São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2007

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Palestinos têm dia de guerra civil em Gaza

Após confrontos que deixaram 27 mortos, Fatah decide suspender sua participação no governo de união com o Hamas

Abbas e Haniyeh, rivais no malsucedido gabinete, pedem calma; premiê de Israel defende o envio de força internacional a Gaza

Mahmud Hams/France Presse
Palestinos examinam apartamento de Jamal Abu al Jadian, das Brigadas dos Mártires de Al Aqsa, ligadas ao Fatah, morto segunda em Beit Lahia, faixa de Gaza

DA REDAÇÃO

Os palestinos viveram ontem um dia de guerra civil, com a intensificação dos confrontos entre milícias ligadas ao Hamas e ao Fatah, as facções que dividem o poder. Pelo menos 27 pessoas foram mortas em diversos ataques na faixa de Gaza -que tiveram como alvo até os líderes dos grupos rivais.
No começo da manhã, membros da Guarda Presidencial, unidade de elite do Fatah que está sendo treinada pelos EUA, lançaram granadas contra a casa do premiê Ismail Haniyeh, do Hamas, no campo de refugiados de Shati, em Gaza. Uma hora depois, militantes do Hamas dispararam morteiros contra o complexo onde fica o gabinete do presidente Mahmoud Abbas, do Fatah. Nenhum dos dois líderes estava nos locais atacados.
Após acusar o rival islâmico de "tentativa de golpe", o Fatah decidiu suspender sua participação no governo de união que formou com o Hamas há três meses. A decisão foi tomada pelo Comitê Central do Fatah, ao final das 48 horas mais sangrentas das últimas semanas, que deixaram pelo menos 47 mortos. Ficou decidido que o Fatah congelará sua participação no governo até que cessem as hostilidades em Gaza.
Durante a reunião, Abbas exortou "os líderes bem-intencionados do Hamas" a aceitarem um cessar-fogo. Pouco antes, Haniyeh fizera um apelo semelhante. Considerado um moderado no radical Hamas, o premiê pediu calma e a volta "imediata" à mesa de negociações com o grupo rival.

Desunião
O governo de união nacional, formado em Meca sob os auspícios do governo saudita, com nove ministros do Hamas e seis do Fatah, jamais foi capaz de cumprir a promessa de restaurar a ordem entre os palestinos, que ontem estiveram bem perto de uma guerra declarada.
"Parece que estamos no Iraque, não em Gaza", disse à agência Reuters Ammar, 40 anos e pai de seis filhos, enquanto tentava se proteger dos tiros trocados entre milícias rivais. "Franco-atiradores disparam dos telhados. Corpos mutilados são jogados nas ruas. Se isso não é guerra civil, o que é?"
A explosão atual de violência é o clímax de uma escalada iniciada em janeiro do ano passado, quando o Hamas venceu as eleições e conquistou o controle do Parlamento e do governo. O grupo fundamentalista, que ficou conhecido nos anos 90 pelo terrorismo contra Israel, passou a enfrentar um boicote internacional devido à recusa em reconhecer o direito de existência do Estado judeu.
Ao mesmo tempo, a disputa com o rival laico Fatah, que dominou a política palestina por quatro décadas, intensificou-se, transformando-se no ciclo de violência que já deixou mais de 600 mortos até ontem.
No ataque mais simbólico, o Hamas usou foguetes contra um quartel-general das forças de segurança do Fatah no norte de Gaza. Após tomarem a instalação, os radicais festejaram uma vitória considerada fundamental na disputa pelo controle físico de Gaza.
O chefe da equipe de mediação enviada pelo Egito a Gaza, coronel Burhan Hamad, disse que nenhum dos dois lados respondeu a seus apelos por um cessar-fogo. "Eles deveriam se envergonhar. Estão matando pessoas. Estão matando o futuro", lamentou Hamad.
Embora a violência tenha virado rotina em Gaza, os confrontos de ontem parecem ter marcado uma virada na luta, com as forças do Hamas avançando para tomar posições do Fatah e decidir a disputa. Um sobrevivente do ataque à base do Fatah admitiu a derrota.
"Pedimos reforço, que nunca chegou. Era um foguete depois do outro", disse o policial, que se identificou como Amjad. Numa tentativa desesperada de virar o jogo, homens do Fatah atacaram a TV do Hamas, mas foram repelidos à bala.
O premiê de Israel, Ehud Olmert, defendeu o posicionamento de uma força internacional na fronteira entre Gaza e o Egito e manifestou preocupação com a possibilidade de o Hamas vencer a disputa com o Fatah, que, segundo ele, teria "implicações regionais".


Com agências internacionais e o "New York Times"


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