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São Paulo, domingo, 13 de julho de 2003

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INVASÃO DO SUL

Para antropólogo, onda migratória iniciada nos anos 70 é a responsável por mudanças comportamentais

Hispânicos nos EUA vivem duas realidades

DE WASHINGTON

Existem dois tipos de hispânicos vivendo nos Estados Unidos. Os mais educados, ricos e estabelecidos no país há duas ou três gerações, e uma nova leva, que vem chegando ao país desde os anos 70, fugida dos ciclos de crise econômica da América Latina e, principalmente, do México.
Esse segundo grupo ganha bem menos, tende a ter mais filhos e produz adolescentes que abandonam com mais facilidade a escola e engravidam de forma precoce, perpetuando a mesma situação.
Segundo José Limón, diretor do Center for Mexican-American Studies, da Universidade do Texas, as duas fases do fluxo migratório de hispânicos para os EUA criaram ""duas sociedades distintas dentro da mesma".
Leia, a seguir, trechos da entrevista que Limón, professor de antropologia em Austin, concedeu à Folha. (FERNANDO CANZIAN)

Folha - Qual o impacto dos atuais fluxos de imigração hispânica nos EUA? Ela tende a continuar firme?
José Limón -
Mais recentemente, tem chegado muito mais gente do México e também de outros países da América Latina. Os fluxos continuam. É uma imigração que não se antecipava e que começou nos anos 70, com raízes estabelecidas no estado geral da economia e da política interna desses países.
O que temos agora por conta disso, principalmente no caso do México, são duas sociedades dentro de uma mesma.
A primeira é composta de hispânicos e mexicano-americanos que já estão aqui há anos, há duas ou três gerações, e que atingiram um certo êxito. E há uma outra, dos que vieram a partir dos anos 70. Essa segunda onda ainda persiste e, na maioria dos casos, é formada por pessoas que chegam em uma situação ilegal e trazendo um histórico de pobreza extrema.
Ao longo dos anos, por essas características, esses novos imigrantes constituíram uma sociedade totalmente diferente, em termos sociais e comportamentais, em relação à primeira.
No caso dos mexicanos, dos 12 milhões de pessoas vivendo nos EUA, cerca de 2 milhões se encaixam nesse segundo grupo.
Essas duas sociedades se conhecem, não estão totalmente isoladas uma da outra, mas não se misturam muito. Em alguns casos, a primeira ajuda a segunda na obtenção de empregos.

Folha - Qual o impacto da população hispânica sobre a política norte-americana?
Limón -
Os hispânicos tradicionalmente se identificam mais com o Partido Democrata. De uns anos para cá, no entanto, os democratas vêm achando que não precisam fazer mais nada para conquistar esses votos. De maneira correta e oportunista, os republicanos vêm procurando conquistar esse espaço.
Há dois pontos de vista dentro do Partido Republicano. De um lado, há os muitos incomodados com a quantidade de mexicanos e hispânicos que chegam aos EUA e que antecipam uma espécie de ""corrupção social" do país.
Mas entre os republicanos mais comerciantes, que reconhecem nos hispânicos uma mão-de-obra que convém, o quadro é totalmente diferente. Eles sabem que esses imigrantes trabalham por muito menos no setor agrícola e na construção, por exemplo, onde há muitos ilegais atuando sem serem incomodados.


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