São Paulo, sexta-feira, 13 de julho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ORIENTE MÉDIO

Após ataques contra colonos, tanques israelenses voltam a bombardear Cisjordânia e ocupam área em Nablus

Trégua Israel-ANP está perto do colapso

PHIL REEVES
DO "THE INDEPENDENT", EM JERUSALÉM

Tanques israelenses dispararam ontem contra a cidade de Nablus, na Cisjordânia, e o Exército assumiu temporariamente o controle sobre um monte palestino durante um dia de violência que pôs à beira do colapso o cessar-fogo vigente há um mês.
Testemunhas afirmaram que mais de dez mísseis atingiram dois postos policiais locais, matando um integrante das forças palestinas de segurança. A operação marcou a retomada das ofensivas com armas pesadas em retaliação a ataques palestinos.
A região parece avançar em direção aos piores dias da nova Intifada, o levante palestino contra a ocupação israelense, iniciada em 28 de setembro. Ao menos 479 palestinos, 13 árabes israelenses e 142 israelenses foram mortos desde então.
Os acontecimentos de ontem evidenciaram a ineficácia do cessar-fogo e a erosão das propostas do relatório Mitchell, realizado por uma comissão internacional liderada pelos EUA. Incidentes se sucederam rapidamente, aumentando a temperatura local e aprofundando as especulações sobre a iminência de um conflito de larga escala entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina (ANP) de Iasser Arafat.
Entre os acontecimentos que levaram à atual situação estão uma tentativa palestina de explodir uma bomba na cidade israelense de Afula, o assassinato de uma mulher palestina num táxi por soldados de Israel, as demolições de casas de árabes pelas autoridades israelenses e as prolongadas batalhas na faixa de Gaza.
Os choques de ontem começaram quando palestinos feriram dois colonos israelenses a tiros -um deles na cabeça- quando passavam de carro nos arredores de um assentamento perto de Nablus. O bebê do casal, de seis meses, ficou ferido pelos estilhaços de vidro.
Colonos furiosos, que há muito têm pedido que o premiê Ariel Sharon libere todo o poder do Exército contra os palestinos, reagiram apedrejando carros e queimando oliveiras de palestinos. Logo em seguida, palestinos balearam um israelense em Kiryat Arba, perto de Hebron (sul da Cisjordânia), desencadeando mais violência.
Israel revidou com o bombardeio a Nablus, um dos centros da resistência à ocupação israelense. Um policial morreu, e Israel tomou um monte estratégico na área -o local de onde teriam sido efetuados disparos.
Israel continua a usar tanques na faixa de Gaza, mas reduziu bastante suas ofensivas com mísseis na Cisjordânia desde o acordo de trégua, firmado em 13 de junho sob mediação dos EUA. A ação de ontem marcou, portanto, um novo golpe contra as iniciativas diplomáticas.
David Satterfield, assessor no setor de Oriente Médio do Departamento de Estado americano, viajou ontem para Israel e deve pressionar Arafat a promover uma semana de violência "significativamente reduzida". Depois dela, os EUA pretendem se voltar para o premiê Sharon e exortá-lo a aplicar a próxima etapa do relatório Mitchell -as "medidas de construção de confiança", entre elas o congelamento da atividade de expansão dos assentamentos.
Sharon tem afirmado que não negociará "sob fogo" e exige o fim de todos os ataques palestinos -uma posição vista pelos EUA como irreal.
"Se os EUA não se dispuserem a fazer Sharon implementar o relatório Mitchell, a situação poderá ficar bem pior", disse uma autoridade palestina. "Ele precisa entender que Arafat já pediu o fim da violência, mas que não controla totalmente o [grupo extremista islâmico" Hamas, outros militantes nem as áreas dos territórios ocupados sob controle militar israelense."
As discussões sobre o relatório Mitchell pareciam meio distantes da realidade ontem. As relações entre os dois lados estão cada vez piores, como ficou demonstrado anteontem no fim abrupto de mais uma reunião de cooperação na área de segurança.

Guerra total
Líderes políticos e militares confirmaram rumores de que Israel debate abertamente a possibilidade de uma invasão total da faixa de Gaza e da Cisjordânia.
Segundo a revista "Foreign Report", o Exército de Israel preparou um plano para aumentar o uso da força contra os palestinos e realizar uma ofensiva total de um mês que poderia provocar a morte de 300 israelenses e milhares de palestinos.
"O Exército tem planos para cobrir todas as contingências, mas o que importa são as decisões do gabinete", disse Raanan Gissin, porta-voz de Sharon. "Há três opções: render-se a Arafat, executar esse plano -de ocupar os territórios- ou continuar o curso atual de restrição e autodefesa. O governo está decidido a buscar a paz, mas a situação atual não pode durar eternamente."
O plano de ataque começaria com ataques aéreos de aeronaves F-16 e F-15 sobre Ramallah (Cisjordânia) e a faixa de Gaza ou com bombardeios intensos de artilharia pesada contra instalações da ANP, seguidos pela entrada de 30 mil soldados de Israel. Segundo os cálculos, o Exército teria baixas de 1%. Os 40 mil integrantes das forças palestinas seriam presos se resistissem.



Texto Anterior: Conflito: Mandela anuncia nova iniciativa de paz entre tutsis e hutus de Burundi
Próximo Texto: "Arafat não é o problema", diz chanceler Peres
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.