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PERÍODO NAZISTA
Igreja alemã admite ter adotado prática e vai contribuir com uma indenização de quase US$ 5 milhões
Igreja Protestante usou trabalho forçado
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
A Igreja Protestante Alemã admitiu ontem oficialmente que fez
uso de trabalho forçado durante o
período nazista e garantiu que fará uma contribuição para um fundo de compensação às vítimas do
Terceiro Reich.
O anúncio foi feito um dia após
a revelação da existência de um
campo de trabalhos forçados conduzido pela Igreja Evangélica de
Berlim e Brandemburgo, entre
1943 e 1945. O bispo Wolfgang
Huber reconheceu ontem que
"centenas de trabalhadores foram
submetidos pela igreja a indignas
condições de vida".
Nesse campo eram mantidos
cerca de cem trabalhadores originários do Leste Europeu, que tinham como obrigação cavar covas e realizar serviços de manutenção de um cemitério. O campo
era mantido por pelo menos 26
comunidades protestantes e duas
católicas, que administravam o
local em conjunto. Os documentos investigados revelaram 47 nomes de pessoas, provavelmente
de origem russa, que trabalharam
como escravos no campo.
"A Igreja Protestante e seu departamento de serviços sociais fizeram uso de trabalho forçado.
Foi um ato de cumplicidade com
um regime baseado na força, que
estava completamente fora do
império da lei. Nós aceitamos essa
culpa", declarou ontem Manfred
Kock, presidente do conselho da
igreja.
A instituição anunciou que fará
uma doação de 10 milhões de
marcos (US$ 4,9 milhões) para o
fundo de auxílio às vítimas do nazismo, recentemente formado pelo governo alemão em parceria
com a iniciativa privada.
O bispo Huber declarou: "Infelizmente, participamos da cegueira geral que se abateu sobre a sociedade alemã naquele período
em relação aos trabalhos forçados. Não podemos nos esquecer
de que as organizações eclesiásticas também possuem serviços
econômicos. Devem sujeitar-se
também às mesmas obrigações
econômicas".
O governo alemão, acuado por
centenas de ações movidas por representantes das vítimas do regime de Adolf Hitler, aprovou a
criação de um fundo de compensação que pretende arrecadar
-entre o governo e a iniciativa
privada- 10 bilhões de marcos
(US$ 4,86 bilhões).
As pessoas forçadas a trabalhar
para o governo alemão durante o
período nazista ocuparam, em
sua maioria, postos na indústria
bélica. Existem também registros
de pessoas que foram forçadas a
trabalhar com serviços domésticos. Suspeitava-se do envolvimento da Igreja Protestante nesse
processo, mas só ontem ocorreu a
confirmação.
"A amarga verdade é que a igreja demorou 55 anos para admitir
o lado negro de seu passado", disse Hartwig Berger, membro do
Partido Verde, que compõe a coalizão do governo alemão. "Queremos que a Igreja Católica, após refletir sobre seu papel no período,
também possa fazer uma contribuição ao fundo", disse Berger.
Um porta-voz do Vaticano disse que, enquanto não forem apresentados casos específicos nos
quais a Igreja Católica tenha feito
uso de trabalho forçado, não haverá plano de contribuição ao
fundo de compensação às vítimas
do nazismo.
A questão é delicada para a igreja. Durante o período, Hitler exerceu grande pressão sobre as igrejas e prendeu em campos de concentração muitos sacerdotes contrários ao seu regime. Outros colaboraram com o ditador, iniciando o plano de Hitler de criar uma
"Igreja Nacional", cuja ideologia
se apoiaria na doutrina nazista.
Como a contribuição ao fundo é
voluntária, muitas empresas que
deveriam contribuir com o fundo
de compensação às vítimas do nazismo, por terem se utilizado de
trabalho escravo durante o período, não doaram nada ainda. Com
isso, o fundo que esperava arrecadar quase US$ 5 bilhões, não conseguiu ainda reunir nem mesmo
US$ 1,5 bilhão.
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