São Paulo, terça-feira, 13 de julho de 2004

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AMÉRICA DO SUL

Sai ordem de prisão contra acusados de participar da repressão coordenada no continente; ex-ministro se entrega

Juiz argentino acusa 12 por Operação Condor

Enrique Garcia Medina/Associated Press
Policiais levam o general Harguindeguy para prisão domiciliar


CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

O juiz federal Jorge Urso decretou ontem a prisão de dois ex-ministros e dez militares da última ditadura na Argentina (1976-83).
Eles são acusados de participar da Operação Condor -coordenação dos serviços de informação e de repressão das ditaduras militares sul-americanas contra os grupos de esquerda nos anos 70 e 80. Dez outros acusados já estavam presos por outros crimes ligados ao regime de exceção.
Ao tomar conhecimento da ordem, o principal acusado, o general Albano Harguindeguy, ministro do Interior do último regime militar, se apresentou à Justiça. Ele não se pronunciou. Harguindeguy vai cumprir prisão domiciliar por ter mais de 70 anos.
O ex-ministro admitiu ter participado da operação num documentário para a TV francesa. "Fizemos o que era necessário, em cumprimento do dever militar", declarou ele no filme.
"As Forças Armadas devem dizer ao povo argentino: nós o livramos de ser um país marxista. Reconheço que cometemos erros. Se não cometêssemos erros, seríamos deuses. Que chato seria um país governado pelos deuses, sem pecado, sem delito."
A determinação de Urso também inclui o ex-ministro do Planejamento Ramón Genaro Díaz Bessone. O ex-ditador Jorge Rafael Videla (1976-81) está preso sob acusação de participar da Operação Condor, entre outros crimes.
As investigações sobre a operação ganharam impulsou na Argentina com a anulação, no ano passado, de leis de anistia aos repressores e seus colaboradores sancionadas pelo primeiro governo civil pós-ditadura, o de Raúl Alfonsín (1983-89).
A Operação Condor foi revelada em 1992, quando o ex-preso político paraguaio Martin Almada encontrou em Assunção o chamado "Arquivo do Terror", com documentos sobre o plano repressivo sul-americano.
A discussão sobre a impunidade dos ex-ditadores latino-americanos ganhou força com o pedido de prisão do chileno Augusto Pinochet (1973-90), feito pelo juiz espanhol Baltazar Gazón, em 1998.
Na semana passada, uma corte de apelação chilena dispôs que Pinochet sabia e poderia ter impedido as ações da Operação Condor -que, segundo documentos disponíveis, tinha como um dos principais centros articuladores a Dina, a polícia política chilena.
Em maio, a Justiça chilena já havia cancelado a imunidade do general, o que permite que Pinochet seja também julgado no Chile.


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