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RELATÓRIO
EUA querem impor sanções econômicas em 2003 contra países que não tomem medidas efetivas contra prática
Tráfico humano atinge 700 mil por ano
Associated Press
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Vítima de tráfico de mulheres, em Moscou |
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
O tráfico de seres humanos,
chamado pelos EUA de "forma
moderna de escravidão", atinge
ao menos 700 mil pessoas por ano
no mundo, de acordo com um relatório divulgado ontem pelo Departamento de Estado norte-americano.
O documento foi preparado em
resposta a uma lei aprovada em
outubro que determina a imposição de sanções econômicas em
2003 contra países que não tomem medidas efetivas contra traficantes e para proteger vítimas.
"É incompreensível que o tráfico de seres humanos aconteça no
século 21. Incompreensível, mas é
verdade, realmente verdade", declarou Colin Powell, secretário de
Estado dos EUA.
"Nosso relatório deixa extremamente claro que há tráfico em todo o mundo, tanto em países desenvolvidos quanto em países em
desenvolvimento, até nos EUA",
afirmou. Entre 40 mil e 50 mil das
vítimas acabam nos EUA.
Ouvido pela Folha, um funcionário do Departamento de Estado
dos EUA disse, por telefone, que,
embora o relatório fale em 700 mil
pessoas, o número deve ser ainda
maior, e não há estimativas sobre
o número de brasileiros vítimas
do tráfico de seres humanos.
O relatório diz que "o governo
do Brasil ainda não atende totalmente a padrões mínimos" recomendados pelos EUA, como investigações, proteção às vítimas,
extradição de criminosos e medidas legais para punir funcionários
do governo que tenham defendido medidas brandas demais contra traficantes de seres humanos
ou "desculpado" os criminosos.
Afirma, no entanto, que o governo "está promovendo esforços
significativos para combater o
tráfico, apesar de restrições orçamentárias e falta de coordenação
entre os níveis federal e estadual".
O relatório diz que a corrupção
prejudica o combate à prática.
"O governo [brasileiro" investiga casos de tráfico ativamente.
Entre 1996 e 2000, tribunais condenaram 94 pessoas ou grupos
por tráfico", diz o documento.
Em geral, as vítimas do tráfico
são forçadas a trabalhar em construções, bordéis e em zonas rurais. Apenas a facilitação de entrada ilegal em um país não é considerada tráfico (veja a definição
norte-americana no quadro), a
não ser que envolva força, fraude
ou coerção.
Entre as causas, citam-se instabilidade política, razões econômicas e torpeza moral.
O documento lista 47 países que
não atendem aos padrões mínimos estabelecidos na lei, mas estão se esforçando para mudar.
Ainda, 23 países, como Grécia,
Turquia, Coréia do Sul e Arábia
Saudita, integram uma lista negra. A Grécia "ainda não reconheceu publicamente que o tráfico é
um problema". Na Arábia Saudita, parte dos trabalhadores é "forçada a exercer servidão doméstica
e explorada sexualmente".
Na Coréia do Sul, mulheres são
forçadas a aderir à indústria do
sexo nos EUA, no Japão e em países europeus.
Israel integra a lista como destino especialmente de pessoas de
"Brasil, Turquia, África do Sul e
Ásia", e centenas de mulheres da
Rússia e de ex-Repúblicas soviéticas são traficadas para o país e forçadas a se prostituir. Processos
contra traficantes são muito raros, segundo o Departamento de
Estado dos EUA. Mas a maioria
dos governos "está adotando medidas para combater essa prática
horrível", declarou Powell.
Mulheres e crianças
Segundo o relatório, as vítimas
são majoritariamente mulheres e
crianças, "coagidas ou sequestradas por criminosos que comercializam a miséria humana".
O relatório do Departamento de
Estado diz que muitas vítimas
"são submetidas a ameaças contra sua pessoa e a família, violência, condições de vida horríveis e
locais de trabalho perigosos... Algumas pessoas responderam a
anúncios acreditando que teriam
um bom trabalho a sua espera em
um novo país".
Segundo o documento, "a dificuldade em medir o escopo do
problema se deve ao fato de que
muitas vítimas vêm de países em
que as autoridades são uma fonte
de medo em vez de assistência, e
as vítimas em geral relutam em
procurar ajuda quando caem nas
mãos de traficantes. Em alguns
países, as próprias vítimas são
processadas e detidas por violar a
imigração ou outras leis. Além
disso, traficantes podem ameaçar
vítimas ou suas famílias".
Powell admitiu que o tráfico
ocorre dentro do território norte-americano. Paula Dobriansky,
subsecretária de Estado para Assuntos Globais, disse que "medidas corretivas" precisam ser tomadas nos EUA, que não se incluem no relatório. Segundo ela,
isso é necessário para "salvaguardar os vulneráveis, punir os traficantes, cuidar das vítimas e prevenir mais tráfico".
Com agências internacionais
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