro ter de viver o divórcio dos meus pais. Segundo, assumir o cargo de primeira-dama aos 19 anos. Sinto os sacrifícios que tive de fazer para estar na vida pública, sacrificar minhas férias.
Quando o meu pai renunciou ao cargo, durante quatro anos, fiquei muito perturbada por essa perseguição. Uma semana antes do meu casamento, fui condenada a cinco anos de prisão por uma doação que havia conseguido. A doação foi totalmente legal e esse caso já está encerrado. Depois de tanta perseguição, não queria mais participar da política. Mas, depois de uma reflexão longe da tempestade, pensei: "A política peruana pode ser muito suja, mas uma política bem feita pode fazer as pessoas mudarem de idéia".

Folha - Você fará parte de uma instituição que foi fechada pelo seu pai e que hoje sofre com a falta de credibilidade. Por que quis participar dela?
Keiko -
Em 1992, meu pai decidiu fechar esse Congresso e foi apoiado por 86% da população, que respaldou e aplaudiu a medida. Essa medida foi necessária para que o meu pai pudesse fazer projetos de lei para lutar contra o terrorismo. Entrar numa instituição como o Congresso é difícil. Por isso, tenho defendido que o Congresso peruano tem de mudar. Por exemplo, proponho a redução do salário do congressista.

Folha - O seu pai está preso no Chile e há vários anos fora do país. O fujimorismo já é um movimento com dinâmica própria ou ainda depende dele?
Keiko -
O resultado que obtivemos é porque sou filha de Fujimori. O fujimorismo está se consolidando e vai transcender o meu pai, mas isso só no futuro.


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