São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 2011

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"Acabou a confiança", diz paquistanês

Primeiro-ministro Gilani critica os EUA em entrevista, 11 dias após o ataque que causou a morte de Bin Laden

Embaixador norte-americano no Paquistão é chamado para ouvir reclamação; ao menos 68 morrem em atentado


IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ISLAMABAD

Onze dias após o ataque americano que matou Osama bin Laden em seu território, o Paquistão elevou o tom diplomático contra os EUA.
Seu premiê disse que a cooperação pode ser revista exceto que haja passos dos EUA para "ganhar os paquistaneses" e que "acabou a confiança" entre os serviços secretos dos dois países.
Yusuf Raza Gilani escolheu a influente revista americana "Time" para dar o recado. Afirmou que, "se a opinião pública está contra você [os EUA], então eu não posso resistir e ficar com você".
E deu a dica do que pode fazer: aproximar-se da vizinha gigante China ("Vamos cruzar essa ponte quando for a hora"), além de criticar a aproximação dos EUA com a rival histórica, a Índia.
Abbottabad, a cidade em que Bin Laden foi morto, sedia a principal academia militar do país. O ISI, o serviço secreto paquistanês, também tem sede próxima da casa. "Onde há um deficit de confiança, haverá problemas em compartilhar inteligência", disse Gilani.

EMBAIXADOR
É uma resposta às fortes críticas externas ao papel paquistanês no caso. Ontem, o premiê indiano, Manmohan Singh, pediu investigação sobre o país em visita a Cabul, onde prometeu US$ 500 milhões em ajuda.
Mas também é resposta ao público interno: a oposição, liderada pelo ex-premiê Nawaz Sharif, já embarcou numa campanha contra o governo de Asif Ali Zardari.
O presidente e Gilani são do Partido do Povo Paquistanês, da mulher assassinada de Zardari, Benazir Bhutto.
Ambas as figuras têm peso importante e em 2012 haverá eleições parlamentares.
O Paquistão chamou ontem o embaixador americano, Cameron Munter, para prestar queixas formais pela violação de seu território no ataque do dia 2 (horário paquistanês, dia 1º no Brasil).
Segundo a imprensa local, Munter foi alertado pelo chanceler Salman Bashir de que não haveria tolerância a um novo incidente, no que ouviu um pedido de "desculpe, mas foi inevitável".
Seja como for, ainda não é previsível que a crise saia da retórica. Desde os atentados de 11 de Setembro, os EUA deram cerca de US$ 20 bilhões a Islamabad.

NOVO ATENTADO
Na madrugada de hoje, pelo menos 68 pessoas morreram em um ataque duplo em um centro de treinamento militar em Charsadda, cidade que fica na conturbada área tribal do Paquistão.
A polícia investiga se o ataque, o maior desde que os EUA mataram Osama bin Laden em 1º de maio, está ligado à morte do terrorista.
Ao menos 30 pessoas ficaram feridas, a maioria jovens recrutas. O ataque foi feito por um suicida que explodiu uma bomba na hora em que os recrutas do Corpo de Fronteira saíam do quartel.
O corpo é uma unidade paramilitar comandada pelo Exército e atua exclusivamente nas áreas fronteiriças com o Afeganistão.


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