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ORIENTE MÉDIO
Após ataques contra colonos, tanques israelenses voltam a bombardear Cisjordânia e ocupam área em Nablus
Trégua Israel-ANP está perto do colapso
PHIL REEVES
DO "THE INDEPENDENT", EM JERUSALÉM
Tanques israelenses dispararam
ontem contra a cidade de Nablus,
na Cisjordânia, e o Exército assumiu temporariamente o controle
sobre um monte palestino durante um dia de violência que pôs à
beira do colapso o cessar-fogo vigente há um mês.
Testemunhas afirmaram que
mais de dez mísseis atingiram
dois postos policiais locais, matando um integrante das forças
palestinas de segurança. A operação marcou a retomada das ofensivas com armas pesadas em retaliação a ataques palestinos.
A região parece avançar em direção aos piores dias da nova Intifada, o levante palestino contra a
ocupação israelense, iniciada em
28 de setembro. Ao menos 479
palestinos, 13 árabes israelenses e
142 israelenses foram mortos desde então.
Os acontecimentos de ontem
evidenciaram a ineficácia do cessar-fogo e a erosão das propostas
do relatório Mitchell, realizado
por uma comissão internacional
liderada pelos EUA. Incidentes se
sucederam rapidamente, aumentando a temperatura local e aprofundando as especulações sobre a
iminência de um conflito de larga
escala entre Israel e a Autoridade
Nacional Palestina (ANP) de Iasser Arafat.
Entre os acontecimentos que levaram à atual situação estão uma
tentativa palestina de explodir
uma bomba na cidade israelense
de Afula, o assassinato de uma
mulher palestina num táxi por
soldados de Israel, as demolições
de casas de árabes pelas autoridades israelenses e as prolongadas
batalhas na faixa de Gaza.
Os choques de ontem começaram quando palestinos feriram
dois colonos israelenses a tiros
-um deles na cabeça- quando
passavam de carro nos arredores
de um assentamento perto de Nablus. O bebê do casal, de seis meses, ficou ferido pelos estilhaços
de vidro.
Colonos furiosos, que há muito
têm pedido que o premiê Ariel
Sharon libere todo o poder do
Exército contra os palestinos, reagiram apedrejando carros e queimando oliveiras de palestinos.
Logo em seguida, palestinos balearam um israelense em Kiryat
Arba, perto de Hebron (sul da
Cisjordânia), desencadeando
mais violência.
Israel revidou com o bombardeio a Nablus, um dos centros da
resistência à ocupação israelense.
Um policial morreu, e Israel tomou um monte estratégico na
área -o local de onde teriam sido
efetuados disparos.
Israel continua a usar tanques
na faixa de Gaza, mas reduziu
bastante suas ofensivas com mísseis na Cisjordânia desde o acordo de trégua, firmado em 13 de junho sob mediação dos EUA. A
ação de ontem marcou, portanto,
um novo golpe contra as iniciativas diplomáticas.
David Satterfield, assessor no
setor de Oriente Médio do Departamento de Estado americano,
viajou ontem para Israel e deve
pressionar Arafat a promover
uma semana de violência "significativamente reduzida". Depois
dela, os EUA pretendem se voltar
para o premiê Sharon e exortá-lo
a aplicar a próxima etapa do relatório Mitchell -as "medidas de
construção de confiança", entre
elas o congelamento da atividade
de expansão dos assentamentos.
Sharon tem afirmado que não
negociará "sob fogo" e exige o fim
de todos os ataques palestinos
-uma posição vista pelos EUA
como irreal.
"Se os EUA não se dispuserem a
fazer Sharon implementar o relatório Mitchell, a situação poderá
ficar bem pior", disse uma autoridade palestina. "Ele precisa entender que Arafat já pediu o fim
da violência, mas que não controla totalmente o [grupo extremista
islâmico" Hamas, outros militantes nem as áreas dos territórios
ocupados sob controle militar israelense."
As discussões sobre o relatório
Mitchell pareciam meio distantes
da realidade ontem. As relações
entre os dois lados estão cada vez
piores, como ficou demonstrado
anteontem no fim abrupto de
mais uma reunião de cooperação
na área de segurança.
Guerra total
Líderes políticos e militares confirmaram rumores de que Israel
debate abertamente a possibilidade de uma invasão total da faixa
de Gaza e da Cisjordânia.
Segundo a revista "Foreign Report", o Exército de Israel preparou um plano para aumentar o
uso da força contra os palestinos e
realizar uma ofensiva total de um
mês que poderia provocar a morte de 300 israelenses e milhares de
palestinos.
"O Exército tem planos para cobrir todas as contingências, mas o
que importa são as decisões do
gabinete", disse Raanan Gissin,
porta-voz de Sharon. "Há três opções: render-se a Arafat, executar
esse plano -de ocupar os territórios- ou continuar o curso atual
de restrição e autodefesa. O governo está decidido a buscar a
paz, mas a situação atual não pode durar eternamente."
O plano de ataque começaria
com ataques aéreos de aeronaves
F-16 e F-15 sobre Ramallah (Cisjordânia) e a faixa de Gaza ou com
bombardeios intensos de artilharia pesada contra instalações da
ANP, seguidos pela entrada de 30
mil soldados de Israel. Segundo
os cálculos, o Exército teria baixas
de 1%. Os 40 mil integrantes das
forças palestinas seriam presos se
resistissem.
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