São Paulo, domingo, 13 de junho de 2010

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Dossiê da AIEA esvazia acordo com Brasil

DE JERUSALÉM

O mais recente relatório da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) indica que até o dia 1º de maio o Irã havia produzido 2.427 quilogramas de urânio levemente enriquecido.
É pouco mais que o dobro da quantidade prevista no acordo negociado por Brasil e Turquia no mês passado, pelo qual o governo iraniano entregaria 1.200 kg do material ao exterior em troca de 120 kg de combustível para abastecer o reator de pesquisa de Teerã.
O estoque anunciado pelo dossiê da agência atômica derruba a premissa do acordo bancado por Ancara e Brasília, de que o envio para o exterior era uma garantia de que, no curto prazo, Teerã não teria material em quantidade suficiente para produzir uma bomba atômica.
Por um motivo simples: na época em que a proposta original foi apresentada pela AIEA, a suposição era de que 1.200 kg equivaleriam a 75% do estoque iraniano.
Hoje, segundo o dossiê da agência, a quantidade incluída no acordo bancado por Brasil e Turquia equivale a menos de metade do estoque iraniano, pois Teerã continuou enriquecendo urânio após rejeitar a proposta original, em outubro.
Esse, aliás, foi o argumento usado pouco antes da votação das sanções na ONU por EUA, França e Rússia, ao rejeitar oficialmente o acordo na sede da AIEA.
O relatório da agência atômica indica que, mesmo se cumprisse com sua parte do pacto firmado com Brasil e Turquia, o Irã ainda ficaria com mais de mil quilos de urânio levemente enriquecido, que é mais ou menos a quantidade necessária, segundo os especialistas, para produzir uma bomba.
Trata-se, por enquanto, apenas de uma hipótese, já que para a produção do armamento é preciso urânio enriquecido a mais de 90%, um nível do qual o Irã ainda parece estar distante.
A preocupação ocidental é com as evidências de que o Irã começou a enriquecer urânio a 20%, o que significaria que está rumando para o nível necessário à bomba.
As atenções em torno do relatório da AIEA acabaram sendo ofuscadas porque no mesmo dia em que ele foi divulgado, 31 de maio, ocorreu o incidente envolvendo a Marinha de Israel e a frota humanitária Gaza Livre.
Foi o segundo dossiê da agência atômica sob a direção do japonês Yukiya Amano, que voltou a criticar o acesso restrito dado pelo Irã aos inspetores.
O Parlamento do Irã deve discutir a partir de hoje uma eventual redução da cooperação com a agência. Na sexta, porém, o presidente Mahmoud Ahmadinejad descartou romper a colaboração.


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