São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2000


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PERÍODO NAZISTA
Igreja alemã admite ter adotado prática e vai contribuir com uma indenização de quase US$ 5 milhões
Igreja Protestante usou trabalho forçado

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Igreja Protestante Alemã admitiu ontem oficialmente que fez uso de trabalho forçado durante o período nazista e garantiu que fará uma contribuição para um fundo de compensação às vítimas do Terceiro Reich.
O anúncio foi feito um dia após a revelação da existência de um campo de trabalhos forçados conduzido pela Igreja Evangélica de Berlim e Brandemburgo, entre 1943 e 1945. O bispo Wolfgang Huber reconheceu ontem que "centenas de trabalhadores foram submetidos pela igreja a indignas condições de vida".
Nesse campo eram mantidos cerca de cem trabalhadores originários do Leste Europeu, que tinham como obrigação cavar covas e realizar serviços de manutenção de um cemitério. O campo era mantido por pelo menos 26 comunidades protestantes e duas católicas, que administravam o local em conjunto. Os documentos investigados revelaram 47 nomes de pessoas, provavelmente de origem russa, que trabalharam como escravos no campo.
"A Igreja Protestante e seu departamento de serviços sociais fizeram uso de trabalho forçado. Foi um ato de cumplicidade com um regime baseado na força, que estava completamente fora do império da lei. Nós aceitamos essa culpa", declarou ontem Manfred Kock, presidente do conselho da igreja.
A instituição anunciou que fará uma doação de 10 milhões de marcos (US$ 4,9 milhões) para o fundo de auxílio às vítimas do nazismo, recentemente formado pelo governo alemão em parceria com a iniciativa privada.
O bispo Huber declarou: "Infelizmente, participamos da cegueira geral que se abateu sobre a sociedade alemã naquele período em relação aos trabalhos forçados. Não podemos nos esquecer de que as organizações eclesiásticas também possuem serviços econômicos. Devem sujeitar-se também às mesmas obrigações econômicas".
O governo alemão, acuado por centenas de ações movidas por representantes das vítimas do regime de Adolf Hitler, aprovou a criação de um fundo de compensação que pretende arrecadar -entre o governo e a iniciativa privada- 10 bilhões de marcos (US$ 4,86 bilhões).
As pessoas forçadas a trabalhar para o governo alemão durante o período nazista ocuparam, em sua maioria, postos na indústria bélica. Existem também registros de pessoas que foram forçadas a trabalhar com serviços domésticos. Suspeitava-se do envolvimento da Igreja Protestante nesse processo, mas só ontem ocorreu a confirmação.
"A amarga verdade é que a igreja demorou 55 anos para admitir o lado negro de seu passado", disse Hartwig Berger, membro do Partido Verde, que compõe a coalizão do governo alemão. "Queremos que a Igreja Católica, após refletir sobre seu papel no período, também possa fazer uma contribuição ao fundo", disse Berger.
Um porta-voz do Vaticano disse que, enquanto não forem apresentados casos específicos nos quais a Igreja Católica tenha feito uso de trabalho forçado, não haverá plano de contribuição ao fundo de compensação às vítimas do nazismo.
A questão é delicada para a igreja. Durante o período, Hitler exerceu grande pressão sobre as igrejas e prendeu em campos de concentração muitos sacerdotes contrários ao seu regime. Outros colaboraram com o ditador, iniciando o plano de Hitler de criar uma "Igreja Nacional", cuja ideologia se apoiaria na doutrina nazista.
Como a contribuição ao fundo é voluntária, muitas empresas que deveriam contribuir com o fundo de compensação às vítimas do nazismo, por terem se utilizado de trabalho escravo durante o período, não doaram nada ainda. Com isso, o fundo que esperava arrecadar quase US$ 5 bilhões, não conseguiu ainda reunir nem mesmo US$ 1,5 bilhão.


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