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Sob polêmica, EUA reativam sua Quarta Frota
Em atividade desde ontem, comando atuará nas águas da América Latina e do Caribe, a princípio sem navio próprio
Ex-chefe do Comando Naval Sul disse que retomada envia "sinal certo" à região; unidade terá 120 militares em quartel na Flórida
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A MAYPORT (FLÓRIDA)
Em meio a polêmica, desconforto e desconfiança em diversos países da América Latina,
os Estados Unidos reativaram
ontem sua Quarta Frota, comando naval que será responsável por todas as embarcações
militares do país em atividade
nas águas da região e do Caribe.
Diferentemente de frotas
ofensivas como a Quinta, em
atividade no golfo Pérsico, a
princípio a Quarta não terá embarcações próprias. No momento de sua reativação, no entanto, havia nove embarcações
em atividade naquela parte do
Atlântico e do Pacífico -quatro
em missões antitráfico, as outras em treinamentos ou missões humanitárias.
A frota contará com um efetivo de 120 militares, alocados
em seu novo quartel-general,
na base naval de Mayport, no
Norte da Flórida, segundo o
porta-voz, tenente Myers Vasquez. O local já funciona de base para outras divisões das Forças Armadas norte-americanas
e é porto de 22 embarcações
militares -cruzadores, destróieres e fragatas- e seis esquadrões de helicópteros.
A volta foi marcada por cerimônia de passagem da chefia
do Comando Naval Sul do contra-almirante James Stevenson, que sai da ativa, a seu colega de patente Joseph Kernan. A
escolha não é usual: o militar de
53 anos não fez carreira na Marinha convencional, mas nos
SEAL, a força de operações especiais de elite, mobilizada em
ações antiterrorismo e combates não-convencionais.
"Ele é o homem certo para as
tarefas desafiadoras da região",
havia dito o almirante James
Stavridis, do Comando Sul
(Southcom), divisão responsável pelas atividades militares
na América Latina, à qual a
Quarta Frota responderá.
"Sinal certo"
Embora recentemente tenha
mudado de discurso, com ênfase na questão humanitária e
combate ao tráfico na região,
no anúncio da volta da frota,
adiantado pela Folha na edição
de 26 de abril, o governo norte-americano havia adotado uma
posição ofensiva.
Em depoimento no Congresso, nos dias 6 e 17 de março,
Stavridis havia defendido que
um porta-aviões nuclear fosse
incorporado ao comando naval
reativado -em conversa ontem com repórteres, ele disse
que não tinha certeza de ter dito isso e que uma embarcação
tão grande não faria sentido ali.
Em conversa com blogueiros
militares no mês seguinte, James Stevenson, então chefe do
Comando Naval Sul, disse que
a reativação mandaria "o sinal
certo, mesmo para as pessoas
que nós sabemos que não são
necessariamente nossos maiores apoiadores".
O governo norte-americano
se preocupa com o que considera uma "corrida às armas"
que seria estimulada pelo presidente venezuelano Hugo
Chávez, principal crítico dos
EUA na região e seu quinto
maior fornecedor de petróleo.
A preocupação foi explicitada
por Stavridis no mesmo depoimento ao Congresso.
Mas não só. O país observa
com interesse ações recentes
como a articulação de países da
América do Sul, liderados pelo
brasileiro Luiz Inácio Lula da
Silva, para criar um conselho
de defesa regional, e o aumento
da presença militar e comercial
da China e do Irã na região.
Some-se à equação a possibilidade cada vez maior de os
EUA perderem a base aérea
com que contam hoje na América do Sul, em Manta, no
Equador. O acordo expira em
2009, e o presidente Rafael
Correa, de esquerda, já disse
que não pretende renová-lo.
Acalmando ânimos
Diante da reação negativa ao
relançamento da Quarta Frota,
Washington destacou uma força diplomática-militar para
acalmar os ânimos, recalibrando o discurso do Pentágono.
O contra-almirante James
Stavridis visitou países da região e passou a ressaltar a prioridade humanitária da frota e o
fato de ela não contar com embarcações próprias. Foi seguido
pelo número um do Departamento de Estado para o hemisfério, Thomas Shannon.
No Brasil, o embaixador dos
EUA, Clifford Sobel, escreveu:
"Foi até sugerido que o restabelecimento da frota foi de alguma maneira relacionado com
descobertas recentes de petróleo. É importante deixar bastante claro: não é o caso".
A reação é compreensível,
dado o histórico militar dos
EUA na região, disse à Folha
Frank Mora, professor do National War College, de Washington. Mas a volta da frota,
defende, "é mais uma ação de
política interna do Pentágono
do que uma ameaça à região".
As atividades navais dos EUA
ao sul do México eram controladas até ontem pela Segunda
Frota, que cuida do Atlântico
todo. Com a definição de uma
frota numerada só para a América Latina, calcula Mora, a Marinha pode pleitear mais recursos para combate ao narcotráfico, a prioridade ali.
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