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"FUGA DE CÉREBROS"
Médicos e coveiros removeram órgãos para serem utilizados em pesquisas, sem autorização das famílias
Reino Unido teve 20 mil cérebros roubados
JILL LAWLESS
DA ASSOCIATED PRESS, EM LONDRES
Médicos e coveiros britânicos
removeram pelo menos 20 mil cérebros -muitos deles de corpos
de pessoas que sofriam de depressão ou possuíam problemas mentais- sem a autorização das famílias. A informação foi divulgada em relatório de Jeremy Metters, inspetor real de anatomia do
Reino Unido.
Metters afirmou que a remoção
dos cérebros era uma rotina entre
1970 e 1999. A ação, segundo ele,
representa um abuso de privilégio. Remover órgãos sem a autorização das famílias é ilegal desde
1999. Antes, órgãos eram removidos sem autorização sob a alegação de "fins médicos".
O número de 20 mil inclui apenas cérebros mantidos em hospitais e universidades do Reino Unido. Metters afirma que muitos outros podem ter sido destruídos. O médico citou casos nos
quais coveiros recebiam US$ 16
para cada cérebro que ele entregasse para ser utilizado em pesquisas médicas. Segundo Metters,
as atitudes em relação aos corpos
dos mortos mudaram muito nas
últimas décadas.
"Muitos que sabiam sobre a retenção de órgãos em casos de investigação de mortes não consideravam suas ações antiéticas
nem ilegais", disse. "Há uma
crença de que a retenção de órgãos é de interesse público."
Metters afirmou que alguns cérebros eram removidos para tentar explicar a causa da morte das pessoas. Outros para pesquisas
neuropsiquiátricas.
Há um caso, ocorrido na Universidade de Manchester, em que
200 cérebros foram levados para
um projeto de pesquisa para uma
comparação entre pessoas com
problemas mentais e um grupo
de pessoas sem problemas.
O governo pediu uma investigação após pressão da viúva de Cyril
Isaacs. Ele sofria de depressão e se
suicidou em 1987. Em 2000, Elaine Isaacs descobriu sem querer
que o cérebro do marido havia sido removido para pesquisa. Isso é
impedido pela fé judaica, que exige o enterro do corpo intacto.
Isaacs disse que espera que autoridades médicas e governamentais tomem as medidas contra os responsáveis pelas remoções.
O chefe da agência médica do
governo do Reino Unido, Liam
Donaldson, disse que remover órgãos de mortos sem autorização
"é uma afronta para as famílias
que perderam seus parentes".
"Eu posso garantir a essas famílias que, a partir do momento que
essas atividades foram descritas
no relatório, a prática de remover
órgãos sem consentimento não
será aceita pelo Serviço de Saúde
Nacional", disse Donaldson.
Metters fez 32 recomendações
para impedir que órgãos sejam
retirados sem permissão.
Ele disse, no entanto, temer que
seu relatório prejudique pesquisas importantes. "Há algumas
pesquisas que precisam ser realizadas por meio da pesquisa do cérebro", afirmou. "Muitas pessoas
dariam autorização para o estudo
do cérebro de seus parentes."
Representantes de grupos de
apoio a pessoas com problemas
mentais temem que o relatório
atrapalhe pesquisas que visam a
cura de doenças mentais.
A remoção sem autorização foi
proibida em 1999, após roubo do
cérebro de 3.500 crianças e bebês
mortos.
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