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ORIENTE MÉDIO
Governo israelense diz que país "não cumpriu o seu papel"; Embaixada do Brasil não envia representante
Israel pede desculpas em enterro de Balazs
SANDRA AISEN
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE ASHQUELON
O brasileiro Jorge Balazs, 69,
morto na última quinta-feira em
um atentado a bomba em Israel,
foi enterrado ontem na cidade de
Ashquelon (a 65 km de Tel Aviv).
Dezenas de pessoas acompanharam a cerimônia.
Flora Rosenbaum, 58, mulher
de Jorge, e Deborah Brando Balazs da Costa Faria, 43, filha de seu
primeiro casamento, não foram
ao enterro. Elas permanecem internadas no hospital Haddassah
Ein Karem, em Jerusalém.
Deborah e Flora passavam com
Jorge em frente à pizzaria Sbarro,
a caminho do Muro das Lamentações, em Jerusalém, na hora do
atentado, reivindicado pelo grupo
terrorista Hamas. Deborah sofreu
queimaduras no cabelo e nas pernas, além de ter tido dois estilhaços de vidro enterrados em uma
das pernas. Flora sofreu um corte
na cabeça, queimaduras e perdeu
parte dos dentes.
Rinat Balazs, 28, outra filha de
Jorge, acompanhava o grupo no
passeio, mas não ficou ferida.
O atentado causou a morte de 16
pessoas e feriu pelo menos 90.
"Havíamos pedido uma autorização especial do hospital para
que minha mãe pudesse ir ao cemitério", disse Michael Balazs, 30,
filho de Jorge e Flora. "No fim, o
médico achou melhor que ela não
saísse do hospital por causa de seu
estado ainda frágil."
Segundo Michael, que foi a Israel logo depois de saber da morte
do pai, a família resolveu sepultar
Jorge no país para que Flora, que
terá de permanecer internada por
três semanas, pudesse ir ao enterro. A cidade de Ashquelon foi escolhida porque vários parentes da
família moram na região.
"Não temos nenhuma família
em Jerusalém", afirmou Michael.
"Depois de seu casamento, meu
irmão Aran deve se mudar para
cá. Assim, ele vai poder tomar
conta da sepultura."
O casamento de Aran, 33, motivo pelo qual Jorge viajou a Israel
com Flora, Rinat e Deborah, estava previsto para acontecer amanhã. Mas a lei judaica prevê sete
dias de luto durante os quais a família do falecido deve ficar em casa, fazendo preces e recebendo a
atenção de parentes. O casamento
foi adiado para depois do luto.
Segundo Michael, haverá uma
cerimônia de casamento simples,
na sinagoga do hospital onde Flora está internada. De acordo com
a lei judaica, apesar de a família
estar enlutada, a cerimônia de casamento deve acontecer, pois a
data já estava marcada antes da
morte. Mas o casamento não pode ser uma festa: música e danças
são proibidas.
"Era um dos momentos mais
felizes da vida do meu pai", disse
Michael. "É realmente uma tragédia. Mas nós não vamos deixar de
visitar Israel. Tenho certeza de
que minha mãe vai querer continuar a vir. Isso foi uma tragédia,
acontece. Se eu levasse um tiro em
São Paulo, as pessoas não fariam
tanto barulho."
Ainda segundo Michael, Flora
deve ficar hospitalizada por mais
três semanas e continuará o tratamento no Brasil. "Mas Deborah
deve sair do hospital em dois ou
três dias. Ela vai continuar o tratamento no Brasil, no Hospital Israelita Albert Einstein."
Durante o velório, que, segundo
a tradição judaica, ocorre momentos antes de o corpo ser sepultado, o clima era de tristeza e
incompreensão. Uma representante do governo de Israel fez um
discurso, em que pediu desculpas
à família.
Segundo ela, Israel pede e incentiva que judeus do mundo inteiro venham ao país em um momento em que a nação precisa de
apoio para enfrentar a crise pela
qual está passando, mas não conseguiu cumprir a sua parte, a de
proteger aqueles que vêm. "Jorge
Balazs veio a Israel para o casamento de seu filho, mas também
para dar apoio ao país", disse.
O prefeito da cidade de Ashquelon também discursou. O Ministério de Turismo de Israel enviou
um representante e flores. A Embaixada do Brasil em Israel, entretanto, não enviou representante
nem respondeu a telefonemas.
A maioria dos presentes era de
amigos de Jorge e Flora da época
em que eles viveram no kibutz
(fazenda coletiva) Broch Chail,
nos arredores de Ashquelon.
Segundo Ari Fisher, primo brasileiro de Jorge que mora há oito
anos em um kibutz nas colinas do
Golã, a última palavra que Jorge
disse antes de morrer foi "Deus".
"Falei com Deborah pelo telefone", disse. "Ela contou que, logo
depois da explosão, ela agarrou a
mão de Jorge. Ele apertou [a mão
dela" fortemente e disse "Deus"."
Fisher conta que Rinat, que estava acompanhando os pais e a irmã no passeio, se distanciara do
grupo para comprar um cartão de
loteria no momento da explosão
e, por isso, saiu ilesa. "Ela realmente tirou a sorte grande."
Segundo Avraham Shenfeld, secretário do Broch Chail, Jorge trabalhou muito tempo no kibutz
como cozinheiro. Sonia Niremberg, que conheceu Jorge e Flora
no kibutz, conta que, após chegar
a Broch Chail, Balazs foi estudar
em uma das melhores escolas de
chefs de Israel.
"Quando o filho mais velho,
Aran, tinha uns 12 anos, a família
decidiu voltar para o Brasil", disse
Sonia. "Acredito que um dos motivos da volta foi o fato de a filha
do primeiro casamento de Jorge,
Deborah, estar morando lá."
Segundo Fisher, após voltar ao
Brasil, Jorge continuou no ramo
da culinária. "Durante algum
tempo, Jorge foi dono do restaurante Pinel, nos arredores do Colégio Objetivo, em São Paulo."
Outra amiga dos tempos do
Broch Chail, Ruth Zimerman, disse que Jorge chegou ao kibutz no
início dos anos 60 e Flora, algum
tempo depois da Guerra dos Seis
Dias, em 1967. "Eles eram ótimas
pessoas, estavam totalmente integrados à sociedade do kibutz."
A família Balazs evitou o contato com a imprensa. Emissoras de
rádio e televisão israelenses enviaram repórteres ao enterro, mas
um policial disse que a família não
queria ser importunada.
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