São Paulo, domingo, 13 de maio de 2001

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ITÁLIA

Aliado de Berlusconi que defendeu secessão do norte rejeita "super-Estado" europeu e critica conceito de democracia da esquerda

Líder da Liga Norte diz querer "revolução"

LOLA GALÁN
DO "EL PAÍS", EM TURIM

É quase meia-noite quando Umberto Bossi, líder da ex-secessionista Liga Norte e um dos principais integrantes da coalizão que apóia Silvio Berlusconi na eleição italiana, concorda em conceder uma entrevista.
Nascido na Lombardia há 59 anos e criador do "Estado da Padânia", na região geográfica que engloba o norte da Itália, Bossi acabara de inflamar mais de mil pessoas que lotavam o Teatro Novo de Turim com um discurso caótico no qual falou da teoria econômica supostamente keynesiana, do marxismo e das raízes cristãs da civilização ocidental.
A massa de partidários que o ouvia -pessoas simples do campo, vaqueiros e donos de fazendas, empregados, donas-de-casa entusiasmadas, rapazes e moças com a camisa verde da Padânia e a mão sobre o coração quando foi tocado o "hino da Padânia" (extraído da ópera "Aída", de Verdi)- parecia, num primeiro momento, um tanto quanto desconcertada.
O orador anterior, Mario Borghezio, exagerou um pouco ao referir-se à oposição como "esses filhos da p...". Já Bossi foi esquentando aos poucos, até se sintonizar com seus admiradores, falando sobre alguns dos temas favoritos da Liga Norte, como as críticas à esquerda por suas tentativas de autorizar a fecundação heterossexual assistida. "Na Padânia, somos os homens que fecundamos nossas mulheres", bradou, em meio à aprovação geral.

Pergunta - O sr. disse que as eleições italianas serão essenciais para toda a União Européia. A coalizão de direita mudaria a política da Itália com relação à Europa?
Umberto Bossi -
Não é isso. Queremos uma União Européia confederada, na qual cada país conserve sua soberania nacional. Não queremos que seja um governo europeu, que não tenha sido eleito pelo povo. É claro que cada país terá de ceder alguns poderes, mas mantendo sua soberania.
Como, além disso, uma parte do poder nacional vai passar para as regiões, para ficar mais próximo da população, nosso país se transformará num Estado federativo. Massimo D'Alema [ex-premiê da Itália" e a esquerda internacional confundem decisões tomadas pela maioria com democracia.
Napoleão 3º também tinha a maioria, mas não fazia democracia. Falam como se a democracia pudesse existir fora do consenso popular. Isso é inaceitável. Queremos a Europa das nações, não um "super-Estado" europeu.

Pergunta - O sr. acha sério acusar a UE atual de ser "a Europa dos tecnocratas e pederastas"?
Bossi -
Não há dúvida de que são tecnocratas. Quanto à história de pederastia, eu disse isso devido às acusações que foram feitas a um ministro belga que me atacou. Esperemos que não tenham fundamento.

Pergunta - O sr. já disse que, se a aliança de centro-direita ganhar, a Liga Norte terá vários ministros. Qual será o seu cargo?
Bossi -
Os ministros são secundários. Acredito no governo Silvio Berlusconi. Tivemos um papel fundamental na redação do programa de governo da centro-direita. O fato de fazer parte desse governo é secundário. Se, em dado momento, as pessoas vissem que sou uma figura problemática, eu poderia não fazer parte do governo. O importante é que seja feita a revolução que propomos, e por meios políticos. Berlusconi quer passar para a história; nós queremos essa revolução.

Pergunta - Quer dizer então que o famoso federalismo da Liga Norte não parece se inspirar demais no modelo espanhol.
Bossi -
Bem, em nosso programa há muitas responsabilidades que passarão a ser das regiões. Por exemplo, o controle do ensino, que é fundamental. A seguir, a saúde. E, depois, a polícia local.

Pergunta - Em seus comícios, grita-se "liberdade para a Padânia". No entanto, na proposta federalista da Casa das Liberdades, fala-se apenas nas regiões tradicionais. A Padânia não aparece.
Bossi -
Não. A Padânia está em nossos corações. É um símbolo vivo. Na passagem de poderes para o nível regional haverá uma coordenação regional, para o norte do país, a Padânia, e para o sul.

Pergunta - O sr. convocou os eleitores da Liga Norte a sair para convencer os eleitores indecisos. O sr. teme perder votos?
Bossi -
Seria conveniente que todos estivessem mobilizados, que as pessoas não achassem que estamos numa mesa redonda e que votar na Força Itália [partido de Berlusconi" é o mesmo que votar na Liga. Temos 50 parlamentares em seus cargos para confirmar.


Tradução de Clara Allain



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